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Chefe amigo de funcionário? Entenda os limites da amizade no ambiente de trabalho

Especialistas afirmam que fazer amizades no trabalho é benéfico, mas reforçam a necessidade de não confundir o pessoal com o profissional

26 jul 2023 - 07h14
(atualizado às 12h01)
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Amizade no ambiente de trabalho é saudável
Amizade no ambiente de trabalho é saudável
Foto: Freepik

Ao longo da vida, seja na vizinhança, na escola ou na faculdade, por exemplo, as pessoas estabelecem fortes laços de amizades. No trabalho, isso também pode acontecer. Como os profissionais passam muitas horas do dia com colegas de equipe, às vezes até mais tempo do que com os próprios familiares, é comum que grandes amizades sejam formadas nesse ambiente.

As amigas Pamela Fernandes, 32 anos, que é auxiliar de escritório, e Gisele Martes, 45 anos, que atua como operadora de atendimento, são um exemplo disso. As duas se conheceram em 2017, quando trabalhavam em uma clínica médica na capital paulista, e, hoje, já comemoram seis anos de amizade.

Na época, as duas atuavam na função de recepcionista e combinavam de almoçar juntas.

"Ali começou a amizade", lembra Pamela. "Como trabalhávamos no mesmo setor, sempre batíamos um papo da nossa vida pessoal, uma ajudava a outra", acrescenta Gisele. 

Para Aliesh Costa, CEO da Carpediem RH, a amizade no ambiente de trabalho é muito saudável e lucrativa para a empresa.

"Há estudos animadores que indicam que o engajamento e a amizade no ambiente de trabalho aumentam a produtividade, porque as pessoas se sentem em um ambiente mais seguro, mais confiável, de alegria. Quando você está em um local onde você pode compartilhar suas dúvidas, dissabores, conquistas, você consegue produzir muito melhor e se sente mais seguro", afirma.

Uma pesquisa recente da Wildgoose, empresa britânica especialista em formação de equipes, reforça isso. O estudo mostra que 57% dos entrevistados acham que ter um melhor amigo na "firma" torna o trabalho mais agradável. Outros 22% se percebem mais produtivos e 21% acreditam que a criatividade melhora.

Cuidado para não confundir as relações

No entanto, a especialista pontua que é necessário não confundir as relações pessoais com as obrigações profissionais. O limite existe e precisa ser respeitado.

"As pessoas acabam esquecendo que é um ambiente corporativo, perdem o foco, produtividade. Não é porque você tem amizade com alguém ou com seu líder que você vai confundir as coisas. Trabalho é uma coisa e aquela amizade que você nutre com a pessoa é outra coisa", alerta Aliesh Costa.

"Às vezes, acontece que a pessoa é amiga de uma outra e acaba encobrindo erros, por exemplo. Isso não é legal. Estamos falando de coletivo, não dá para deixar momentos individuais que você tem com aquela pessoa influenciar e prejudicar o resultado, a empresa inteira", acrescenta.

Thaís Junqueira Franco, psicóloga e orientadora profissional e de carreira, também afirma que é possível estabelecer amizades no ambiente de trabalho, mas é preciso controlar as expectativas em relação a esse coleguismo.

"É preciso ser realista de que talvez uma amizade genuinamente espontânea, livre, não seja 100% possível, justamente porque se está regida por um conjunto de regras ali e obrigações que tem um outro objetivo. As pessoas estão ali para fazer um trabalho. Não é possível passar horas e horas conhecendo, conversando com uma pessoa e deixar o meu principal objetivo de lado", destaca.

A psicóloga pondera que a "dosagem" dessa amizade pode ser influenciada pela própria cultura da empresa. Se for uma empresa que não valoriza as relações interpessoais, então é necessário que o indivíduo modele seu comportamento e não esqueça que seu objetivo maior naquele momento é o trabalho.

"Para algumas, isso é incentivado, bem-vindo e interessante", acrescenta Thaís.

O mesmo vale para amizade entre chefe e funcionário. Neste caso, em especial, é preciso saber respeitar as hierarquias.

