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Brasileiro ganha medalha de ouro de matemática no exterior

André Costa, de 19 anos, é de Minas Gerais, Estado com maior número de medalhistas em olimpíada da rede pública

26 ago 2014 - 09h25
(atualizado às 09h27)
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<p>André (de amarelo) com os colegas de equipe da UFMG na 21ª Competição Internacional de Matemática para Estudantes Universitários, na Bulgária </p>
André (de amarelo) com os colegas de equipe da UFMG na 21ª Competição Internacional de Matemática para Estudantes Universitários, na Bulgária
Foto: Arquivo pessoal / Reprodução

O sotaque mineiro, de voz tímida e fala mansa, revela com humildade e sem alardes conquistas em campeonatos nacionais e internacionais de matemática. André Costa, 19 anos, estudante de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), foi um dos dois brasileiros a receber medalha de ouro na 21ª Competição Internacional de Matemática para Estudantes Universitários (IMC), realizada em agosto na Bulgária. Ele dividiu com Henrique Fiúza, aluno do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), a 36º posição no ranking individual do evento que contou com a presença de 324 estudantes de 73 universidades de todo o mundo.

A maratona enfrentada por André foi extensa e cansativa. Foram dois dias de evento, e ele teve, ao todo, 10 horas para resolver 10 questões que envolviam álgebra e análise combinatória, entre outros conteúdos. Em uma das questões, por exemplo, foram usadas 20 folhas para tentar encontrar a resolução de um exercício. “Ao longo do desenvolvimento, você vai se adaptando e mudando o raciocínio em busca da resposta certa. Nessa brincadeira, você gasta muito papel”, conta o estudante.

A ideia de participar desse tipo de campeonato não partiu dele próprio, nem do pai, comerciante, ou da mãe, economista. Com 12 anos, quando estava na 6º série, um professor do Colégio Militar de Belo Horizonte o convidou para participar da Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM). O estudante até hoje não sabe explicar como conseguiu ganhar a medalha de ouro na competição. “Acho que foi um pouquinho de sorte. Na época, fiz mais por curiosidade, porque não me destacava em relação aos meus colegas. Só depois de ganhar eu comecei a estudar de verdade”, diz o universitário da UFMG.

Após a conquista, ele foi convidado a fazer parte do Programa de Iniciação Científica Jr. (PIC) da UFMG, atividade voltada para o ensino de matemática para jovens que se destacam nas olimpíadas escolares. André não era o melhor aluno do colégio, considerava-se mediano, fazia o suficiente para ficar com uma nota boa, mas não tinha dificuldades na hora de aprender. O primeiro baque veio com o início das aulas no PIC Jr.: o choque de lidar com questões complexas o assustou. “No começo, tinha muita dificuldade, e acho que isso foi o que mais me motivou. Nas primeiras aulas, eu não entendia nada do que o professor falava, saía de lá meio triste porque nunca tinha passado por isso. Foi quando comecei a pegar livros e estudar mais”.

A rotina de cálculos tornou-se cada vez mais frequente na vida do então adolescente. Em média, eram reservadas três horas diárias de estudo para a matemática. Como André estudava de manhã, sobrava bastante tempo para os momentos de lazer e diversão, hábitos que ele mantém até hoje. “Eu gosto muito de praticar esportes, jogo tênis e tento me arriscar no futebol”. Da primeira medalha conquistada, em 2006, até o final do ensino fundamental, foram oito premiações de ouro em disputas estaduais e nacionais. A entrada no ensino médio não o impediu de continuar ganhando campeonatos pelo Brasil. Na verdade, com o ingresso na Preparação Especial para Competições Internacionais (PECI), programa destinado a preparar um grupo seleto de medalhistas de ouro da Olimpíada Brasileira de Matemática de Escolas Públicas (OBMEP), surgiram outras tantas conquistas.

No ensino médio, foram mais de 10 premiações entre ouro, prata e bronze. André destaca a de prata na olimpíada internacional de matemática (2011) e dois ouros na OBM (2009 e 2011). “Com esses cursos, mudei meu modo de ver a matemática e passei a estudar para as competições mais disputadas e de nível mundial. Antes parecia impossível ganhar, achava que era coisa de criança gênio que sabe ler com um ano de idade, mas passei a acreditar que era possível, sim.

Tropeços e sucessos

Mas nem tudo foi vitória na vida do estudante. Em 2012, já no fim da trajetória como aluno secundarista, o Brasil precisava formar uma equipe de seis pessoas para levar a um campeonato internacional, e André era visto como um dos favoritos à vaga por ter conquistado o feito no ano anterior. “Aconteceu algo muito frustrante pra mim, falhei na seletiva, vacilei nos testes e fiquei de fora. Era pra ter sido o auge da minha trajetória de olimpíadas na escola e acabou não acontecendo”, lembra.

Para essa seleção, ele tinha estudado seis meses e não tinha dado atenção para as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e para específica que teria de fazer se quisesse entrar na UFMG. “Faltando meio ano para o vestibular, eu mal tinha estudado o que precisava. Tinha visto só o conteúdo de matemática nos últimos cinco anos da minha vida. Aí, comecei ler um pouco de química e física, que era o que precisava para vestibular, e acabei me dando bem.” Ele acredita que o estilo do Enem, mais interpretativo, o ajudou. O resultado das horas de dedicação e estudo em casa rendeu-lhe o primeiro lugar geral no vestibular da UFMG. Hoje ele cursa o quarto semestre da faculdade e faz parte de um projeto de iniciação científica da própria universidade, o Programa de Iniciação Científica e Mestrado (PICME), que prepara universitários para competições de matemática. Apesar de todos os feitos, André segue estudando em busca de mais vitórias.

Minas Gerais: um celeiro de matemáticos

André, um dos grandes nomes em competições de matemática no Brasil, é de Minas Gerais, lugar que teve o maior número de medalhistas na última Obmep. Segundo o Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), entre os 6 mil premiados, o estado mineiro ficou em primeiro lugar, com 140 estudantes com a premiação de ouro, 253 de prata e 1199 de bronze. O estudante acredita que iniciativas como o PIC Jr e o PICME podem justificar os números alcançados pelos mineiros nesse tipo de competição. Raphael Drumond, coordernador do PICME-UFMG, afirma que há em Minas Gerais uma preocupação dos professores em participar dos campeonatos e em preparar bem os alunos. “Grande parte dos estados brasileiros apresentam a iniciativa. Na seleção desse ano, entraram 70 alunos, eles fazem o curso no qual estão matriculados, mas fazem também disciplinas do currículo de matemática e com a realização de provas, são avaliados.”  

Cartola - Agência de Conteúdo

Fonte: Especial para Terra
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