Estudos apontam que chefes perfeccionistas estimulam criatividade, mas podem levar à exaustão
Conclusão faz parte das descobertas de dois estudos sobre o tema detalhados em artigo do Academy of Management Journal
O chefe impossível de agradar que sempre encontra defeitos no seu trabalho pode, na verdade, estar inspirando você. O quanto, entretanto, depende da sua personalidade.
A conclusão é parte das descobertas de dois estudos sobre perfeccionismo detalhados em um artigo do Academy of Management Journal. Embora pesquisas anteriores a respeito de perfeccionismo no local de trabalho tenham focado em grande parte no perfeccionismo dos indivíduos em relação a si mesmos, esse estudo adotou uma nova estratégia ao focar em como o perfeccionismo de um chefe afeta o desempenho dos subordinados e os resultados no ambiente de trabalho.
"O perfeccionismo é complexo", disse Zhi Liu, da Universidade Peking, coautora de "Leader Perfectionism - Friend or Foe of Employee Creativity? Locus of Control as a Key Contingency" (Perfeccionismo do líder - amigo ou inimigo da criatividade dos funcionários? O lócus do controle como uma contingência central, em tradução livre). "O perfeccionismo é uma faca de dois gumes. Pode motivar as pessoas, mas, por outro lado, pode acabar com a energia delas."
No primeiro estudo, os pesquisadores formaram grupos aleatórios com 191 alunos da graduação de uma universidade no norte da China com líderes classificados em três categorias:
- não perfeccionista
- perfeccionista
- extremamente perfeccionista
Depois que cada estudante tinha sua sensação geral de controle avaliada, eles recebiam tarefas de seu líder que acreditavam ser uma tarefa do mundo dos negócios real.
"Para aqueles com lócus de controle interno, há um lado positivo e negativo", disse Yuntao. "Eles demonstraram uma colaboração maior com líderes perfeccionistas do que com não perfeccionistas, mas esse envolvimento caía quando o líder era um perfeccionista extremo. Por outro lado, os participantes que tinham um lócus de controle externo não exibiam maior ou menor empenho, porém experimentavam maior exaustão emocional quando trabalhavam para líderes perfeccionistas."
Os dados reunidos no segundo estudo mostraram padrões geralmente consistentes com aqueles do primeiro estudo, na medida em que os efeitos do perfeccionismo do líder no engajamento, na exaustão emocional e na criatividade dependiam da sensação de controle dos funcionários. Os pesquisadores analisaram os dados fornecidos por departamentos de recursos humanos de quatro empresas de tecnologia na China. Eles entrevistaram 102 líderes e 503 subordinados em duas ocasiões sobre como percebiam o perfeccionismo do líder e sua própria sensação de controle.
"A partir de nossa pesquisa, há duas conclusões principais", disse Yuntao. "Primeiro, ter um líder que lhe pressione a fazer um trabalho melhor inspira mais comprometimento e, no fim, criatividade, no caso dos funcionários com lócus de controle interno. Mas, em segundo lugar, também pode esgotar a energia, e esses dois processos podem coexistir ao mesmo tempo. Além disso, descobrimos que a combinação de chefes e subordinados importava bastante no efeito que um perfeccionista tem sobre os subordinados."
Perfeccionistas conhecidos, como o fundador da Apple, Steve Jobs, o fundador da Tesla e da SpaceX, Elon Musk, e a editora da Vogue, Anna Wintour, têm reputação de serem chefes exigentes que demandam o melhor de seus funcionários. Inerentes às suas exigências perfeccionistas estão a sua insatisfação com o status quo e o desejo de alcançar resultados superiores.
Para atender às expectativas de chefes perfeccionistas, os funcionários precisam ser ousados e encorajados a tentar novas maneiras de fazer as coisas, disse Zhi. A pesquisa mostrou que buscar a perfeição aumenta o comprometimento do funcionário e a inovação. Portanto, se deduz que os chefes perfeccionistas podem provavelmente fomentar a criatividade de seus funcionários. Ao mesmo tempo, o perfeccionismo dos líderes pode aumentar o estresse, esgotar os funcionários e diminuir a criatividade deles.
Dada a busca pela perfeição no ritmo acelerado de hoje, o cenário competitivo e o fato de dois terços dos líderes se considerarem perfeccionistas, uma melhor compreensão da dinâmica entre líderes perfeccionistas e trabalhadores pode ajudar as organizações a alcançarem suas metas mais audaciosas.
"O perfeccionismo é um motor fundamental para o desenvolvimento da sociedade", disse Zhi. "Todos cometem erros e aprender por tentativa e erro é como avançamos. Mas também é fato que pressionar para ser melhor, pressionar a si mesmo e às suas equipes a pensar de forma diferente, a criar soluções alternativas é como as empresas têm sucesso. Podemos tirar partido dessa pesquisa para aprender como líderes perfeccionistas podem canalizar melhor seus padrões elevados para que seus funcionários alcancem grandes feitos. /TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA
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