Tabu sobre menopausa diminui nas empresas, mas ainda faltam políticas; líderes compartilham relatos
Devido à falta de informação, mulheres em cargos de lideranças demoraram para identificar sintomas físicos que afetavam tanto a rotina quanto a disposição no trabalho
A chegada dos sintomas da menopausa na vida da executiva Angela Gheller Telles, 53, começou aos 46 anos. A identificação dos sinais não foi imediata. Ela acreditava que, por ter tido uma menstruação tardia e por não ter histórico familiar, o climatério (transição da fase fértil para o período não reprodutivo da mulher) aconteceria mais tarde. Na época, a executiva já ocupava cargo de liderança na Totvs, empresa de softwares, e continuou desempenhando naturalmente suas funções, mas sentiu fadiga e percebeu um maior esforço para manter o foco.
A ausência de sintomas clássicos, como ondas de calor, também dificultou a identificação inicial. O diagnóstico da executiva ocorreu durante uma consulta de rotina, após um ano de menstruação irregular.
No caso de Angela, o principal sintoma que enfrentou foi a insônia severa.
A executiva começou a ter dificuldades de concentração, níveis elevados de estresse, cansaço e problemas de saúde, como aumento de glicemia.
No trabalho, mesmo com os sintomas que afetavam a qualidade do sono, Angela relatou que, assumiu as demandas que surgiam sem maiores problemas. No entanto, precisou se esforçar ainda mais para evitar que os sintomas interferissem em sua rotina corporativa.
Luciana compartilhou sua experiência com colegas, principalmente com outras mulheres no trabalho, que representavam a maioria da equipe na época.
A executiva considera que as conversas foram a principal rede de apoio. Em contrapartida, os colegas homens geralmente encaravam o tema com brincadeiras ou desinformação.
Segundo o estudo feito pela Korn Ferry, a maioria das entrevistadas que afirmou ter discutido ou estar disposta a discutir sua experiência sobre a perimenopausa ou menopausa com sua gestão direta demonstrou preferência pela liderança feminina (46%), em comparação com a masculina (33%).
O levantamento também revelou que a maior fonte de apoio veio de fora do ambiente corporativo, com 39% das entrevistadas indicando que receberam amparo fora do trabalho. Apenas 26% relataram ter recebido suporte por meio de políticas e programas da empresa.
O papel das empresas contra o tabu na menopausa
Vêm surgindo empresas com o objetivo de auxiliar organizações a implementar ações efetivas para combater o tabu que ainda envolve o tema.
Um exemplo é a Menospausa, consultoria idealizada pela empreendedora Leila Rodrigues, que tem como objetivo preparar o ambiente de trabalho para atender adequadamente mulheres que estão ou ainda irão passar pelo climatério ou menopausa.
Leila avalia que, embora muitas empresas ainda não adotem políticas específicas para esse grupo, o tema está sendo mais aceito.
Muitos líderes, incluindo gestores homens, estão dispostos a ouvir e agir, afirma a especialista. Apesar do progresso, ainda há desafios, como o fato de que a palavra "menopausa" ainda é um tabu nas organizações.
Em alguns casos, as mulheres não se sentem à vontade para falar sobre o assunto.
Outra razão para a necessidade de políticas públicas adequadas é a evasão de mulheres acima dos 45 anos do mercado formal de trabalho. Segundo a especialista, além da saída de profissionais experientes, as empresas podem sofrer impactos financeiros tendo em vista o aumento de custo com a rotatividade e o investimento para treinar novos funcionários.
Políticas básicas que devem ser adotadas pelas empresas
A Sociedade Internacional de Menopausa lançou recentemente uma cartilha para orientar empregadores a acolher as funcionárias durante essa fase da vida.
O documento sugere a adoção de benefícios estratégicos para mulheres, como folgas em períodos em que os sintomas estejam mais agravados, acesso a especialistas em menopausa e tratamentos variados e capacitação dos líderes para que possam apoiar as funcionárias e tenham soluções adequadas.
Confira a cartilha aqui.
Para Leila Rodrigues, estas são as principais ações que as empresas podem fazer para auxiliar as colaboradoras:
- Orientação e apoio individualizado para as funcionárias: as empresas devem oferecer programas que orientem as mulheres sobre o que esperar e como se cuidar adequadamente. Isso inclui orientação sobre saúde, atividade física e como lidar com os sintomas.
- Local de trabalho adaptado: para muitas mulheres, o ambiente de trabalho precisa ser ajustado para atender suas necessidades durante a menopausa. Isso pode incluir o fornecimento de uniformes mais confortáveis, principalmente em ambientes industriais. Também é importante garantir que o local de trabalho tenha boa ventilação e acesso fácil ao banheiro.
- Apoio psicológico: criação de espaços dentro da empresa para grupos de apoio. Esses grupos permitem que as mulheres compartilhem suas experiências, se sintam ouvidas e recebam orientação sobre como lidar com a menopausa de forma saudável. Além disso, a presença de psicólogos especializados pode ser fundamental para trabalhar questões emocionais relacionadas à fase, como perda de autoestima ou dificuldades na vida sexual.
- Benefícios relacionados à saúde e bem-estar: necessidade de subsídios para compra de hormônios, programas de atividade física, nutrição especializada e orientação sobre saúde íntima.
- Apoio à continuidade no mercado de trabalho: manter a confiança das mulheres em suas competências, mesmo quando enfrentam dificuldades cognitivas temporárias, como perda de memória.
- Envolvimento de líderes e colegas: a inclusão das mulheres em atividades, eventos e discussões dentro da empresa também é fundamental. Sensibilizar líderes e colegas sobre como lidar com essas questões e garantir que as mulheres sejam incluídas e valorizadas pode melhorar muito o ambiente de trabalho.
Conselhos para as mulheres
Para mulheres em climatério ou na menopausa, a executiva Luciana Rodrigues sugere algumas dicas para lidar com a menopausa de uma forma mais tranquila, entre elas:
- Gentileza consigo mesma: reconheça e aceite o momento sem culpas ou comparações.
- Busca por conhecimento: busque informações sobre os sintomas, tratamentos e históricos familiares para fazer escolhas conscientes.
- Apoio médico de confiança: pesquise, converse com outras mulheres e peça indicações de profissionais alinhados às suas necessidades pessoais.
- Troca de experiências: valorize conversas com outras mulheres como fonte de aprendizado e apoio, sem cair em comparações.