'Enem dos Concursos': O que fazer na véspera da prova do maior concurso do Brasil?
Psicólogas dão dicas de como lidar com a ansiedade para o Concurso Nacional Unificado, que será aplicado neste domingo, 18
Às vezes, parece que o corpo não ajuda no dia que precede um grande acontecimento. Se tem que dormir cedo para estar descansado na manhã seguinte, as viradas na cama madrugada a dentro vão impedir. Na hora 'H', tem gente que fica até sem unha de tanto roer, outros que descontam na comida e há ainda quem 'trave' em um momento importante.
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Para o Concurso Público Nacional Unificado (CNU), serão pouco mais de 1,7 milhão de mentes ansiosas saindo de suas casas no domingo, 18, em busca da tão sonhada vaga. O maior concurso da história do Brasil acontece pela primeira vez em mais de 200 cidades, após ter sido adiado dois dias antes da aplicação das provas, devido aos temporais no Rio Grande do Sul, em maio.
As inscrições abriram em janeiro e, de lá para cá, os candidatos tiveram tempo de estudar os conteúdos e se preparar para não encontrar surpresas no caminho. Mas será que também deu tempo de cuidar da mente? Se a resposta for 'não', não precisa ficar ainda mais ansioso. O Terra conversou com profissionais que lidam com a saúde mental e reuniu dicas para te ajudar a chegar confiante na hora da prova.
Revisar ou tirar a véspera da prova para relaxar?
Para os que vão fazer o Concurso Público Nacional Unificado no domingo, o 'sextou' é só na semana que vem. Muitos preferem ficar em casa para revisar os conteúdos à exaustão até o último segundo, já outros ainda vão aos aulões interativos de cursos prepatórios.
Acontece que rever o que foi aprendido não é um problema, mas também não é essencial. Na verdade, tirar um tempo para descansar na véspera da prova faz toda diferença. Para a psicóloga Alessandra Rameth, não faz mal dar aquela olhadinha nos materiais de estudo, desde que exista equilíbrio.
"Se você sente a necessidade de fazer uma revisão, tire algum momento do seu dia para revisar seus resumos ou flashcards, mas não se esqueça de tirar seu tempo de descanso. É isso que vai te manter mais concentrado na hora da prova", explica.
Já para a psicóloga Maria Luísa Lima, a revisão na véspera deve ser deixada de lado para evitar a exaustão mental. "É natural que exista investimento de tempo e de expectativas para a realizar a prova com o máximo de perfeição e conseguir a desejada aprovação, mas isso leva a um cenário de grande pressão interna", argumenta.
"Nesse sentido, é importante entender que revisar os conteúdos na véspera pode trazer à tona ansiedades e medos, que implicam em sensações ilusórias e muitas vezes catastróficas acerca de algo que ainda nem ocorreu. Isso pode, inclusive, se estender até o momento da prova e torná-la mais angustiante", destaca Maria Luísa.
Como não deixar a ansiedade tomar conta?
Se nem separando um tempo e mudando de ares na véspera o candidato consegue deixar a ansiedade de lado, é hora de tomar consciência do momento e se olhar com mais carinho. É importante entender que o 'frio na barriga' é natural e vai surgir em todo mundo, desde os estreantes até os concurseiros experientes.
"A ansiedade é uma reação natural do nosso corpo, afinal você se preparou muito tempo para esse momento e criou anseios que acabam provocando nervosismo. Mas a ansiedade não precisa ser sua inimiga nem nesse momento e em nenhum outro. Comece acolhendo seus sentimentos e emoções", destaca Alessandra.
Para isso, é importante alinhar as expectativas consigo mesmo. Não ajuda em nada pensar nos concorrentes ou se comparar com eles, por exemplo. "Concentre-se em você e no seu processo de estudo, evite comparações, cada um tem seu ritmo de aprendizado e de estudos. Também lembre-se que esse momento é uma etapa de todo seu percurso e que não define seu valor pessoal", diz.
Outra atitude essencial a ser tomada é entender que todo o investimento de tempo já foi feito e que não há mais outra alternativa a não ser fazer a prova com base no que já foi construído. Para tomar essa consciência, é preciso entender de onde vem essa pressão interna.
"Para a psicanálise, a ansiedade é como uma reação do sujeito quando se depara com um perigo iminente, que torna-se perigo em decorrência de um acontecimento traumático que não foi elaborado ou como reflexo das pressões sociais que a cultura impõe", detalha Maria Luísa.
