Após críticas da direita, Inep diz que 86% das questões do Enem foram elaboradas no governo Bolsonaro
Presidente do Inep, Manuel Palácios, deu esclarecimentos sobre o Enem em reunião na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados
O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Manuel Palácios, rebateu críticas que apontam 'viés ideológico' sobre questões aplicadas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2023. Em debate na Câmara dos Deputados, Palácios apresentou dados que comprovam que 86% das questões foram elaboradas durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).
O representante do Inep corrobou as declarações apresentando dados sobre a elaboração das questões. Das 95 que foram aplicadas no 1ª dia do Enem, realizado no domingo, 5, 82 foram feitas entre 2020 e 2021. A seleção de autores citados na prova também é feita a partir de critérios técnicos e objetivos, explicou em reunião na Comissão de Educação realizada nesta quarta-feira, 8.
“O que se pede, no comando do item, é que ele manifeste, ao assinar a resposta correta, que compreendeu o argumento do outro”, justificou Palácios, frisando que o estudante não precisa concordar com a opinião dos autores, mas sim que compreendeu o texto.
O presidente do Inep foi chamado à casa para falar sobre o exame, que passou a ser alvo de ataques de políticos de direita e da bancada ruralista. A Frente Parlamente do Agronegócio, por exemplo, quer a anulação de questões da prova. Também pretende convocar o ministro da Educação, Camilo Santana (PT), para dar esclarecimentos.
Os ruralistas apontam que três questões, que abordaram os efeitos do agronegócio no Cerrado e na Floresta Amazônica e a nova corrida espacial feita por bilionários, apresentam 'viés ideológico' contrário ao agronegócio e ao capitalismo.
Palácios rebateu as críticas e negou que o Inep e o Enem demonizem o agronegócio. Segundo o presidente, os itens da prova são elaborados por professores da educação básica e universitários selecionados por meio de chamada pública, em edital publicado em 2020, durante o governo Bolsonaro.
“Nós estamos falando de professores que foram selecionados em 2020 e que estão exercendo essa atividade até hoje. Se há algum tipo de seleção enviesada, ela vem sendo enviesada há muito tempo. Na verdade, não há nada além da seleção pública de profissionais da educação por meio de critérios objetivos de currículo", afirmou Palácios à comissão.
Durante a reunião, parlamentares aliados a Bolsonaro voltaram a criticar o Exame. O deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) afirmou que vai punir a sua filha adolescente de 17 anos se ela tirar uma boa nota no Enem. Segundo o parlamentar, pessoas que tiverem um desempenho positivo na avaliação são "avatares ideológicos"
A deputada Adriana Ventura (Novo-SP) acredita que a prova trata de maneira pejorativa o agronegócio, que tem relevante papel no PIB do Brasil. “As provas têm muitas distorções, têm um viés ideológico absurdo”, criticou. “O que a gente viu nessa prova foi um desfiar de questões afrontando o agro e o capitalismo numa dimensão absurda e, na minha visão, maquiavélica”, complementou.
Entre os parlamentares que defenderam o Exame, a deputada Dandara (PT-MG) disse que a violência contra a mulher e contra os negros cresce, e o racismo estrutura as relações de poder: “Isso não são questões ideológicas, como se quer vender. São de fato constatações sociológicas da realidade brasileira." Ela também elogiou o tema da redação do Enem abordando a invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil.