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Brasileiros que trabalham na Europa contam como é a rotina de escala reduzida: ‘Ninguém trabalha mais tempo’

Terra conversou com dois brasileiros que atuam na escala 5x2 e relataram maior qualidade de vida

11 dez 2024 - 05h00
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João Rafael de Almeida Carraro e Caio Vinícius da Silva moram na Europa
João Rafael de Almeida Carraro e Caio Vinícius da Silva moram na Europa
Foto: Arquivo pessoal/Montagem

Os escoceses têm uma maneira diferente dos brasileiros de ver o trabalho. É o que aponta o supervisor de um call center João Rafael de Almeida Carraro, de 41 anos. Morador de Edimburgo a sete anos, ele relata que os locais encaram o ambiente de trabalho de forma mais leve e conseguem aproveitar os dias de folga para curtir. 

Rafael trabalhava como TI em uma empresa em Alphaville, em Barueri, na região metropolitana de São Paulo. Quando foi para o país do Reino Unido encontrou um novo mundo. Embora já fizesse uma escala 5x2 aqui no Brasil, às vezes, precisava trabalhar aos finais de semana. Mesmo que não fosse acionado, ficava de sobreaviso para caso alguém precisasse. "Era meio trabalhando e não", descreve. 

Mas, ao imigrar, deparou-se com outra realidade. Em geral, a semana de trabalho na Escócia pode variar entre 37 e 40 horas, de acordo com o movimento 4 Day Week --criado com o intuito de reduzir a carga de trabalho. Desde 2021, o país faz testes para reduzir a carga horária. Há algumas empresas, inclusive, que já adotam a escala 4x3. 

Enquanto isso, aqui no Brasil ainda se discute a redução da jornada. Uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), de autoria da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), que busca reduzir de 44 para 36 horas semanais, e tem como objetivo principal acabar com a escala de 6 dias de trabalho e 1 de descanso, popularmente chamada de 'escala 6x1'.

João Rafael percebeu a diferença que é 'estar fora do trabalho' quando realmente estivesse fora do expediente. "A gente já vem de um padrão de trabalho, né?”, aponta. Na Escócia, embora não haja uma CLT como no Brasil, o compromisso de trabalho é feito por meio de um contrato. Logo, o que você combina com o empregador, é o que será feito. 

João Rafael é brasileiro e mora na Escócia há sete anos
João Rafael é brasileiro e mora na Escócia há sete anos
Foto: Arquivo Pessoal

Não há Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), 13º salário e nem mesmo salário mínimo, mas existe um teto mínimo que a empresa deve pagar aos funcionários. De acordo com o site Numbeo, em 2023, a média de salário mínimo na Escócia era de £2.016,98 (pouco mais de R$ 15,4 mil), com os impostos descontados. 

Além disso, o governo não permite que o trabalhador exceda 48 horas semanais de trabalho. E quando a pessoa é contratada por uma empresa, já pode escolher as férias antes mesmo de completar um ano, que consideram apenas os dias úteis --diferentemente do Brasil, em que as férias se referem a dias corridos (contando finais de semana e feriados). 

“A gente tem uma média aí, vamos dizer, de seis semanas de férias por ano. Essa foi uma das primeiras coisas que eu tive como um choque quando cheguei aqui. Eu lembro na primeira entrevista, ele perguntava, você tem férias já programadas? Porque ele já te coloca em uma escala de férias para saber dias que você já não está preparado para trabalhar”, aponta. 

Em todos os lugares que já trabalhou em Edimburgo, a escala também era de 5x2, e os dias de folga nem sempre são consecutivos, mas a semana era sempre de 40 horas trabalhadas. Na atual empresa, onde atua como supervisor de um call center, seu horário é fixo, das 8h30 às 17h, e a equipe que coordena tem horários variados ao longo do dia. “Mas ninguém trabalha mais tempo, entendeu?”, adverte. 

Brasileiro aponta diferença entre a escala de trabalho do Brasil e do Reino Unido
Brasileiro aponta diferença entre a escala de trabalho do Brasil e do Reino Unido
Foto: Arquivo Pessoal

Apesar de já trabalhar em escala reduzida, ele aponta que a maior diferença entre os dois países é na maneira como o trabalho é encarado tanto por quem contrata quanto por quem é contratado. O brasileiro explica que não há uma grande cobrança e que também não há o medo de ficar desempregado, porque arrumar algo novo é muito mais fácil do que aqui. 

