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Ataques e pichações racistas: escola pública em bairro nobre é alvo de preconceito

Escola Municipal de Educação Infantil Monteiro Lobato está localizada em Higienópolis, um dos bairros mais ricos de São Paulo

3 ago 2023 - 05h00
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Ataques e pichações racistas: o preconceito sofrido por escola pública em bairro nobre de SP
Ataques e pichações racistas: o preconceito sofrido por escola pública em bairro nobre de SP
Foto: Arquivo Pessoal

A Escola Municipal de Educação Infantil Monteiro Lobato, localizada em Higienópolis, bairro nobre na região central de São Paulo, sofre discriminações desde 2018. De lá para cá, são comuns ameaças e pichações racistas.

A diretora da instituição, Maria Claudia Fernandes, acredita que essas hostilidades são uma reação à decisão de promover na escola uma educação pública pautada na diversidade, nos direitos humanos e na equidade de gênero.

No ano de 2018, por exemplo, grupo de conservadores promoveram intimidações relacionadas a questões de equidade de gênero, desencadeadas após a divulgação de um vídeo feito pelo pai de um aluno. No ano de 2021, o vídeo voltou a circular de forma descontextualizada, em meio à polarização eleitoral, e a instituição sofreu ameaças mais uma vez.

Em junho deste ano, a unidade de ensino foi alvo de racismo. Em suas proximidades, postes foram pichados com frases como "viva voz é coisa de macaco", "escola sem educação, escola sem respeito, escola sem noção" e "pedagogia da violência". 

"Então, quer dizer, a gente incomoda, né?", concluiu a diretora em entrevista ao Terra.

Como resposta, a instituição promoveu um manifesto antirracista. No entanto, os cartazes que foram fixados nas grades da escola durante a ação foram rasgados durante um final de semana.

Manifesto Antirracista EMEI Monteiro Lobato
Manifesto Antirracista EMEI Monteiro Lobato
Foto: Arquivo Pessoal

No último dia 24, pichações semelhantes àquelas feitas em junho, mas não direcionadas diretamente à escola, surgiram novamente nos postes, que haviam sido pintados de branco durante o manifesto. 

"Nós saímos na rua com as crianças em um projeto que chamamos de 'travessia'. Então, estar nesse bairro é um privilégio do ponto de vista dos recursos que temos acesso. Temos muitas parcerias aqui no território, como com o Instituto Artium de Cultura, com o Paço das Artes, com o MAB [Museu de Arte Brasileira] com a biblioteca Monteiro Lobato, o SESC Consolação, e as escolas particulares do território", detalha a diretora.

Segundo Maria Claudia, essas parcerias com instituições culturais e de ensino permitem uma troca de conhecimento aos professores e proporcionam às crianças a oportunidade de visitar espaços culturais.

"A escola está num lugar que é muito visível, porque a gente transita nesse território com as crianças, porque a gente está dentro de um parque que tem grades vazadas para o que a escola está fazendo no terreno", acrescenta Maria Claudia, que lista entre as atividades desenvolvidas o estímulo à brasilidade, com cânticos e atividades ao ar livre.

Pichações nas intermediações de escola pública em bairro nobre de SP
Pichações nas intermediações de escola pública em bairro nobre de SP
Foto: Arquivo Pessoal

"A gente tem uma rede de atuação no território muito forte, não é verdade que as instituições do território não apoiam a escola. É muito forte essa relação até com as escolas particulares. Então, nós temos um acolhimento da comunidade. Mas tem algumas pessoas que acham que não estamos no lugar adequado. Do tipo assim: 'Por que a prefeitura coloca uma escola dentro do parque para economizar investimento, quando na verdade poderia ser mais um equipamento para a comunidade usufruir?'", descreve Maria Claudia Fernandes, diretora da escola.

"Quem é pessoa que ameaça crianças?"

A diretora Maria Claudia Fernandes se diz preocupada com a segurança da comunidade escolar, após os ataques recentes. Ela registrou um boletim de ocorrência e pediu apuração dos fatos por meio de um inquérito policial. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública informou ao Terra que no último dia 24 a representante da instituição de ensino esteve na delegacia e formalizou a representação criminal. As investigações estão sendo feitas pelo 4º Distrito Policial (Consolação), com diligências para esclarecer todos os detalhes relacionados aos fatos.

