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Nem ‘short friday’ nem semana de 4 dias: carga horária menor não deve atingir profissionais de base

Especialistas explicam que, inicialmente, a redução da jornada de trabalho deve acontecer entre profissionais administrativos

2 fev 2024 - 05h00
(atualizado em 8/2/2024 às 11h30)
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Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Desde que passou a ser notícia e adotada em alguns países do mundo, a tal semana de quatro dias úteis ronda o imaginário de parte dos trabalhadores brasileiros. Por aqui, algumas empresas já estão engajadas em adotá-la. A má notícia, porém, é que para boa parte dos profissionais, a redução na carga horária de trabalho não deve atingi-los, pelo menos em um primeiro momento, acreditam especialistas.

Renata Rivetti, fundadora da Reconnect Happiness at Work e realizadora do projeto 4 Day Week Brazil, piloto que vai testar o modelo dos quatro dias úteis em 22 empresas brasileiras, explica que é mais fácil iniciar a redução da carga horária com aqueles que fazem o “trabalho intelectual”.

“O que a gente sente é que, hoje, o projeto é mais fácil relacionado a um trabalho intelectual. Falamos muito na metodologia de rever as reuniões, de rever a produtividade. Então, o trabalho intelectual, a gente faz há cem anos da mesma forma, numa semana de cinco dias, oito horas por semana. Mas o mundo mudou completamente, a tecnologia mudou completamente”, explica.

Para Eduardo Migliano, cofundador da plataforma de recrutamento e Recursos Humanos 99jobs, a redução de carga horária só pode ser considerada a profissionais do alto escalão. “A maior parte do país está em empregos das nove às seis, que estão ligados a operar uma função. Aí tem a hora do descanso, tem as ginásticas laborais e tal. No entanto, essas discussões de horas a menos de trabalho, elas estão ligadas a sempre espaços de muito privilégio”, considera.

Ele levanta a provocação para reflexão, mas prefere não se posicionar a favor ou contra a redução da carga horária. Eduardo considera que cada organização deve entender, dentro de sua realidade, o que faz sentido ou não para ela.

Felicidade no trabalho

Já Renata é incisiva em sua defesa pela diminuição do tempo no trabalho. Ela acredita que a virada de chave para que muitas empresas começassem a repensar a rotina dos profissionais está relacionada ao burnout ter sido reconhecido como uma doença ocupacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

A estratégia de diminuir a carga horária busca evitar perder esses profissionais, que possam ser acometidos por burnout ou doenças similares, assim como serem atraídos por empresas que ofereçam o benefício.

“O que eu sinto é que as empresas já estavam dando tudo de benefícios. Já ofereciam terapia, meditação, aula de yoga, um espaço bonito. E mesmo assim, elas continuavam com esses indicadores desafiadores, negativos. Com isso, elas começam, então, a entender que elas precisavam trabalhar aspectos mais da causa raiz”, considera Renata.

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Como adotar a semana de 4 dias

O projeto piloto de quatro dias úteis começou efetivamente em janeiro deste ano. Os primeiros resultados serão vistos em uma pesquisa prevista para abril, mas Renata já consegue citar algumas percepções que teve com as empresas participantes da proposta. Logo de início, ela notou uma sensação de culpa entre os profissionais.

“Por causa dessa cultura que a gente vive de que tem que estar sempre conectado, de que tem que estar sempre produzindo, as próprias pessoas falavam que muitas vezes não sabiam o que fazer na sexta-feira. Ainda ficavam se sentindo culpadas, ficavam ainda mandando e-mail”, diz.

Simone Cyrineu, CEO da produtora de vídeos Thanks For Sharing, uma das empresas participantes do projeto piloto, corrobora com a percepção sentida por Renata. “Num primeiro momento a gente fica um pouco perdido. O que eu faço com esse tempo livre? Como eu preencho isso?”, reflete. A sua empresa possui sete funcionários, todos alocados em home office e com carteira de trabalho assinada.

As tarefas desenvolvidas no dia livre pela sua equipe foram as mais variadas. Simone reforça que nem sempre é preciso aproveitar o dia a menos de trabalho como se fosse um momento de curtição. Às vezes, o profissional pode aproveitar para descansar ou dar conta de compromissos que não conseguia com a correria da rotina de trabalho.

“É um desafio. Não é um processo tão fácil assim, porque você precisa rever estruturas, rever processos e rever hábitos também. A gente é muito treinado ao longo da nossa vida toda que o trabalho é a coisa principal que a gente deve fazer na vida”, considera.

Quando chegará à base?

Renata Rivetti acredita que, para atingir o trabalhador da base, a semana de quatro dias ou quaisquer diminuições na carga horária precisam primeiro ser bem avaliadas nos setores administrativos das empresas. Ela dá como exemplo um hospital que faz parte do projeto piloto.

“A ideia é que, quem sabe, dando certo com a turma administrativa, isso possa ser levado também para o assistencial. Porque quem está adoecendo, de fato, são os técnicos, os enfermeiros… De repente, as pessoas começam a fazer turnos mais curtos, fazer uma escala que faça mais sentido e a gente traz mais flexibilidade”, considera.

Se para algumas empresas, a semana de quatro dias ainda é uma realidade distante, as short fridays, em que a carga horária é reduzida apenas nas sextas-feiras, pode ser uma opção para melhorar a qualidade de vida do empregado. Para Eduardo Migliano, da 99jobs, essa redução já é capaz de reduzir as faltas ao trabalho, os atrasos, assim como ajuda a reter os funcionários. 

Fonte: Redação Terra
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