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Aos 16 anos, ele ganhou o ouro na Olimpíada Internacional de Matemática

Matheus Alencar de Moraes tem diversas medalhas no currículo, não se considera obcecado pelos estudos, e nem sempre gostou de matemática

24 jul 2023 - 14h47
(atualizado em 2/8/2023 às 15h42)
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Matheus Alencar de Moraes nem sempre gostou de números. Quando estava no ensino fundamental, preferia as aulas de geografia e história. Achava o ensino de matemática burocrático, robótico, sem charme. Ninguém diria que, apenas alguns anos depois, o jovem cearense cruzaria o planeta para ganhar a medalha de ouro na Olimpíada Internacional de Matemática 2023, no Japão, com apenas 16 anos de idade.

Matheus Alencar de Moraes, de 16 anos, com sua medalha de ouro na Olimpíada Internacional de Matemática
Matheus Alencar de Moraes, de 16 anos, com sua medalha de ouro na Olimpíada Internacional de Matemática
Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução / Guia do Estudante

"Foi em 2019 que eu entendi que tinha um outro jeito de pensar a matemática, mais simples, mais divertido, focado em resolver problemas de forma criativa. Foi aí que eu entendi que não tinha que ser tudo de um jeito mecânico", diz Matheus, aluno do Colégio Farias Brito, em Fortaleza, que é especializado em preparar estudantes para Olimpíadas nacionais e internacionais de conhecimento. De fato, outros dois medalhistas deste ano saíram de lá.

Matheus é jovem, mas já tem um currículo invejável no mundo das competições. Em 2021 e 2022, foi medalhista de ouro na Olimpíada nacional. Em 2019, ganhou um bronze na Olimpíada Matemática Rioplatense, realizada todos os anos na Argentina. Na competição do Conesul, conseguiu a prata duas vezes: em 2021 e 2022. Mas nenhum feito foi tão grande quanto a medalha de ouro conquistada em julho deste ano na IMO, a Olímpiada Internacional de Matemática. Essa é a competição mais prestigiosa e tradicional do planeta, realizada desde 1959, e que reúne adolescentes do mundo todo que ainda não terminaram a escola.

O esquema da IMO não é para os fracos. São apenas seis perguntas, divididas em dois dias de prova. Cada participante tem quatro horas e meia para resolver três questões. "Toda vez que você começa uma prova e olha as questões, você tem certeza de que nunca vai conseguir achar as respostas. Mas se você ficar tempo o suficiente pensando, você acaba encontrando caminhos", explica o estudante. Quando saiu da prova deste ano, Matheus já sabia que havia ido bem. 

Estudar, sim. Ter uma vida, também

Para se preparar para esse tipo de desafio, Matheus estuda bastante. "Um pouco mais do que um estudante normal que está se preparando para o vestibular", diz. A diferença é que o foco dele está apenas na matemática - ele decidiu focar no vestibular apenas no ano que vem, quando estará no fim do Ensino Médio. "Ainda não sei o que quero cursar, só que vai ser algo de Exatas. Pode ser que seja Ciência da Computação, mas pode ser matemática também. O que eu sei é que quero continuar resolvendo problemas." Por enquanto, o menino diz que não vai prestar Enem, e sim focar na Fuvest, no ITA e nas vagas olímpicas da Unicamp. Poucos sabem, mas, todos os anos, a universidade paulista reserva 130 vagas para medalhistas de competições.

Matheus não é daqueles alunos bitolados. De conversa e riso fácil, o menino diz que tem uma vida "normal" - o que inclui saídas com os amigos, leitura de livros de fantasia ("Estou terminando "O Hobbit" agora, muito bom!), e a construção de mundos no Minecraft em seu XBox. "Eu já fui muito viciado em videogame. Hoje em dia, eu jogo mais no fim de semana", diz o estudante.

O time brasileiro no Japão.
O time brasileiro no Japão.
Foto: Arquivo pessoal/Reprodução / Guia do Estudante

Apesar da rotina de adolescente normal, a medalha de ouro do jovem acabou - involuntariamente - no centro de uma polêmica política na semana passada. O senador da República Eduardo Girão (Partido Novo) resolveu capitalizar sobre a conquista de Matheus e postou, sem autorização, uma foto do menino em seu Instagram. O subtexto seria o fato de o menino ter estudado em colégio militar antes de entrar na escola atual. O político, conservador e apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro, porém, foi rechaçado pela mãe de Matheus. Em um comentário no post, Marcele Alencar respondeu que seu filho "foi muito bem educado social e politicamente e, portanto, jamais apoiaria um governo militarizado, teocrático e anticiência". "Minha mãe ficou famosa kkk", riu Matheus sobre o episódio.

Para o futuro, quando se formar no colégio, o menino quer continuar no mundo das Olimpíadas - mas dessa vez como professor. "É comum que pessoas que participam de olimpíadas acabem ajudando outro estudante mais novos quando saem do Ensino Médio. Isso é algo que quero continuar fazendo: quero dar aulas, fazer eventos", diz. Sorte de quem for aluno de Matheus.

Guia do Estudante
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