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Aprendizagem de Português e Matemática cai em todas as séries no Brasil após a pandemia

No 5º ano e também no ensino médio o desempenho voltou a níveis de 2013, segundo prova aplicada pelo MEC

16 set 2022 - 11h22
(atualizado às 12h17)
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Os estudantes brasileiros de 10 anos de escolas públicas e particulares voltaram à aprendizagem em Matemática que tinham em 2013 por causa da pandemia de covid-19. Atualmente eles não conseguem resolver problemas com adição e subtração de cédulas e moedas, em reais, por exemplo, ou que envolvam a metade e o triplo de números naturais.

Em Português, a regressão dos alunos de 5º ano foi menor. Em todas as séries avaliadas houve queda, tanto em Português quanto em Matemática. Os resultados foram divulgados nesta sexta-feira, 16, pelo Ministério da Educação (MEC) e se referem a uma prova feita em 2021 com 5,3 milhões de alunos do País, o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).

Esta é a principal avaliação de educação do Brasil e traz pela primeira vez o retrato oficial do retrocesso causado pelas escolas fechadas e ensino remoto. Apesar da importância, há ressalvas de especialistas por causa do índice de participação ter sido baixo justamente em virtude da crise da covid-19. "A realização foi um grande desafio, esforço conjunto entre União, Estados e municípios. A aplicação foi exitosa", disse o ministro da Educação, Victor Godoy.

A ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Maria Helena Guimarães de Castro, presente à coletiva no MEC, afirmou que, pelas peculiaridades da pandemia e diferenças entre redes, "os dados deste ano não poderiam ser comparados".

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O governo de Jair Bolsonaro é acusado por Estados e municípios de não ter dado qualquer ajuda para manter a educação funcionando nos momentos em que era necessário isolamento. Não houve coordenação federal, apoio técnico ou investimentos em equipamentos e conectividade do Ministério da Educação (MEC) para que as escolas públicas pudessem ensinar seus alunos de modo remoto. Os esforços foram feitos por Estados e cidades, com a ajuda de entidades do terceiro setor durante toda a pandemia.

"Os alunos que fizeram a prova são os que estavam mais vinculados com a escola, não tiveram de sair durante a pandemia para trabalhar. Houve então, de certa forma, uma seleção dos estudantes", diz Priscila Cruz, presidente executiva do Todos. Estudantes mais vulneráveis podem não ter participado. Entre os adolescentes, os que tiveram de trabalhar também podem não ter feito o Saeb porque já tinham abandonado a escola.

Para ela, o Ministério da Educação (MEC) errou ao tentar fazer um exame censitário e não um amostral neste ano de pandemia, como alertaram diversos especialistas no ano passado. Dessa forma a seleção dos alunos teria critério estatístico e não aleatório, como ocorreu. "A avaliação deste ano não pode ser comparada com outros, tudo foi excepcional por causa da pandemia", completa.

Outros países, como os Estados Unidos, divulgaram também recentemente resultados de retrocessos históricos na aprendizagem dos alunos durante a pandemia.

A nota no Saeb e a taxa de aprovação formam o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que também foi divulgado nesta sexta-feira, 16. O Estadão ouviu diversos especialistas que alertaram que o Saeb este ano expressa mais fielmente o resultado da educação brasileira do que o Ideb por causa das distorções causadas pelo período de pandemia. Isso porque ele considera somente a aprendizagem dos alunos. Mesmo assim, até o resultado do Saeb tem ressalvas.

Em 2020, por causa da covid-19 e com escolas fechadas, as redes de ensino foram incentivadas a não reprovar alunos pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). Era uma forma de evitar o abandono e também não prejudicar alunos que não poderiam ser bem avaliados estando em casa, em ensino remoto.

O procedimento se repetiu em 2021 em muitos lugares. Em 2019, antes da pandemia, a taxa de aprovação no Brasil era de 95,1% no 5º ano, de 89,9% no 9º ano e de 86,1% no ensino médio. Já em 2021 elas subiram respectivamente para 97,6%, 95,7% e 90,8%. Ao ser considerada na fórmula que calcula o Ideb, o índice sobe mesmo que a aprendizagem das crianças tenha piorado. Há Estados, como Sergipe, em que a diferença é extrema: de 75%, em 2019, para 98% de aprovação em 2021.

Especialistas explicam que redes de ensino que demoraram a voltar ao presencial podem ter esticado as políticas de aprovação automática por mais tempo, por causa da dificuldade em avaliar ou até em localizar alunos. Outras, que se esforçaram para sair do ensino remoto, podem ter reprovado mais. Para o Todos pela Educação a "situação atípica de distorção das taxas de aprovação dos estudantes durante a pandemia praticamente invalida comparações gerais sobre a evolução do Ideb nas redes".

Nas escolas privadas, apenas uma amostra dos alunos participa tradicionalmente. As provas foram feitas em novembro e dezembro de 2021 por 5,3 milhões de crianças e adolescentes do País.

Neste mês, os Estados Unidos divulgaram resultados dos seus exames nacionais que mostraram que a nota de Matemática dos alunos recuou ao que era registrado em 1999 também durante a pandemia de covid-19. Em Leitura (equivalente a Português no Brasil), o resultado foi semelhante ao que havia em 2004. O retrocesso foi classificado como "histórico" no País e o maior registrado em 30 anos.

Neste ano também foram feitas no Saeb provas de Ciências da Natureza e Ciências Humanas para o 9º ano e de alunos do 2º ano do fundamental passaram por exames de Português e Matemática. As notas variam sempre de 0 a 500 e expressam as habilidades e competências que os alunos conseguiram atingir em cada disciplina.

Este era o último ano para qual o MEC estipulou metas de aprendizagem lá em 2007 quando o Ideb foi criado. A partir do ano que vem, o índice precisa ser repensado, assim como o Saeb que deve considerar a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

Estadão
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