Brasil cumpre meta de educação, mas desafios continuam
Qualidade de ensino ainda é um dos grandes problemas do país, afirma especialista
O prazo de cumprimento dos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, firmados em 2008, termina em dezembro de 2015, e o Brasil pode comemorar pelo menos uma vitória: ter praticamente atingido a educação primária universal, meta de número 2 no documento.
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Em entrevista à Rádio ONU, Rebeca Otero, coordenadora de Educação da Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura (Unesco) no Brasil, afirmou que o país já cobre cerca de 98,2% da educação fundamental. “A educação primária universal está atingida, até um pouco mais além, porque o Brasil preconiza como ensino fundamental nove anos de escolaridade e educação básica como 12 anos”, explica Rebeca.
Apesar do avanço no território nacional, a coordenadora ressalta que ainda há outros desafios a serem alcançados, como combater a evasão escolar, que ocorre principalmente na adolescência.
Segundo a coordenadora de Educação da Unesco no Brasil, o país pode ter atingido o objetivo número 2, mas ainda enfrenta grandes problemas com a qualidade de ensino. “O acesso conseguimos alcançar, ou seja, as crianças entram na escola. Mas muitas não conseguem aprender. A gente chama isso de exclusão infraescolar, ou seja, a criança está na escola, mas ela não aprende o básico. Muitas vezes termina a educação primária sem entender o que lê ou fazer operações básicas de matemática”, explica.
A questão da qualidade no ensino é algo problemático não só no Brasil como na América Latina, de acordo com a entrevistada. Para tentar suprir o problema, ela insiste na implementação de avaliações de qualidade de ensino, para que se possa notar o que há de errado e corrigir ao longo do percurso.
Mundo
Apesar das melhoras ao redor do mundo, Rebeca Otero afirmou à Rádio ONU que muitos países não conseguirão atingir a meta número 2, de universalizar a educação, até dezembro deste ano.
Segundo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2000, 100 milhões de crianças não frequentavam a escola. Em 2015, o número caiu, mas 57 milhões de crianças ao redor do mundo ainda não vão ao colégio.
“Na questão de desempenho global foram analisados, pela Unesco, dados de 167 países. A Unesco avalia que, desses países, 2% estão muito longe de alcançar essa meta (de universalizar o ensino), 21% estão longe, 5% estão perto e 71% conseguiram alcançar o objetivo. No geral, de 2000 a 2015 houve melhora, mas muitos países ainda não conseguirão atingir a meta, em especial os países da África subsaariana. Apesar de terem tido um progresso, muitos deles não conseguiram atender essas populações que são mais marginalizadas, ou seja, as minorias étnico-linguísticas, as crianças que já têm que trabalhar, que moram em favela ou com deficiência”, afirma Otero.
Para que os objetivos sejam alcançados, a coordenadora explica que existem pontos a serem priorizados, entre eles “tornar o ensino gratuito, e considerá-lo realmente como um direito de todos os meninos e meninas”. Em seguida, atenta que os países precisam alocar recursos, como construir novas escolas, formar e empregar professores de qualidade e trabalhar na transferência de renda para que os pais não precisem colocar os filhos para trabalhar.
Ainda segundo Rebeca, também houve melhorias no setor da educação, como um aumento de 27% nas matrículas da África subsaariana ou a educação primária universal gratuita em 94 países. “É importante que os governos assumam estas questões. Que (a educação) seja um direito”, pede a coordenadora.
O desafio da universalização continuará a ser uma meta na agenda de Desenvolvimento Sustentável, a próxima a ser firmada neste ano. Segundo Rebeca Otero, a questão da educação será o objetivo de número 4.