"Quem é essa pessoa que ameaça crianças? De fato, nós estamos ameaçados? É seguro? Estamos correndo perigo? É uma pergunta que a gente tem que fazer. As imagens de segurança, os vigilantes da rua conseguem identificar quem é essa pessoa [autora das pichações racistas]?", questiona a diretora.

Após o ocorrido, a diretora recebeu representantes da Secretaria Municipal de Educação, como da área de educação antirracista e a Diretoria Regional de Educação de São Paulo. De acordo com Maria Claudia, eles tentaram compreender como a unidade está organizando o processo e como podem fortalecer ações para que a instituição não recue diante da intimidação.

Pichação também colocada em proximidade da escola
Pichação também colocada em proximidade da escola
Foto: Arquivo Pessoal

"Com uma comunidade diversa, que inclui famílias com pais adotivos, famílias negras e famílias trans, a escola busca garantir que essas crianças se sintam pertencentes e que tenham seus direitos de aprendizagem assegurados", destaca a diretora. "A discussão promovida pela escola não se trata de uma invenção, mas sim de uma abordagem que busca garantir a participação e interação das crianças com várias instituições, adultos e outras crianças, incentivando especialmente a brincadeira, pois a escola trabalha com crianças de 4 e 5 anos, focando no processo educativo e de aprendizagem".

Em resposta aos ataques, a diretora informou que planeja um dia de abraço à escola, que deve acontecer no dia 5 de agosto. É esperada a participação da comunidade. 

Maria Claudia pretende ainda abrir as portas da escola para visitas de parceiros e da comunidade, para que todos possam compreender como funciona a proposta pedagógica da instituição. A diretora reforça que não abrirá mão do compromisso em promover uma educação inclusiva e engajada com os valores da equidade e diversidade.

O que diz a Secretaria de Educação

Em nota, a Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Educação (SME), lamentou o ocorrido no entorno da unidade e repudiou qualquer ato de discriminação e racismo dentro ou fora do âmbito escolar. A pasta informou ainda que a assessora de articulação do gabinete da SME, Sueli Mondini, acompanha o caso.

"A Diretoria Regional de Educação também presta todo apoio necessário à comunidade escolar, juntamente ao Núcleo de Apoio e Acompanhamento para a Aprendizagem (NAAPA), composto por psicólogos e psicopedagogos. A pasta conta com o apoio da Guarda Civil Metropolitana (GCM) e da Polícia Militar para patrulhamento e segurança da comunidade escolar", diz a nota.

A Secretaria de Educação também afirmou que, após o ocorrido, a EMEI Monteiro Lobato realizou um ato antirracista e em promoção da cultura da paz. Carregando cartazes com frases em defesa da escola e expondo desenhos feitos pelas crianças matriculadas, a comunidade escolar ocupou a rua da unidade, situada no bairro Higienópolis. Também estiveram presentes crianças e educadores de outras unidades educacionais do território do centro.

EMEI Monteiro Lobato organizou ato antirracista e em promoção da cultura de paz
EMEI Monteiro Lobato organizou ato antirracista e em promoção da cultura de paz
Foto: Divulgação/Prefeitura de São Paulo

Já a Secretaria Municipal de Segurança Urbana informou que a Guarda Civil Metropolitana reforçou o patrulhamento da EMEI por meio de rondas periódicas e patrulhamento fixo. A GCM disse ainda que segue atenta aos ocorridos, a fim de coibir pichações, depredações e todo e qualquer ato preconceituoso que possa vir a desrespeitar alunos, funcionários e vizinhança, além de zelar pelo patrimônio público da cidade.

"O racismo é uma questão social e a prefeitura trabalha com políticas públicas para combatê-lo. Além disso, a participação dos familiares e responsáveis pelos estudantes é essencial no processo de educação e formação de cidadãos conscientes", acrescentou.

Fonte: Redação Terra
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