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Candidato a emprego hoje tem mais poder que o empregador, diz CEO da Adecco

Segundo executivo, pandemia trouxe grandes mudanças no mercado, com profissionais recusando vagas que não se encaixem em seus propósitos ou na busca por melhor qualidade de vida

4 jan 2023 - 10h18
(atualizado às 10h21)
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A pandemia provocou grandes transformações no mercado de trabalho, e criou nos profissionais um senso de prioridade por mais qualidade de vida. Na avaliação do presidente da multinacional de recursos humanos Adecco, André Vicente, a busca pelo propósito deu mais poder aos trabalhadores. "Hoje o mercado é orientado pelo candidato, não pelo empregador", diz ele. Isso acontece de forma mais agressiva em setores como o de tecnologia.

Ele cita uma pesquisa da Adecco que mostra que 34% das pessoas que tiveram uma proposta de emprego no Brasil recusaram. "Ou seja, depois de passar por todo o processo de seleção, elas não aceitaram a oferta. Esse é um dado incrível e super enriquecedor." Segundo ele, isso ocorreu porque as pessoas foram investigar sobre as empresas, sobre os líderes, sobre os chefe e, depois disso, tomaram a decisão. A Adecco está presente em 60 países.

Qual o efeito da pandemia no mercado de trabalho?

Desde a pandemia muita coisa mudou. Pelo menos, é o que a gente vê no mercado e nos estudos que fazemos. Na última pesquisa, com mais de 35 mil pessoas, 54% delas disseram que sentem que têm o poder sobre as profissões que escolhem, ou seja, sobre o que querem. Isso é algo que antes da pandemia não ocorria. A pandemia colocou de uma forma concreta o propósito das pessoas e fez com que elas refletissem se algo está bom ou ruim. A pandemia teve um efeito incrível na forma como as pessoas se posicionam no trabalho e na vida.

Essa mudança veio para ficar?

Acho que sim. Nossa pesquisa mostra que hoje 45% das pessoas estão vendo novas oportunidades no mercado e consideram outros rumos de carreira. Por isso, acho que essa tendência vai se manter em alta, sobretudo na forma como a gente valoriza o propósito da nossa vida.

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O que mudou num recrutamento hoje em dia?

Mudou muita coisa. Hoje no Brasil, segundo uma pesquisa feita por nós com profissionais de nível superior, 34% das pessoas que tiveram uma proposta de emprego, recusaram. Ou seja, depois de passar por todo o processo de seleção, elas recusaram. Esse é um dado incrível e super enriquecedor. E por que elas recusaram? Porque as pessoas foram investigar sobre as empresas, sobre os líderes, sobre os chefe e, depois disso, tomam a decisão. Portanto, essa é uma tendência. Em alguns setores, isso é mais ou menos agressivo. Diria que tecnologia é um mercado completamente orientado pelo candidato. O candidato é objetivo e sabe onde quer trabalhar. Isso acontece também em algumas áreas muito específicas, como saúde. Sem dúvida hoje o mercado é orientado pelo candidato, não pelo empregador.

E sobre diversidade? Sabemos que em alguns casos há mais facilidade de contratar, mas em outros nem tanto. Como está a contratação de profissionais negros?

É uma pauta importante. Hoje as principais empresas, companhias multinacionais, têm políticas de diversidade e inclusão. Vemos programas de estágio, programas de trainee, jovem aprendiz, cursos voltados para raça e gênero, faixa etária. Mas diria que o grande desafio está nos cargos de liderança, pois para ocupar esses cargos é preciso ter experiência, know how e conhecimento. E realmente há um vazio do ponto de vista de candidatos , do ponto de vista racial. Começa afunilar muito, precisa ter inglês, precisa ter perfil, precisa ter experiência. É um grande desafio.

E quais os motivos?

É uma questão de afunilar o perfil. Primeiro você precisa de alguém que fala inglês, isso já reduz as possibilidades. Depois precisa ter experiência de 15 anos num determinado setor, com qualidades técnicas específicas. E quando coloca um funil sobre raça, aí realmente fica desafiador.

E como se resolve essa questão?

É uma questão estrutural. Quando falamos de talento dentro das organizações, falamos de uma pirâmide. Temos os trabalhadores de cargos técnicos, cargos gerenciais e de alta liderança. O problema é que desde a base existe muito pouco sobre o tema diversidade. Então não tem diversidade no topo. Por isso é que é importante ter políticas e iniciativas nesse tema de modo a criar líderes diversos, criar uma inclusão natural.

E a educação?

Também tem a questão da educação e da desigualdade no País. Mas existe uma tendência no novo mundo do trabalho que valoriza conhecimento, não especificamente obtido pelos meios tradicionais, como a universidade. Hoje em dia pode-se adquirir conhecimento na internet, que tem conteúdo de acesso fácil. Tem duas pessoas que trabalham na empresa, que desafiaram a situação em que viviam e foram aprender inglês no YouTube, em vídeos na internet. Hoje estão em posição de liderança. A forma de educação e de aprender também está mudando, é muito diferente de 10, 20, 30 anos atrás. A questão de ter um diploma hoje deixou de ser importante.

Hoje não é importante ter diploma?

A tendência é que ter um diploma de tal faculdade ou de tal curso seja cada vez menos importante. Hoje vemos líderes de negócios com formação em áreas distintas, como psicologia, ciências da computação, filosofia, história, etc. Basicamente a diferença não é só o perfil de liderança da pessoa, mas também as características técnicas, os conhecimentos que permitem à pessoa ter uma evolução mais rápida do que passar anos em mestrados, doutorados. Posso ter uma formação numa área e trabalhar em outra diferente.

Que dica você dá para as pessoas que buscam uma oportunidade no mercado de trabalho?

Para quem está na busca pelo primeiro emprego, fiquem atentos às vagas de estágio. Há muitas empresas que são a porta de entrada para o mercado de trabalho. Para áreas administrativas, olhem sempre o LinkedIn. Há muitas vagas disponíveis. Para cargos de liderança, o networking é importante. O que torna um candidato interessante é sua constante busca pelo conhecimento. O profissional de dez anos atrás é muito diferente do de hoje. Não se pode mais parar no tempo. Tem de se desafiar se quiser continuar sendo competitivo no mercado.

Estadão
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