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Executivos fazem teatro para aprender a liderar, criar relações e entender linguagem corporal

Técnicas auxiliam em novas habilidades exigidas no mercado, dizem especialistas; executiva afirma que experiência ajuda a controlar emoções, fortalecer autoconfiança e driblar vaidade

23 abr 2024 - 09h37
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Nos palcos do teatro, a executiva Renata Soares, 47, encontrou a melhor maneira para conduzir reuniões, criar relações genuínas no trabalho e liderar equipes. A linha que une esses dois ambientes pode não ser perceptível à primeira vista, mas Renata explica que, desde que incorporou o teatro, aprendeu a controlar emoções, fortalecer a autoconfiança e driblar o ego e a vaidade. Assim como ela, outros executivos também utilizam a atividade artística como ferramenta para lidar com as pressões e os problemas cotidianos do mundo corporativo.

A prática não é recente, mas traz novos elementos. Se no passado o teatro tinha como foco ajudar a liderança a entender o papel que exercia na empresa, hoje outro aspecto assume protagonismo.

"Agora, precisamos de lideranças mais criativas. Antes era muito mais sobre como o líder conseguia se apropriar de um repertório que não era necessariamente dele. Hoje é diferente, também é sobre assumir um papel, mas é o papel de você ser você mesmo. Como que você se apropria de forma criativa desse papel que é construído ao longo do tempo?", provoca Luciana Ferreira, professora de liderança da Fundação Dom Cabral.

Ela diz que a renovação do teatro no mundo corporativo é um reflexo das novas habilidades exigidas no mercado de trabalho.

Outro diferencial da prática artística é a descoberta da própria identidade. Isso porque o profissional consegue rememorar de onde veio (história de vida). A experiência quase autobiográfica auxilia na forma em que a pessoa se expressa e se apresenta para o mundo. Quem afirma é Nany di Lima, professora de teatro para executivos da Faap.

"Chega uma hora em que essas lideranças vão perdendo um pouco a noção de quem elas são. Por exemplo, para ser um cara de sucesso, tem que ter alta performance e falar quatro idiomas. Então, a pessoa vai tentar ser igual a todo mundo e fazer o que cartilha pede. O teatro é um lugar que esclarece a identidade, explica um pouco quem você é e sugere quem você pode ser", afirma Lima.

Teatro ajuda a pensar fora da caixa

Foi exatamente essa redescoberta profissional e pessoal que levou a executiva Renata Soares a tornar o teatro algo presente em sua vida. A primeira vez em que pisou no palco foi em 2011. Desde então, participou de peças, produziu espetáculos e manteve a vivência artística em paralelo com a rotina corporativa.

Para a profissional, a criatividade experimentada nos bastidores abre um leque de possibilidades no mundo dos negócios. "No teatro, pensamos em como fazer figurino com o menor custo possível", diz ao associar que a ideia de fazer um bom trabalho com poucos recursos ajuda a liderança a ter eficiência em cenários com orçamentos apertados.

"É um pouco de pensar fora da caixa e de desenvolver um raciocínio que auxilia o mundo empresarial", comenta.

O despertar da consciência corporal é outro detalhe que faz parte dos jogos teatrais e se conecta com habilidades indispensáveis no trabalho, como a escuta ativa e o domínio para guiar conversas difíceis.

Ego e vaidade também ganham outro sentido. Segundo Renata, as opiniões conflitantes são vivenciadas no palco e por trás das cortinas e dão ferramentas para lidar com esses comportamentos de uma forma mais equilibrada no trabalho.

"Tem alguns exercícios que parecem básicos, mas são complexos: uma pessoa fecha o olho ou põe uma venda, e a outra pessoa tem que conduzir. Em outro, as pessoas vão andando em cima de uma mesa e elas têm que cair e tem as pessoas embaixo para segurar. Esses jogos teatrais ensinam confiança", exemplifica a executiva.

A maioria dessas atividades são feitas em grupo, o que facilita a desenvoltura daqueles que enfrentam dificuldades para trabalhar em equipe na vida real. "O teatro não funciona sozinho. É algo que acontece na coletividade", salienta Wanderley Damasceno, docente do curso de teatro para executivos do Senac São Paulo.

Técnicas auxiliam executiva a entender linguagem corporal

A gerente de RH da Unilever, Beatriz Bertolossi, foi atraída para a cena teatral por uma certa curiosidade. "Sempre via que teatro era o primeiro curso oferecido para os executivos que eram promovidos", conta em referência à antiga empresa em que atuava quando ainda era estagiária.

No começo deste ano, a executiva decidiu experimentar a atividade sobre a qual escutou por tanto tempo nos corredores do trabalho. Ela diz ter sido surpreendida por um fato que desconhecia. Para além dos benefícios mais divulgados, como técnicas de improviso e comunicação, a análise comportamental foi a cereja do bolo.

Os efeitos das aulas surgiram em situações do dia a dia. Agora, durante apresentações no trabalho, passou a observar sinais de desconforto que o corpo pode denunciar: virada de olho, posição dos braços e até o movimento das mãos.

"O corpo comunica mais que a voz", resume a gerente de RH. Renata Soares endossa a ideia.

"Eu me sinto muito mais segura para lidar com as pessoas. A postura corporal fala mais do que a palavra. Em reuniões, percebo pela postura corporal da pessoa se ela está gostando ou totalmente contrária ao que eu estou falando. Então, com essa leitura, consigo resolver com mais clareza as questões do trabalho", relata.

Especialistas alertam que o profissional não deve se limitar apenas nas relações com a equipe. Wanderley Damasceno, do Senac, sugere que os exercícios também são bem-vindos para professores, vendedores e palestrantes.

"É importante pensar que a audiência que você está tentando envolver não é só a pessoa liderada, tem os stakeholders (pessoas relacionadas de alguma forma com a empresa). Às vezes, um fornecedor, investidor, consumidor ou cliente. Também é neste ponto que a criatividade contribui", ressalta Luciana Ferreira, da Fundação Dom Cabral.

Onde há cursos de teatro para executivos

O curso de teatro para executivos da Faap é presencial, com oito encontros de 3 horas cada um. A turma de maio está com inscrições abertas. O valor é de R$ 3.570. para acessar mais informações.

No Senac, o curso livre para executivos acontece duas vezes por semana em uma carga horária total de 36 horas. A oferta de turmas varia a depender da região. O custo oscila entre R$ 249 e R$ 498. É possível verificar a disponibilidade neste link.

Estadão
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