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Retorno ao presencial: como trabalhadores com autismo podem se preparar para o momento

Terra conversou com especialista em neurodivergência e reuniu dicas para pessoas autistas, empresas e líderes lidarem melhor com a questão

22 jul 2024 - 05h00
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Trabalhador em regime presencial
Trabalhador em regime presencial
Foto: Pexels | Banco gratuito de imagens

O home office se tornou artigo de luxo. A nova geração de trabalhadores, inclusive, até o classificam como item do 'CLT Premium'. A realidade é que, com o fim da pandemia de covid-19 muitas empresas estão optando pelo retorno ao presencial, seja no formato híbrido ou integral. Empresas como Google, Salesforce e Amazon, são apenas algumas das que adotaram políticas de retorno ao escritório.

A adaptação, claro, não é fácil para ninguém. Mas o retorno ao presencial é um desafio ainda maior para pessoas neurodivergentes. Em entrevista ao Terra, a psicóloga Tatiana Serra, psicóloga destaca que a rotina de uma pessoa no espectro autista é regrada, e sair disso pode resultar em sintomas físicos e sociais. 

"É algo difícil para pessoas autistas, principalmente se são mudanças não programadas e que eles não podem estar no controle. Por quê? Porque existe um sintoma que é a rigidez cognitiva. É uma dificuldade de se fazer mais flexível nas situações, nos ambientes, com pessoas, com tarefas. Então, se vai fazer uma mudança, de sair do home office para o presencial, vai ser uma experiência difícil para a maioria das pessoas dentro do espectro", explica Tatiana, que é autora do livro 'Autismo: olhar 360'.

Como pessoas autistas podem se preparar?

A especialista aconselha que, assim que o profissional saiba da necessidade do retorno ao presencial, alinhe com sua liderança a melhor maneira de agir para reduzir o impacto da mudança. Esses combinados podem ser paliativos e até evitar estranhamentos em relação ao comportamento, modo de se expressar ou acessórios usados pela pessoa com transtorno do espectro autista (TEA). 

"Ele pode combinar com o gestor o ambiente onde ele vai ficar, se ele pode ter pausas, se ele pode usar, por exemplo, um abafador de ruído, se ele pode se deslocar caso tenha dificuldade com a luz; se não puder deslocar, se pode usar um óculos de proteção", exemplifica.

Trabalhadora em regime presencial
Trabalhadora em regime presencial
Foto: Pexels | Banco gratuito de imagens

Tatiana reforça que tudo que for incômodo ao autista deve ser informado à liderança. O mesmo vale para expectativas e demandas, de modo que a pessoa neurodivergente possa se programar para manter as entregas e desempenho no presencial. 

Para a especialista, isso não significa que o funcionário não possa ser cobrado sobre suas responsabilidades, mas é importante saber respeitar o período de adaptação.

Como as empresas podem acolher pessoas com TEA

A colaboração mútua pode ser o caminho para uma adaptação mais perene dos profissionais autistas no presencial. A iniciativa pode partir da empresa e de suas respectivas chefias.

Para a especialista comportamental, os gestores devem conhecer seus subordinados, suas qualidades e questões que os fazem únicos. Caso a pessoa assuma uma equipe que não criou, conversas individuais com os trabalhadores e reuniões com o setor de recursos humanos podem ser valiosas fontes de informação.

Após conversar com suas respectivas equipes, os gestores estarão mais preparados para lidar com os desafios de cada um no retorno ao presencial, incluindo com as pessoas que estão dentro do espectro autista. Por exemplo, uma empresa em que todos os funcionários precisam voltar ao presencial e duas pessoas da equipe estão inseridas no espectro autista, então a liderança pode conversar individualmente com ambos para estabelecer uma programação. 

Trabalhador em regime presencial
Trabalhador em regime presencial
Foto: Pexels | Banco gratuito de imagens

"Talvez possibilitar que na primeira semana ela volte apenas dois dias presencial, depois três dias e assim por diante, até completar a semana… Outra opção seria voltar todos os dias da semana, mas com horários mais curtos, aumentando as horas presenciais até conseguir completar toda a jornada de trabalho", cita Tatiana.

Outra sugestão da psicóloga é que o gestor estabeleça uma agenda de funções a serem cumpridas.

"Se a pessoa sentir dificuldades em cumprir esse combinado, é válido conversar e saber o que está atrapalhando, se colocar à disposição para ajudar, propor soluções possíveis de serem realizadas na jornada de trabalho", acrescenta. 

Uma chefia preparada é um ótimo caminho, mas, conforme a especialista em neurodivergência, é cada vez mais aconselhável que as empresas também disponibilizem treinamentos e palestras sobre inclusão no ambiente de trabalho. A iniciativa é uma forma de evitar episódios de desconforto e preconceito entre pessoas autistas e seus colegas no presencial.

"O preconceito é comum. É responsabilidade da empresa, dos colegas e dos gestores diminuir isso. E a solução para o preconceito é informação. Quanto mais informação essa equipe tiver, melhor vai ser a aceitação, a integração dessa pessoa com autismo. Então, fazer reuniões ou fazer treinamentos de inclusão no mercado sobre aquele diagnóstico, falar sobre os comportamentos atípicos, porque usam acessórios diferenciados, quais são seus incômodos, quais são suas dificuldades, porque algumas fazem ruídos com a voz [pessoa estereotípica vocal]… e, claro, dar espaço para a pessoa ser ouvida também. Nada mais justo do que as próprias pessoas do espectro comentarem suas vivências e histórias", afirma Tatiana..

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Fonte: Redação Terra
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