Após décadas sem estudar, aposentado ingressa em faculdade pública de medicina
Aos 53 anos, Claudio Valente passou no vestibular da Unicamp e voltou a estudar. Essa é a segunda faculdade do estudante
Aposentar e envelhecer pode ser um fator de limitação para algumas pessoas, mas não para Claudio Valente, de 58 anos. O metalúrgico, que trabalhou na área por mais de três décadas, usou da aposentadoria para ingressar em Medicina, em um dos cursos mais concorridos do Brasil. Mas ele não queria qualquer faculdade, precisava ser pública, e após dois anos de preparação, entrou na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Em entrevista ao Terra, ele contou que desde adolescente simpatizou pela medicina, mas demorou mais de 50 anos para embarcar nessa, pois o curso é em tempo integral e ele precisava trabalhar. Na época, ele morava em São Bernardo do Campo, ABC de São Paulo, e como há muitas indústrias metalúrgicas na região, seguiu para essa área.
Então, Valente começou a cursar engenharia mecânica em uma faculdade de Santos. “Era o que propiciava uma oportunidade de crescimento”, explica. Ao longo do tempo, passou para a indústria automobilística, e seguiu com a vida.
“Não coube naquele momento para mim fazer cursinho, pensar em fazer uma faculdade de período integral, não trabalhar. Eu segui com o meu plano, e deu tudo muito certo na indústria e na minha vida”, explica.
O estudante chegou ao ponto que a vida ficou mais tranquila: tinha estabilidade financeira e estava prestes a se aposentar. Foi nesse momento que estudar medicina se tornou viável. Ele conseguiu se aposentar, pediu o desligamento da empresa na qual trabalhava e já ingressou no curso preparatório para o vestibular.
Esforço que deu certo
Valente precisou de dois anos para conseguir a vaga. Nesse período, dedicou intensamente aos estudos, já que seu desejo era a universidade pública. “No primeiro ano eu não consegui passar, porque foi um ano difícil, fazia muito tempo que eu já não estudava matérias de segundo grau”, relembra. Apesar disso, não faltou muito para que ele conseguisse se classificar, e isso o animou para continuar tentando.
“Não gerei expectativas muito altas no primeiro ano porque não tinha noção nunca tinha feito cursinho. [...] Quando eu vi que não fiquei tão longe, me deu uma expectativa diferente para o segundo ano, porque eu já tinha a visão do que tinha sido capaz de fazer”, afirma.
Foi assim que a aprovação veio no início de 2019, quando ele tinha 53 anos. Ele não passou só na Unicamp, mas também na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A partir disto, o estudante se mudou com a esposa e o filho mais novo para Campinas, no interior de São Paulo.
Agora, ele cursa o quinto ano de medicina, e se sente realizado. Ao ser questionado se realizou um sonho, Valente responde: “eu não sei bem caracterizar como um sonho”, reflete.
Para quem deseja cursar medicina, o estudante dá uma dica: focar em uma universidade, já que cada vestibular tem uma característica, e deixar as pressões de lado.