Tempo mínimo para ficar em um emprego: o que profissionais de RH levam em conta nas seleções
Especialistas comentam que o tempo de empresa deve ser suficiente para o profissional deixar um legado
O que vale mais no currículo: o tempo de empresa ou o trabalho que foi feito? Para quem muda de emprego com frequência, essa pode ser uma verdadeira preocupação.
Há que se considerar, sim, mas, segundo especialistas recrutamento e seleção ouvidos pelo Terra, não é fator determinante para a contratação ou rejeição. Pelo contrário, eles afirmam que o foco está no legado do trabalhador enquanto esteve na empresa. Isso quer dizer que a alta rotatividade pode dificultar o desenvolvimento profissional, mas é importante olhar para o que o candidato construiu em seu trabalho anterior, e não o tempo em que ficou contratado.
Essa compreensão depende de muitos fatores, como a área de atuação e expectativas, mas o ideal é que um candidato enfatize o trabalho que já fez e o que já construiu em outros empregos, independentemente do tempo que passou trabalhando em determinado local.
"Os resultados contam mais que o tempo de permanência. Principalmente se as saídas foram para melhores oportunidades e na sequência do emprego anterior", diz Lúcia Madeira, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos do Rio de Janeiro (ABRH-RJ).
Outro fator importante é o alinhamento de expectativas do candidato com a empresa. Com esse aspecto bem definido, é possível que o trabalhador se desenvolva na carreira e entregue resultados melhores.
Para Alisson Souza, CEO da Abler, empresa criadora de um software de recrutamento e seleção, pessoas que estão entregando resultados e têm bom alinhamento com a empresa tendem a permanecer mais tempo em um cargo.
"Lógico, existem nuances relacionadas ao próprio mercado, onde bons candidatos recebem propostas para mudar de emprego quase que semanalmente (e até diariamente em alguns casos)", opina.
Ficar pouco tempo no emprego é mau sinal?
Ficar pouco tempo em um cargo pode indicar falta de estabilidade no trabalho e dificuldade no desenvolvimento de uma carreira sólida. Por outro lado, ficar em uma empresa por muito tempo permite a construção de um legado.
Apesar do tempo de empresa ser importante na avaliação de um candidato, é fundamental entregar bons resultados, que falem por si próprios. Até porque uma pessoa não deixa seu emprego apenas por incompetência, mas há ainda uma série de motivos para demissões (incompatibilidade de horários, propostas melhores etc.).
Lúcia Madeira, da ABRH-RJ, diz que uma movimentação muito grande pode mostrar problemas de adaptação ou falta de comprometimento.
"Pode indicar que o profissional não se adapta ou está sempre de olho em outras oportunidades. Isso demonstra desinteresse ou baixo desempenho. Se for frequente, o recrutador vai querer saber os motivos, e o candidato deve ter respostas consistentes", afirma.
Existe tempo mínimo?
Para Alisson Souza, no entanto, não existe tempo ideal para permanecer em um emprego. Em sua avaliação, tudo depende do alinhamento de expectativas entre empresa e funcionário.
"Se alguma das partes não estiver alinhada, o melhor é encerrar o ciclo. Não é uma boa prática entrar e sair das empresas rapidamente (menos de 1 ano de trabalho), pois dificilmente a pessoa conseguiu, de fato, construir e desenvolver sua carreira", alerta.
Sobre o tempo de permanência ideal, há divergência entre os especialistas em RH. Marcus Marques, CEO do grupo Acelerador, defende a existência de um tempo mínimo de 3 anos. Para ele, é muito difícil que o colaborador consiga colocar suas ideias, participar de forma efetiva e contribuir realmente com o crescimento da empresa em um tempo menor.
"E quanto mais o colaborador fica, melhor para ele e melhor para a empresa. O profissional que fica muitos anos em poucas empresas é muito mais valorizado no mercado, além da permanência gerar oportunidades de crescimento dentro da empresa. E para a empresa, reter talentos é importante para manter a alta performance", explica.
Lúcia Madeira afirma que tudo pode variar de acordo com a área de atuação, do cargo, do tipo de empresa e até mesmo do momento da economia. Considerando o investimento necessário em treinamento e adaptação de novos funcionários, a projeção é de no mínimo dois anos, mas pode variar bastante.
"A movimentação costuma ser mais frequente no início da carreira", acrescenta.
Outros especialistas avaliam que não há tempo definido para ficar em uma empresa, e que tudo depende de fatores como o contexto do negócio, nível da posição e até da gestão.
"Dificilmente um candidato que permanece pouco tempo nas empresas conseguiu, de fato, se desenvolver e entregar aquilo que foi combinado no início da jornada. Pode acontecer, também, da própria empresa não dar todo o suporte necessário para a pessoa se desenvolver. É sempre uma via de mão dupla. O mais importante, é que este alinhamento de expectativas seja feito constantemente para entender se as duas partes (empresa e funcionário) estão, de fato, felizes e motivadas para continuar a jornada", diz Marcus Marques.
Área de atuação pode influenciar
As áreas de atuação podem influenciar no tempo de empresa dos funcionários. Isso porque algumas empresas naturalmente possuem mais rotatividade entre os trabalhadores. Algumas áreas citadas pelos especialistas são tecnologia, vendas, como o varejo, e marketing.
"Existem áreas de ciclo mais rápido, como vendas e marketing, e outras onde se espera mais permanência, como técnicos especializados ou administrativos. Também varia pelo porte ou tipo de empresa: empresas grandes e indústrias costumam ter maior permanência do que empresas pequenas, seja pela possibilidade de crescimento de carreira como pela estabilidade econômica do negócio", diz a presidente da ABRH-RJ.
"Por isso tudo, vale o profissional se dedicar plenamente em cada trabalho, tirar lições e aprendizados dali, antes de se arriscar por promessas incertas", completa Lúcia.