Morar e trabalhar na Austrália: Dicas, salários, custo de vida e histórias de brasileiros
Imigrantes revelam valores de aluguel e comida na terra dos cangurus, que continua atraindo imigrantes mesmo com o custo de vida elevado
A Austrália atrai brasileiros que buscam por oportunidades de viver no exterior. O país precisa de mão de obra de trabalhadores estrangeiros e por isso facilita a entrada de imigrantes em seu território. Mas como é morar na Austrália, o custo de vida, os salários, o processo para imigrar e o trabalho no país? Brasileiros que vivem e trabalham na Austrália contam abaixo sua experiência (veja nesta outra matéria dicas específicas de onde procurar vagas de trabalho na Austrália).
De acordo com o governo australiano, brasileiros formam o maior grupo de imigrantes da América Latina para a Austrália. Os mais recentes dados do Censo 2021, apontam que existem cerca de 46,7 mil brasileiros morando por lá. Desses, 20 mil são estudantes.
A Austrália está no 10º lugar no ranking de países mais felizes. Os dados da Organização das Nações Unidas (ONU) mostram que o país tem um dos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) mais altos do mundo.
Eles também destacam a diversidade cultural do país. "É difícil você encontrar um australiano, há muitos imigrantes de todos os lugares: japoneses, indianos, brasileiros", afirma Gabriel.
Segundo o casal, no início, é difícil aproveitar a qualidade de vida do país devido à carga de trabalho intensa. "A gente mal vive a qualidade de vida no início porque você trabalha de segunda a segunda," explica Victoria.
Ela e Gabriel sabiam, antes de se mudarem, que teriam que aceitar todo tipo de trabalho disponível, como faxina e mudanças, e que os finais de semana livres seriam raros. "No início, é difícil para qualquer imigrante", diz Victoria.
Essa realidade reflete a experiência de muitos imigrantes, que precisam se adaptar rapidamente e trabalhar arduamente para se estabelecer no novo país. Depois de um tempo, conseguem desfrutar de uma rotina mais estável.
Encontrando emprego na Austrália: desafios e oportunidades
No começo, as profissões com oportunidades de trabalho na Austrália para imigrantes costumam ser de faxineiro, garçom, pedreiro, pintor, entregas e reformas em geral. Um exemplo comum é o de traffic controller, profissional que seguram placas de "Pare" e "Devagar" no trânsito durante obras nas pistas.
Gabriel, que chegou sem falar inglês, trabalhou bastante fazendo mudanças e entregas de comida, enquanto Victoria atuou como faxineira.
"Para quem chega sem inglês, os primeiros empregos são faxina, mudança e entregas de comida," afirma Gabriel. "São trabalhos que você consegue arrumar facilmente, mesmo sem falar a língua."
Atualmente, Victoria trabalha como consultora de vendas em uma agência de intercâmbio local, e Gabriel é motorista. Para quem já possui um nível razoável de inglês, as oportunidades iniciais incluem empregos em bares e restaurantes.
No entanto, imigrantes com visto de estudante enfrentam a limitação de 24 horas semanais de trabalho, dificultando a obtenção de empregos em tempo integral. Geralmente, esses serviços são de meio período ou casuais.
Os setores de construção civil e saúde também demandam muitos trabalhadores estrangeiros, oferecendo diversas oportunidades devido à grande necessidade de profissionais qualificados.
Qualidade de vida na Austrália: o que esperar?
A Austrália tem benefícios atraentes para os trabalhadores. Os australianos conseguem aproveitar a vida porque muitos trabalham em horários flexíveis e home office, além de geralmente possuírem suas próprias casas, o que reduz o custo de vida.
"Eles ganham bem e não pagam aluguel como a gente. Normalmente, eles têm o próprio imóvel, então conseguem usufruir do melhor da Austrália", conta Victoria.
A Austrália é conhecida por oferecer uma das melhores qualidades de vida do mundo, em 10º lugar segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) da ONU. De acordo com eles, "a Austrália é uma mãe para os australianos."
No entanto, para os imigrantes, essa realidade pode ser um pouco diferente. Eles usufruem parcialmente dessa qualidade de vida até se estabelecerem no país.
A infraestrutura de lazer na Austrália é excelente tanto para imigrantes quanto para os locais. Existem muitos eventos gratuitos, feiras, shows e campeonatos, como o mundial de surfe, que são acessíveis a todos.
