Abstinência sexual pode afetar o desempenho no trabalho? Especialistas explicam relação
A vida íntima em dia proporciona bem-estar e qualidade de vida, inclusive no trabalho, dizem sexólogos
A abstinência sexual pode afetar o desempenho no trabalho? Especialistas ouvidos pelo Terra dizem que tudo depende de alguns fatores que contribuem para o bem-estar e qualidade de vida. Inegavelmente, um deles é a atividade sexual.
Só existe um 'pequeno' problema: segundo dados de pesquisa feita pela General Social Survey, em 2021, 26% dos americanos com 18 anos ou mais não mantinham relações havia um ano. A tendência também se aplica ao Brasil.
O psiquiatra e sexólogo Eduardo Perin cita a Organização Mundial da Saúde (OMS) para reforçar que a saúde sexual é um critério para a boa qualidade de vida, e acrescenta que, quando isso não é satisfeito, é possível que interfira em outras áreas da vida -- inclusive, o trabalho.
"Esse indivíduo está com algum desequilíbrio na saúde geral dele pela falta da atividade sexual. E aí, ele pode se sentir menos engajado com o trabalho, menos interessado no trabalho, menos paciente, menos envolvido empaticamente com outras pessoas... Então, um indivíduo mais frio, talvez mais sarcástico e com mais faltas ao trabalho", analisa.
Existe algo 'faltando'
Para a psicóloga e sexóloga Márcia Atik, essa abstinência, representada pela falta de uma parceria e troca sexual, traz a sensação de que existe algo "faltando". Em alguns casos, há quem compense essa lacuna com outros prazeres e realizações, sem necessariamente implicar problemas pessoais, emocionais ou físicos.
Por outro lado, pode acontecer de a abstinência ser decorrente do excesso de trabalho, em que o indivíduo não abre um espaço na agenda para a vida sexual e afetiva. Assim, toda a sua carga de prazer está na realização do trabalho ou na tomada de decisões.
Aí mora um problema que pode escalar para quadros mais sérios de saúde mental.
"Se a gente privilegia uma única área da vida como fonte de prazer, com certeza as outras vão ficar no negativo, vai fazer falta. E talvez nem seja questão sexual pela liberação do hormônio, pelo orgasmo, é a troca, a afetividade, o carinho. Se a pessoa se isola num cargo ou num trabalho, a médio prazo, a falta de contato afetivo vai fazer diferença, trazendo uma insatisfação, uma frustração, até uma depressão", alerta Márcia.
Para a sexóloga, o equilíbrio na atividade sexual e nos demais aspectos da vida tornará a pessoa mais fácil de conviver em um ambiente de trabalho. No entanto, ela reforça que não dá para determinar o bem-estar apenas pela frequência de troca íntima com alguém.
"É todo um conjunto de vivências que torna essa pessoa mais leve, mais agradável, mais feliz. A vida sexual é um dos aspectos, mas ele sozinho não resolve. Tem que ter toda uma gama de realizações pessoais, amizades, afetividades e resultados também profissionais", completa.
Prejuízos sociais
O psiquiatra e sexólogo Eduardo Perin explica que o uso da internet e isolamento social podem ter contribuído para a mudança de comportamento geracional, que tem cada vez mais feito menos sexo.
"Isso tornou essa população mais jovem mais isolada, com uma vida muito mais virtual do que presencial. Então, isso acaba dificultando e até diminuindo o interesse desses jovens pelo sexo, por ter uma parceria sexual e afetiva", ele diz.
Se a abstinência, por um lado, protege de infecções sexualmente transmissíveis e diminui o risco de gravidez na adolescência, por exemplo, os prejuízos sociais são bastante significativos. A "imaturidade" das pessoas ao se relacionarem é a principal evidência desses prejuízos.
"A gente vê uma crescente imaturidade dessas pessoas quando elas resolvem se relacionar, porque não tiveram experiências prévias de relacionamentos, e aí, quando elas resolvem se relacionar numa idade um pouco maior, essas pessoas acabam tendo uma imaturidade, uma dificuldade de compreensão do que é o relacionamento", acrescenta.