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Bolsonaro: Enem teve questão de ideologia, mas está mudando

Presidente afirmou a apoiadores que se o ministro da Educação, Milton Ribeiro, tivesse interferido na prova, não teria nenhuma questão de ideologia

22 nov 2021 - 13h18
(atualizado às 13h38)
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Jair Bolsonaro
Jair Bolsonaro
Foto: Mateus Bonomi/AGIF/Sipa USA / Reuters

Após dizer na semana passada que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) começa a ter "a cara do governo", o presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta segunda-feira, 22, que a prova "ainda" teve "questão de ideologia". O primeiro dia da avaliação teve questões sobre luta de classes, desigualdade de gênero, racismo e povos indígenas.

Bolsonaro disse que se o ministro da Educação, Milton Ribeiro, pudesse interferir no teste, isso não teria ocorrido. "Estão acusando o ministro Milton de ter interferido na elaboração das provas. Se ele tivesse essa capacidade, não teria nenhuma questão de ideologia nesse Enem agora, que teve ainda", disse ele a apoiadoares, na saída do Palácio da Alvorada, residência oficial da presidência.

O Enem foi realizado em meio à crise de servidores do Inep. Eles afirmam que houve pressão para a troca de questões da prova.

Aos apoiadores, Bolsonaro relatou ser obrigatório "aproveitar bancos de dados de anos anteriores" para elaborar o Enem. Segundo o presidente, porém, o cenário está mudando.

"Você é obrigado a aproveitar isso daí. Agora, dá para mudar? Já está mudando. Vocês não viram mais a linguagem de tal tipo de gente com tal perfil. Não existe isso daí", afirmou. "A linguagem, o que o cara faz entre quatro paredes é problema dele. Agora, não tem mais aquilo. A linguagem neutra não sei de quê. Não tem mais."

A declaração de Bolsonaro foi ao encontro da declaração do ministro da Educação na noite de domingo, 21. Depois do primeiro dia de provas, Milton Ribeiro negou interferência do governo no conteúdo da prova. Para ele, se houvesse interferência, algumas questões poderiam nem estar no teste.

O ministro disse que "tentaram politizar a prova" e as questões do teste mostraram que não "tinham cabimento" denúncias sobre interferência no conteúdo. Indagado depois sobre quais questões seriam retiradas, não detalhou: "Quis salientar que, se dependesse de uma visão radical, de que o governo é radical, existem questões que tocam alguns temas que numa visão mais conservadora são mais caros ao nosso governo."

O Estadão apurou que o item sobre luta de classes, com texto do alemão Friedrich Engels, coautor do Manifesto Comunista, chegou a ser retirado da prova após uma "leitura crítica" feita no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão responsável pelo exame. Depois, voltou a compor as questões do exame deste domingo. Professores afirmaram que o Enem deste ano seguiu o modelo de edições anteriores.

O primeiro dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), neste domingo, 21, teve 26% de abstenção. Compareceram à prova apenas 2,3 milhões de candidatos - em edições anteriores, o Enem recebia o dobro de candidatos.

Estadão
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