Câmara aprova texto-base de projeto que torna essenciais aulas presenciais
Reconhecimento é voltado para aulas da educação básica e do ensino superior. Sugestões em votação ainda podem mudar o teor do texto, que seguirá na sequência para apreciação do Senado
BRASÍLIA - A Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira, 20, projeto de lei que reconhece a educação básica e o ensino superior, em formato presencial, como serviços e atividades essenciais e estabelece diretrizes para o retorno seguro às aulas em meio à pandemia de covid-19. Relatada em plenário pela deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), a proposta foi aprovada por 276 votos a 164. Os deputados não aprovaram nenhum dos cinco destaques - sugestões que poderiam mudar o teor do texto. Agora, o projeto precisa passar pela análise do Senado.
Pela texto, Estados e municípios ficam proibidos de suspender aulas presenciais, exceto nos casos em que as condições sanitárias não permitirem. Para isso, no entanto, será preciso apresentar critérios técnicos e científicos que deem base para a decisão.
Joice afirmou não ser negacionista e rejeitou o que considera um "retrocesso" e uma "discussão ideológica" sobre o projeto. Ela afirmou que a proposta evita que as crianças mais pobres passem fome, já que muitas dependem de refeições servidas nas escolas. A oposição, por outro lado, usou de manobras regimentais para atrasar estender a votação até a noite.
A deputada Jandira Feghali (PCdoB) afirmou que o projeto não assegura a proteção da vida dos alunos e profissionais. "A vida das crianças está à frente da questão da abertura das escolas", afirmou.
O parecer aprovado estabelece ainda que Estados e municípios deverão criar seus próprios protocolos de retorno às aulas. Eles deverão seguir uma estratégia que estabelece critérios epidemiológicos para a decisão sobre funcionamento das escolas, prioridade na vacinação de professores e funcionários de escolas públicas e privadas e prevenção de contágio de estudantes, profissionais e familiares.
As escolas terão que disponibilizar equipamentos higienização e proteção, incluindo máscaras, álcool em gel, água e sabão durante as aulas, recreio, alimentação e transporte escolar, além de adotar parâmetros de distanciamento social.
Pelo texto, as escolas deverão adotar estratégias como alternância de horários e rodízio de turmas, sistema híbrido, com atividades pedagógicas presenciais e não presenciais, manutenção dos vínculos profissionais e liberação de atividade presencial aos profissionais que integrem grupo de risco ou que residam com pessoas que nessa condição.
O calendário não precisará ser unificado, com diferentes datas e ritmos para cada uma das escolas tendo em consideração a situação epidemiológica de sua localidade.
Ainda segundo o texto, os pais de alunos entre quatro e 17 anos poderão optar pelo não comparecimento de seus filhos às aulas presenciais enquanto durara a pandemia e se houver familiares dentro do grupo de risco na mesma residência. Terão, no entanto, que garantir o acompanhamento das aulas à distância.
Projeto causa racha entre secretários de educação
O projeto causou racha entre secretários de educação. O conselho de secretários (Consed) divulgou nota na semana passada afirmando ser contra o texto porque pretende "obrigar Estados e municípios a abrirem suas escolas" sem considerar condições locais.
Já o secretário de Educação de São Paulo, Rossieli Soares, afirmou na oportunidade que não foi consultado sobre o comunicado do grupo e o projeto "merece todo o apoio de qualquer gestor público e cidadão que tenham o mínimo de visão e consciência sobre a importância do tema" para resolver o "défict gigantesco de aprendizagem que milhares de estudantes estão tendo em meio a esta terrível e perversa pandemia".
Em alguns Estados, como São Paulo e Santa Catarina, já houve publicação de decretos que incluem a educação no rol de atividades essenciais. Na semana passada, mesmo durante a fase vermelha, a capital paulista reabriu colégios, mas manteve lojas, restaurantes e bares fechados.
A secretária da Educação do Rio Grande do Sul, Raquel Teixeira, também disse discordar da nota do Consed. "O dano causado às crianças e jovens com o fechamento das escolas é infinitamente maior que os riscos advindos do processo de abertura. Devemos esse esforço à atual geração de alunos" disse na semana passada.
Educadores têm defendido priorizar a reabertura dos colégios para diminuir os prejuízos de aprendizagem e socioemocionais aos alunos. Parte dos especialistas em saúde, porém, aponta que, com os índices de contágio e mortes (a média superou as 3 mil vítimas por dia no País na semana passada), o retorno das aulas poderia prejudicar as estratégias de contenção do vírus. /COLABORARAM CAMILA TURTELLI E RENATA CAFARDO