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Grandes empresas repudiam projeto de lei anti-LGBT e reforçam agenda social

Adesão de companhias, como Alpargatas e Mastercard, que costumam ignorar posicionamentos políticos, marcou redes sociais; discussão e votação do PL 504 ocorre na Assembleia Legislativa de São Paulo

22 abr 2021 - 16h54
(atualizado em 28/4/2021 às 08h17)
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A última quinta-feira, 22, foi um dia histórico no meio corporativo brasileiro. Pela primeira vez, várias empresas se posicionaram, publicamente e no campo da política, em defesa da diversidade e dos direitos humanos LGBT. Não é pouco, e tem ainda mais valor num momento em que essa população é alvo constante de agressões e violação de direitos.

O movimento tem origem nas discussões em torno do Projeto de Lei 504/2020, que tramita na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo e está previsto para ser discutido e votado nesta quarta-feira, 28. A deputada estadual Marta Costa (PSD) quer proibir a veiculação de peças publicitárias com menção à diversidade sexual. Segundo ela, campanhas inclusivas trariam "desconforto emocional a várias famílias" e poderiam exercer "inadequada influência na formação de jovens e adolescentes".

O projeto é claramente inconstitucional e extrapola as atribuições da Alesp, uma vez que a publicidade é regulada em nível federal. Mas a discussão não é jurídica apenas. A proposição de algo assim é reveladora da agenda de prioridades de quem deveria se ocupar do combate à pandemia, à desigualdade e ao desemprego, três dos nossos maiores problemas atuais.

Adesão de organizações, que costumam ser refratárias a posicionamentos políticos, marcou as redes sociais; PL 504 será votado nesta quinta-feira na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Na foto, campanha da Close Up, marca que se manifestou nas redes sociais. 
Adesão de organizações, que costumam ser refratárias a posicionamentos políticos, marcou as redes sociais; PL 504 será votado nesta quinta-feira na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Na foto, campanha da Close Up, marca que se manifestou nas redes sociais.
Foto: Instagram Close Up Brasil / Estadão

Ainda mais perturbador é saber que a iniciativa tem chances reais de prosperar. Deputados contrários ao projeto têm enfrentado dificuldades para reunir as assinaturas mínimas necessárias para barrar sua aprovação.

Neste cenário, se espalhou pelas redes a campanha #LGBTNãoÉMáInfluência, que procura relembrar o básico: pessoas LGBTs também têm famílias. A demanda desta comunidade não é de privilégios, mas, sim, de viver em condições de igualdade, sem direitos a menos.

As maiores agências de publicidade do País foram as primeiras a colocar o bloco na rede. Desde terça-feira, 20, elas têm postado a respeito do tema nas mídias sociais e mobilizado as entidades de classe, como a Associação Brasileira de Agências de Propaganda (Abap), Associação Brasileira de Anunciantes (ABA) e Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), que soltaram notas de repúdio ao PL 504.

A novidade da última quinta-feira foi a adesão de marcas e empresas, que costumam ser refratárias a posicionamentos políticos. A Mastecard puxou a fila, sendo seguida por gigantes como Alpargatas, Ambev, Bayer, Coca Cola, Mondelez, TIM, Unilever, 99 e várias outras.

Todas fizeram posts defendendo a diversidade e se colocando contra o projeto reacionário. Além disso, o Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+, que reúne 108 grandes organizações signatárias de compromissos com a inclusão, se posicionou em nome deste grupo.

É um movimento interessante e que ecoa o que há anos acontece nos EUA. Nos momentos mais duros da administração Trump, muitas empresas vieram a público em defesa dos direitos humanos. Por aqui, a ideia nunca ganhou espaço. De alguma forma, prevalecia no meio corporativo brasileiro a ideia de que é possível separar os negócios da agenda da sociedade. Pelo menos até agora.

O posicionamento de marcas e empresas a favor da diversidade mostra que as lideranças estão mais atentas à agenda ESG, uma cobrança cada vez mais de acionistas, e às discussões que acontecem no mundo. Vale aquela máxima: quem não se posiciona é posicionado. Ficar calado em momentos como esse é o que de pior uma organização pode fazer.

* Ricardo Sales é sócio da consultoria Mais Diversidade, professor na Fundação Dom Cabral e pesquisador na Universidade de São Paulo (ricardo@maisdiversidade.com.br).

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Estadão
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