"Isso quer dizer que a pressão pela aprovação tem a ver com os benefícios que o concurso traz, é natural que surjam sensações de nervosismo ao longo da prova. Contudo, é válido lembrar-se de tudo que já foi estudado, entendendo que o nervosismo só torna a prova mais dificultosa do que ela de fato é", continua.
Assim como Alessandra, a psicóloga também aposta no acolhimento como ferramenta para driblar a ansiedade na hora do exame.
"Não há como dissolver todas as sensações de aflição e é preciso acolhê-las, porém, sem deixá-las criar falsos cenários e isso gerar no candidato a entrada em um ciclo de ansiedade intensa. Retomar que até o momento da prova houve estudo e dedicação, é um exercício de estimular algo que tem origem na realidade. O derrotismo acerca de uma prova ruim não é necessariamente um dado real", recomenda Maria Luísa.
Dicas para fazer a prova com a mente tranquila
No entanto, a necessidade de um momento de lazer não significa que é preciso enfiar o 'pé na jaca' e curtir sem moderação. Para Alessandra Rameth, atividades de relaxamento, como meditação ou caminhada, são uma boa pedida quando aliados a uma boa noite de sono e alimentação equilibrada.
"Mesmo que a necessidade de estudar até tarde na véspera da prova seja bastante tentadora, nosso cérebro precisa de um descanso, e o sono vai te auxiliar a ter um aproveitamento maior da sua memória. Então, saia das telas e faça coisas que te ajudem a descansar mais, como tomar um chá de camomila e ler um livro", indica.
É importante dizer que o candidato não precisa necessariamente descansar "parado". Exercícios físicos também contribuem para a calma necessária. "Não precisa ser nada pesado se você não gosta; escolha fazer exercicíos que te agradam", sinaliza Alessandra. Na hora 'H', a profissional também aposta em pequenas pausas para "aliviar a mente".
Fichamento: o que é e como usar o método para potencializar seus estudos
As companhias durante esse momento de tensão pré-prova também são importantes. Segundo Maria Luísa, se distrair com pessoas queridas pode ser uma alternativa legal.
"É válido estar ao lado de pessoas importantes, sair de casa, respirar outros ares, conversar sobre outros assuntos e cercar-se de outros ambientes que não remetam à angústia que esse período pode levar", aconselha.
A psicóloga ainda concorda que é necessário que o candidato tenha distraído e descansado a mente no dia anterior. Isso inclui evitar estresses com a organização de materiais e conteúdos pré-prova. Para ela, o concurseiro precisa ajustar tudo com antecedência.
"É importante não checar algum conteúdo que ficou mal estudado ou pouco absorvido. É muito difícil que novas informações entrem quando se está na expectativa de uma avaliação densa", adverte.
Já fiz a prova, e agora?
Há um meme na internet que diz: "se encontrar com um concurseiro na rua, não pergunte nada, só abrace". Brincadeiras à parte, o candidato não costuma se livrar da ansiedade após enfrentar uma prova e seguem tensos até o resultado final.
Para conseguir viver bem sem deixar que o sentimento tome conta, Alessandra indica o acompanhamento com um psicólogo e ajustes na rotina.
"Conversar com alguém de confiança, como o seu psicólogo, por exemplo, vai te ajudar a compartilhar seus sentimentos e te dará suporte emocional. Nesse pós, foque em você e nas ações que podem te desenvolver pessoalmente e profissionalmente", diz.
Quem também acredita que o concurseiro deve seguir a vida normalmente após uma grande prova é Maria Luísa. Conforme a psicóloga, o medo é normal nessas horas, mas é preciso entender que nada mais pode ser feito para alterar o resultado que virá.
"O medo constitui o sujeito, contudo, ele também antecipa algumas situações e pode gerar muita angústia. Ter medo é um fator inevitável, que pode remeter a sensações de euforia, de agitação ou de pessimismo", explica.
"Nesse sentido, é indispensável lidar com isso tudo de forma que o candidato consiga seguir sua vida, trabalhar, conversar sobre essas sensações com quem confia, pensando que contar os dias para o resultado, checar o tempo todo, criar cenários catastróficos e ilusórios, não alterará em nada no resultado final", complementa.
