Gabisteca avalia carreira como tiktoker: "Tem muita coisa por trás de uma dancinha"
Produtora de conteúdo comenta desafios e privilégios da profissão hoje desejada por muitos
Você pode não conhecer Gabriela Araujo, de 20 anos, mas certamente já esbarrou com algum conteúdo criado por ela nas redes sociais. Mais conhecida como Gabisteca, ela é um fenômeno da internet, suas postagens são uma mescla de humor, poesia, dança e atuação, seja um gênero de cada vez ou tudo junto.
Gabriela começou na produção de conteúdo na adolescência e, durante a pandemia de covid-19, viu seu público aumentar de forma meteórica. Na época, ela resolveu remar contra a maré e, ao invés de procurar um emprego de carteira assinada, arriscou na profissão autônoma digital. Seus pais, que já sabiam do sonho da filha em ser artista, a apoiaram.
"Eles sempre foram meus maiores incentivadores, mas com certeza eles confiaram muito mais [na produção de conteúdo] depois que viram o dinheiro caindo na minha conta", conta, em entrevista ao Terra.
A dedicação diária nas redes deu a Gabisteca o primeiro sinal de que aquilo poderia se tornar uma fonte de renda: uma proposta de publicidade. Na época sem experiência, cobrou a quantia simbólica de R$ 200. Apenas após conversar com um amigo notou que o cachê estava muito abaixo do cobrado por outros influenciadores. Atualmente, o valor foi reajustado e ela prefere não comentar.
Demorou, mas o empenho deu resultados. Hoje, Gabisteca soma 2 milhões de fãs no Tiktok, 501 mil seguidores no Instagram e já foi convidada para cobrir grandes eventos do entretenimento pelo canal fechado TNT, como o Emmy, o Grammy Latino e o Oscar. O sucesso vem acompanhado de uma boa renda, mas também de dificuldades e desafios.
Como é ser um tiktoker
Gabisteca acredita que ser tiktoker é como um trabalho autônomo qualquer. Ela cita a flexibilidade de horário e o fato de poder trabalhar de qualquer lugar do mundo como diferenciais, mas a pressão criativa e estética, além da rotina estendida de trabalho são pontos negativos.
"A comparação com outros produtores e a necessidade diária de criatividade são desafios. Também sempre me encontro num bloqueio criativo de ter que constantemente produzir alguma coisa boa numa velocidade e quantidade que me desgasta. Sinto que a internet exige muito e muito rápido, como se o tempo todo você tivesse ser incrível, genial e engraçado", revela.
Também faz parte da rotina dos criadores lidar com a crítica e a deslegitimação da profissão. Segundo Gabisteca, apesar de não ter sido sua realidade, é comum que familiares e pessoas próximas não vejam a produção de conteúdo como uma fonte de renda.
Para ela, esse é um problema geracional, mas é uma questão de tempo até que as pessoas entendam que tem muita coisa por trás de uma "dancinha".
"Querendo ou não é algo que surgiu agora, envolvendo muito dinheiro e ninguém sabe exatamente como fazer ou como reagir, então é comum a população estranhar", observa.
"Acho que os criadores mostrando um pouco dos bastidores, do trabalho que dá para gravar um vídeo, deixe as coisas um pouco mais fáceis. Até porque 'dancinha' só parece fácil assistindo. Na vida real exige um esforço".
Um Tiktoker ganha bem?
Como produtora de conteúdo, Gabisteca conseguiu realizar alguns sonhos, como comprar uma casa, um carro, construir a casa de seus pais e pagar suas "viagens malucas", como ela mesma chama. Porém, saber administrar as finanças é ainda mais importante.
Ela entende que, sem cuidado, pode passar maus-bocados financeiros no futuro.
"Vão ter meses de muitos contratos e meses de pouquíssimos, por isso, é importante se programar, deixar vídeos gravados para eventuais acontecimentos [que você precise se ausentar] e não se empolgar demais com seu dinheiro [...] Minha meta no momento é focar em investimentos imobiliários, acho que é uma escolha que acaba valorizando depois", revela.
O que é preciso para ser um tiktoker?
Para começar no ofício, Gabriela Araujo aconselha que as pessoas encarem a jornada como trabalho. Segundo ela, os resultados são ótimos, mas é necessário muito esforço para chegar até eles. Se programar, se organizar, manter uma boa frequência de postagens e se profissionalizar também são essenciais.
Quanto aos equipamentos para começar, ela garante que um celular com internet já é o bastante. A influenciadora acredita que o conteúdo é mais importante do que a qualidade do vídeo.
Além disso, conforme houver retorno, a pessoa pode investir em melhorias aos poucos. Mas a criatividade, por outro lado, é indispensável.
"Por ser uma profissão muito nova fica mais complicado de definir o que é regra. Não existe um caminho exato, até porque a gente nem sabe onde isso vai chegar, não é? Mas a criatividade é indispensável, afinal, é necessário sempre se reinventar, sempre pensar em formas de atrair o público e sempre inovar no seu próprio conteúdo. Por mais escassa que às vezes possa ser, a criatividade é o item básico", acrescenta.