Segurança, transporte e poder de compra na Austrália
A combinação de qualidade de vida e oportunidades na Austrália são algumas das razões que motivaram a administradora Thainan Brito, 30, a mudar-se de São Paulo para Sydney. A sensação de segurança e poder de compra também são apontadas por ela.
Thainan destaca a eficiência do transporte público como uma notável vantagem em relação a São Paulo. Ela afirma que os trens estão sempre vazios, além de terem dois andares e serem rigorosamente pontuais. "Enquanto em São Paulo eu gastava até duas horas no trajeto, aqui o cenário é bem diferente, em 20 minutos você consegue chegar", afirma.
Cultura de trabalho na Austrália: diferenças e semelhanças com o Brasil
A jornada de trabalho na Austrália é bastante respeitada na Austrália em comparação com o Brasil, especialmente São Paulo. "Na Austrália, a prioridade é a qualidade de vida. Os australianos iniciam o expediente cedo e encerram mais cedo, respeitando o horário à risca" afirma Victoria.
Em média, o horário comercial na Austrália vai das 7h30 às 15h30.
A cultura de trabalho australiana é marcada por uma clara separação entre vida pessoal e profissional, o que pode ser um choque para quem vem de uma cultura de trabalho mais intensa como a do Brasil. Essa diferença também se reflete na percepção do mercado australiano sobre brasileiros, que têm uma boa reputação.
"Os australianos trabalham porque precisam, mas não têm a mesma ambição de construir uma carreira como muitos imigrantes, eles priorizam o tempo livre", comenta Thainan. "Então, existe uma certa preferência por mão de obra brasileira".
Salários na Austrália: quanto ganha?
De acordo com dados da OCDE e do Banco Mundial, a Austrália ocupa o 4º lugar no ranking global de salários mínimos. O país estipula um salário mínimo de 24,10 dólares australianos (AUD) por hora para trabalhadores com mais de 21 anos, o que equivale a R$ 90. Mensalmente, o salário bruto para uma jornada de 40 horas semanais gira em torno de AUD 964 (R$ 3.596).
Poucas pessoas recebem exatamente o salário mínimo; normalmente, ganham um pouco mais. "Para trabalhos braçais, como faxina e mudanças, é comum receber de AUD 30 a 35 (de R$ 112 a R$ 130) por hora", afirma Gabriel.
As empresas costumam pagar semanal ou quinzenalmente e é raro ver alguém recebendo apenas o salário mínimo, afirma Thainan.
"Como faxineira, ganhava inicialmente AUD 25 (R$ 93) por hora. Atualmente, ganho AUD 50 (R$ 186) por hora. Geralmente, para um trabalho de limpeza, o pagamento varia entre AUD 30 a 35 por hora, e para quem trabalha por conta própria, pode chegar a AUD 40 (R$ 149) por hora", acrescenta.
Custo de vida na Austrália: exemplos reais de brasileiros
O custo de vida na Austrália é elevado. Quem deseja migrar para o país também deve ficar atento aos gastos da região em que pretende morar. Cidades como Sydney e Melbourne têm um alto custo de vida, especialmente em relação à moradia.
"O custo de vida é muito alto, então o estudante trabalha muito para se manter", alerta Thainan.
Ela também compartilha alguns dos seus gastos fixos morando em Sydney:
- Aluguel: AUD 650 (R$ 2.424) /semana
- Internet: AUD 75 (R$ 280)/mês
- Academia: AUD 20 (R$ 75)/semana
O seguro saúde, que é obrigatório na Austrália, pode ser bastante caro. "O seguro é pago por ano e é muito caro, principalmente quando há risco de gravidez, podendo chegar a AUD 6.000 ou até 9.000 (de R$ 22.000 a R$ 33.000), dependendo do caso", observa Thainan.
Confira o preço médio de alguns itens em Sydney:
Alto poder de compra na Austrália: como aproveitar?
Embora os salários sejam bons, os gastos também são substanciais. A principal diferença em comparação com o Brasil não está apenas nos salários, mas no poder de compra.
Apesar dos altos custos com aluguel, alimentação e outros itens essenciais, o que sobra pode proporcionar um padrão de vida superior. Com o que resta, é possível fazer compras e adquirir produtos de qualidade, algo que pode ser mais restrito no Brasil. "A gente consegue comprar coisas boas no mercado, não precisa sempre buscar a marca mais barata", observa Victoria.
Thainan diz que conseguiu comprar um carro: "Apesar de trabalhar muito, nunca tive carro no Brasil, e aqui, com quatro meses, comprei um. Isso foi um grande marco para mim."