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'Aprendizado por projetos tem relação com um ensino mais aberto'

Para coordenadora do curso de Pedagogia do Singularidades, estrutura adequada e preparo de professores são imprescindíveis

28 out 2021 - 05h11
(atualizado às 14h57)
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De um lado, uma escola que instiga a autonomia e respeita os interesses pessoais das crianças. De outro, uma instituição engajada no ensino do que é importante para os estudantes serem aprovados nos processos seletivos mais disputados, dentro ou fora do Brasil. Qual é a melhor? É a que une as duas pontas, isto é, possibilita que os alunos se apropriem dos conteúdos de forma integrada, que faça sentido ao projeto de vida de cada um.

E que escola é essa? É a que está prevista pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC). "A BNCC conversa com um ensino mais aberto, com uma maior integração entre as áreas de conhecimento. Mas é preciso uma implementação bem-feita, com infraestrutura adequada e corpo docente preparado e com possibilidade de planejar", afirma Cristina Nogueira, coordenadora do curso de Pedagogia do Instituto Singularidades. Confira a entrevista completa:

Há uma divisão entre colégios mais liberais no trato com os estudantes na comparação com os ainda bastante voltados para os vestibulares. Isso se reflete no projeto pedagógico: os primeiros têm atuado com projetos e os mais tradicionais seguem uma estrutura de disciplinas mais rígida. Como pesar isso no momento da escolha?

O fato de uma escola estar organizada em disciplinas não significa que não pode trabalhar com projetos. A escola pode ser conteudista e trabalhar as disciplinas de forma bastante estanque ou ser baseada em disciplinas e organizada com projetos que valorizam o interesse dos estudantes. Mas, de modo geral, ainda é muito difícil fugir de uma estrutura que considere as disciplinas. Quanto mais a escolaridade avança, mais essa estrutura disciplinar fica evidente. Na educação infantil ou nos anos iniciais do fundamental, o ensino por projetos é mais natural e comum. No médio, é mais raro.

Por quê?

Porque a expectativa de muitos pais ainda é por uma formação conteudista que dê subsídios para o filho conseguir passar no vestibular. E as escolas atendem a esse interesse. Enquanto o vestibular for focado em conteúdo, isso vai ter impacto. Mas há alternativas. Existem escolas que, apesar de focadas no vestibular, permitem uma amplitude de experiências por meio de projetos que envolvem a área de interesse do jovem.

De toda forma, uma educação não conteudista é o que prevê a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Deveria ser um caminho natural...

Exato. A BNCC conversa com um ensino mais aberto. A partir da BNCC, as escolas precisam construir seu currículo prevendo uma maior integração entre as áreas de conhecimento, e a metodologia de projetos responde bem a essa proposta. Mas é preciso uma implementação bem-feita, com infraestrutura adequada e corpo docente preparado. Precisamos investir na formação do professor, mas também permitir que ele tenha possibilidade de planejar. Planejamento integrado exige um trabalho colaborativo. Isso envolve dar a ele tempo e, claro, envolve investimento. Mas é uma exigência colocada para que a metodologia funcione bem.

Você falou sobre interesse dos pais e isso nos leva a outra questão: o interesse dos filhos. Até que ponto o perfil do estudante deve ser considerado no momento da escolha da escola? A família de uma criança com habilidades artísticas pode deduzir que uma escola mais aberta é mais apropriada, por exemplo.

No ensino médio, é possível uma conversa com o jovem para a escolha da linha pedagógica da escola em que ele estudará. Na educação infantil e nos anos iniciais do fundamental, eu acredito que os pais precisam considerar o que querem como proposta, e permitir que o filho viva uma experiência na escola. No início da vida estudantil, não é muito produtivo tentar encaixar a criança dentro de um perfil. Aquilo ainda é uma experiência. A criança precisa ser acompanhada para daí, sim, ir construindo esse perfil de estudante.

Nesse caso, o que deve ser levado em conta na hora de escolher a escola?

O primeiro foco deve ser a proposta pedagógica. Mas como fazer isso? Avaliando pontos como material pedagógico, é bom pedir para olhar, entendendo como são organizadas as áreas do conhecimento, questionando sobre se tem lição de casa e, caso tenha, como é essa lição. Também é importante entender como o professor apresenta o conteúdo, isso é, qual a metodologia. Por fim, como é a sistemática da avaliação da escola.

Esses pontos variam de acordo com a etapa de educação também, não é?

Sim, absolutamente. Na educação infantil, as questões relacionadas à rotina são primordiais: como a escola lida com o brincar, quais são os horários de descanso, como é a alimentação, como é feita a integração da criança que está chegando. Já no fundamental, vale saber sobre o processo de alfabetização, as atividades extracurriculares, como é realizado o acompanhamento pedagógico se a criança apresentar dificuldades, como lidam com as questões de orientação para adolescência.

Um ponto importante nesta volta ao presencial tem sido a inserção de tecnologia. O que a família deve observar para o equilíbrio no uso desses recursos?

Os recursos digitais são componentes do cotidiano das pessoas e devem estar presentes na escola com intencionalidade pedagógica. É importante saber sobre a infraestrutura para o uso desses recursos (conectividade e equipamentos); o uso metodológico para a aprendizagem (como as atividade colaborativas entre os estudantes, criação e consumo de conteúdos); a segurança no uso dos recursos e plataformas digitais e como os estudantes são orientados em relação isso; e o acompanhamento do impacto no comportamento social e na aprendizagem (situações como isolamento, ciberbullying, desvio de atenção e foco, por exemplo).

Estadão
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