Petrobras anuncia convocação de 2,1 mil aprovados e novo concurso até dezembro
Nova seleção com 458 vagas prevista para o final do ano tem como foco repor potenciais demissionários de nível técnico
A convocação pela Petrobras, de uma única vez, dos mais de 2,1 mil aprovados para cadastro de reserva em concursos passados, e a nova seleção de nível técnico (458 vagas), prevista para o fim do ano, vão servir para neutralizar o efeito dos planos de demissão voluntária (PDVs) das gestões anteriores e viabilizar a expansão dos negócios da estatal.
Ao Estadão/Broadcast, a diretora de assuntos corporativos da Petrobras, Clarice Coppetti, disse que, por ora, o foco é prover mão de obra voltada à produção de óleo, sobretudo no pré-sal da Bacia de Santos, e à expansão das refinarias existentes. "Estamos aumentando todas as nossas curvas de produção, com uma série de novas plataformas planejadas e novos trens nas refinarias existentes", afirma.
"A grande maioria dos potenciais demissionários via PDV é de nível técnico, são pessoas que hoje atuam no refino. Até por isso, prevemos um novo concurso com foco em repor esse perfil", explica. Ao lado do refino, outra destinação importante para os técnicos entrantes também serão as operações do Campo de Búzios, na Bacia de Santos.
A Petrobras tem hoje cerca de 39 mil funcionários em todo o País, sendo 19,8 mil de nível técnico e outros 19,1 mil de nível superior.
Do total, apenas 17% ou 6,6 mil são mulheres, uma parcela que se quer ampliar assim como a outras minorias, como negros e pessoas com deficiências. Esses dois últimos grupos terão 20% das vagas reservadas no próximo edital de nível técnico.
'Vale' e perda de talentos
Mão que conduz os ambicionados concursos da Petrobras, Coppetti se disse favorável a seleções frequentes para "oxigenar" a companhia.
Nos anos 1990, conta ela, a Petrobras ficou longos períodos sem realizar concursos relevantes. Tanto que, hoje, existe um segundo nível de executivos que entraram entre 2001 e 2006, mais de uma década depois dos antecessores mais experientes. "São 14 anos de separação que criaram um 'vale' muito grande em vários aspectos, a começar por conhecimento", diz Coppetti.
Segundo a executiva, os "vales de contratação" precisam acabar não só em nome da perenidade dos negócios, como da sustentabilidade da política de benefícios, a exemplo do plano de saúde e previdência complementar.
Outra fragilidade apontada é a perda de mão de obra experiente, pessoas que saíram da Petrobras com negócios vendidos à iniciativa privada ou mesmo fechados nos últimos cinco anos.
"De 2018 até o início desse ano, a Petrobras perdeu mais de 10 mil trabalhadores. É demais para uma empresa do porte da Petrobras. Muito conhecimento foi embora cedo demais", afirma. A fim de reverter esse quadro de perda de talentos, a companhia já aprovou em conselho medidas para ampliar e modernizar a Universidade Petrobras, centro de treinamento e desenvolvimento de profissionais sob o guarda-chuva de Coppetti.
Nesse contexto, ela nega qualquer risco de inchaço no quadro de funcionários da companhia. "Não existe inchaço em uma empresa que bate recordes de produção, amplia negócios e quer entrar em novas áreas", defende. A executiva cita o planejamento de curto prazo, para evitar rupturas na operação, mas, também, de longo prazo, para garantir boa performance da mão de obra ao longo de 30 anos.
"Nossa indústria exige altíssima segurança. Temos uma preparação de funcionários diferente de outras empresas. Entre o chamamento de um engenheiro de petróleo e sua operação autônoma, são 17 meses, sendo três meses de burocracia e 14 de treinamento e atuação assistida. Para alguns técnicos, desempenhar a função sozinho leva até sete meses", explica.
Alocações
Na semana passada, com relação a profissionais de nível técnico, além da convocação imediata dos 820 já aprovados no certame deste ano, a Petrobras anunciou nova seleção, com mais 458 vagas, que deve acontecer até dezembro.
Os novos funcionários do refino tendem a ser alocados nas Refinarias de Duque de Caxias (Reduc), no Rio, e na Refinaria Abreu e Lima (Rnest), de Pernambuco, as primeiras que devem receber novos trens, ampliando sua capacidade de produção. A Reduc, por exemplo, vai dobrar de tamanho.
Já entre os 1,35 mil candidatos com diploma de nível superior aprovados em 2021 e agora convocados, há engenheiros de todas as especialidades, além de analistas de sistemas, cientistas de dados, administradores, economistas, geólogos e geofísicos.
Esses profissionais devem ser alocados, em sua maioria, na área de exploração e produção de óleo e gás (E&P), além das chamadas atividades meio, como os departamentos de tecnologia da informação e financeiro. No primeiro deles, observa a diretora, há uma função pela qual o mercado está "sedento": os engenheiros de dados. Na indústria de óleo e gás, a posição é cada vez mais estratégica à exploração e descobertas de novas reservas fósseis, por exemplo.
Até em função desse recorte aquecido do mercado de trabalho, é esperada alguma "quebra" no número de convocados. Mas a Petrobras projeta rejeição menor que a média do mercado, de 30% de chamados não atendidos em convocações de cadastros de reserva.
Independente disso, diz Coppetti, não há novas seleções para graduados no horizonte. Como a Petrobras "se paga", ou seja, gera caixa de forma independente de dotação orçamentária, a empresa planeja aumentos de pessoal de forma autônoma, mas, por ser controlada pela União, ainda depende de autorização formal do Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos para a realização dos concursos.
Futuro com renováveis
Em que pese a negativa de momento de Coppetti sobre novas seleções, a julgar pelas ambições da gestão Jean Paul Prates com relação a novos negócios de energia renovável, fertilizantes e petroquímica, será preciso contratar mais gente a médio prazo.
Essa seria a sequência natural da criação da diretoria de Transição Energética e Sustentabilidade, chefiada por Maurício Tolmasquim. O provimento de funcionários para a nova diretoria por enquanto tem sido feito com transferências internas e deve contar com treinamentos.
"A gente sabe que toda essa questão da eólica offshore e hidrogênios verde e azul vai exigir requalificar a força (de trabalho). Mas tudo (novas contratações) depende da necessidade da área e da execução do planejamento estratégico", disse.
Questionada sobre eventual declínio de produção do pré-sal em meados da década de 2030, que pode liberar mão de obra, Coppetti ponderou que a produção se estende para além do pico de extração, com entrada de novos poços por décadas, fora as áreas inexploradas do País, a exemplo da Margem Equatorial.
"Vai haver sim uma migração para novas energias, mas não podemos esquecer que os negócios atuais da companhia ainda serão ampliados para áreas hoje inexploradas".