"O fato de você ter amizade com o seu gestor não invalida o resultado e o trabalho que você precisa executar dentro da corporação. Por isso, é importante saber separar essa amizade: saber que existe uma amizade, mas que existe também a minha entrega e o resultado que eu preciso esperar na empresa", ressalta Aliesh Costa, da Carpediem RH.

Thaís também reforça a necessidade de ter maturidade para fazer essa separação entre trabalho e vida pessoal. "Isso nem sempre acontece", diz.

Quando a amizade não funciona

Não saber o momento ideal de falar sobre assuntos pessoais, a falta de concentração no trabalho por causa de conversas paralelas e o baixo desempenho resultado disso são algumas situações que apontam que a relação de amizade está sendo prejudicial para o ambiente profissional. 

"Somos seres humanos, temos nossas angústias, nossos problemas. É importante que a gente compartilhe, mas é preciso saber o momento certo. Quando a pessoa começa a deixar de lado, não lembrar que ali é um ambiente corporativo e que nem tudo pode ser dito naquele ambiente, a postura começa a atrapalhar. Nesse caso, eu acho que já começa a ficar nocivo, não só para aquelas pessoas, como para toda equipe", avalia Aliesh.

Outro ponto negativo é quando a amizade passa a ser usada para alavancar a carreira ou obter algum favorecimento. A psicóloga Thaís Junqueira Franco chega a classificar o gesto como "brincando de ser amigo".

"É nociva quando não está claro que tipo de amizade é aquela. Se é amizade, é amizade. Se é uma relação profissional, é uma relação profissional. Obviamente, se é uma relação de amizade, não posso usar aquilo em benefício próprio para subir na carreira", destaca Thaís. 

É essencial também tomar cuidado para que as relações de amizade não atrapalhem a ponto de gerar uma demissão. Conforme Aliesh, essa seria uma atitude extrema.

"Mas eu acho que sempre feedback, devolutivas, é o melhor caminho. Essa proximidade do gestor com sua equipe, muitas vezes, permite inclusive que esse feedback aconteça de uma maneira mais próxima, mais verdadeira, mais sincera. Isso acaba inibindo que chegue em uma situação extrema de demitir alguém", acrescenta.

Como não deixar a amizade atrapalhar

Há algumas dicas que podem ajudar a impedir que a amizade no ambiente de trabalho seja nociva. Entre elas, tomar cuidado com as famosas "panelinhas" e não excluir colegas de trabalho. "As diferenças complementam o todo. Então, é importante você não conviver apenas com pessoas que pensam igual a você", sinaliza Aliesh. 

Além disso, é necessário entender a hora certa para conversas e o que pode ser dito no ambiente; saber ouvir os colegas para evitar confusões; e, inclusive, torcer pelo sucesso do outro. Uma oportunidade para aprender a identificar esses momentos são, justamente, os momentos de interação entre os funcionários.

Para Aliesh, é importante ainda que a própria empresa ofereça essas ocasiões, seja reservando horários para café, ou um tempo antes ou depois das reuniões para conversar.

"Essas pausas, happy hours, também ajudam e norteiam os colaboradores mostrando qual é o momento certo para essas interações mais pessoais", acrescenta. 

Amizade fora do trabalho

Muitas vezes, essa relação de amizade construída vai além do ambiente de trabalho. No caso de Pamela e Gisele, elas saíam para almoçar em shoppings ou padarias, viajavam juntas e frequentavam até festas de família uma da outra.

"Nós passamos muito mais tempo dentro do nosso ambiente de trabalho, muitas vezes mais tempo do que na nossa casa, com a nossa família. Então, é saudável e inevitável. Você acaba criando laços de amizade, então, quando esses laços de amizade são saudáveis, eu acho muito interessante que eles aconteçam também fora do trabalho", afirma Aliesh.

"Tenho saudade daquela amizade de trabalho. Nós sempre estávamos juntas, uma aconselhando a outra. Mas amizade de verdade nunca acaba. São lembranças boas que sempre vão ficar em nossas memórias", diz Gisele.

Fonte: Redação Terra
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