“O que acontece é que as pessoas são muito menos controladoras, eu diria, do que como se tem no Brasil, entende? As pessoas têm menos essa essa gana de ‘eu quero fazer tudo certinho, eu quero ter certeza disso’. As pessoas são muito mais tranquilas com relação a isso. Foi um choque inicial. As pessoas são muito mais relaxadas com relação a isso, não no sentido de descuido, mas são muito mais tranquilas com relação ao trabalho e com isso acaba sendo muito mais fácil. Você trabalha de uma forma mais leve”, destaca. 

E o supervisor garante que isso reflete no trabalho. “Claro que você tem dias estressantes, tem dias que você está cansado, mas assim, é de boa”. Outra coisa que corrobora com esse sentimento de confiança, é que não há uma disparidade grande de salários. Isso leva a outro ponto que João Rafael menciona: os dias de folga são usados pelas pessoas que moram em Edimburgo para aproveitar, viajar ou curtir um tempo com a família, um tempo de qualidade. 

“As pessoas estão mais preocupadas com as folgas do que em fazer a hora extra ou mostrar que estão disponíveis. Isso é importante. Isso compensa bem mais do que altos salários, que vão exigir muito trabalho e pouco tempo para curtir. No final das contas, não vale a pena porque você acaba utilizando a sua vida inteira para trabalhar e não consegue aproveitar nada”, reflete. 

Em Portugal

Caio Vinícius mora em Portugal há seis anos
Caio Vinícius mora em Portugal há seis anos
Foto: Arquivo pessoal

Caio Vinícius da Silva, de 33 anos, trabalha à noite como chefe de bar no Curioso Cocktail Bar na região central da Cidade do Porto, onde mora há seis anos. Ele é natural de Guarujá, no litoral de São Paulo, onde atuou com hotelaria, na escala 6x1, mas no país Europeu sua escala é reduzida, portanto, trabalha 5x2. 

Código de Trabalho de Portugal estipula que o prazo máximo é de 40 horas semanais, nas jornadas completas. Há também a jornada parcial, em que o trabalhador atua por menos horas, e também o trabalho por turnos, cujo empregado faz diferentes períodos, acordados junto da empresa. 

“Praticamente 90% dos lugares que eu conheço são 5x2. Já trabalhei em restaurante, hotel e bar, bar de coquetéis e um pub. Raramente a folga não é junta, é sempre uma seguida da outra. Por exemplo, minhas folgas são semanais, quartas e quintas-feiras.”

Ele decidiu se mudar em busca de uma oportunidade melhor de vida, onde constituiu família e tem uma bebê de quase um ano. “Eu acho que todo brasileiro que vem para a Europa pensa um bocado mais na qualidade de vida, né? Conseguir ter acesso a melhores condições de trabalho, de poder sair, de poder conhecer outros países com um custo mais acessível”, reforça. 

Nesse tempo, conseguiu ser campeão nacional do Rabo de Galo de 2023 --drink com cachaça e vermute--, além de segundo e terceiro lugar no Giffard West Cup 2024 e Bartender Society 2024, respectivamente. Essa rotina mais “tranquila” de trabalho possibilita que ele participe de campeonatos, aperfeiçoe suas técnicas por meio de cursos, descanse e curta com sua família. 

“Consigo ter mais qualidade de vida no sentido familiar, que é estar mais tempo com a minha esposa. Consigo pegar a minha filha na creche. E depois disso, ter alguma atividade, até mesmo na rotina de casa. Consigo estudar dentro da minha área de trabalho”, declara. 

Assim como na rotina de João Rafael, Caio relata que consegue trabalhar com tranquilidade e sem pressão. “Quando eu tenho necessidade de folgar em um domingo, consigo avisar com antecedência. É sempre muito acessível”, aponta. 

Brasileiro concorda com a escala reduzida de trabalho
Brasileiro concorda com a escala reduzida de trabalho
Foto: Arquivo pessoal

Ele entra para trabalhar às 17h e encerra por volta de 1h30, sendo essa meia hora a mais para jantar. Nem sempre ele consegue sair no horário, por se tratar de um bar, mas o tempo adicional é pago pelo estabelecimento. 

O chefe de bar acompanha um pouco as notícias do Brasil, pois tem família e amigos por aqui. Quando questionado se é a favor da adoção da escala 5x2 no Brasil, ele prontamente responde: 

“Se tivesse um amparo legal que não fosse afetar diretamente no ordenado, creio que seria possível. Porque na 5x2 você tem uma qualidade de vida. Consegue acompanhar os filhos, fazer um upgrade na sua carreira, consegue descansar físico e mental, e passear. Mas se for prejudicar o trabalhador acho que não vale muito a pena”, finaliza. 

Fonte: Redação Terra
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