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Uma vida de viagens: cônsul detalha rotina de quem segue a carreira de diplomata

Hoje cumprindo serviços no Uruguai, Ana Lélia Beltrame está na carreira diplomática há 30 anos e conta desafios da profissão

26 jul 2023 - 07h15
(atualizado às 12h01)
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Argentina e Brasil, diplomatas.
Argentina e Brasil, diplomatas.
Foto: Foto:Istock

O caminho trilhado por Ana Lélia Beltrame do Brasil até o Uruguai não foi linear. Antes de a diplomata chegar ao país vizinho, ela passou pelo Quênia, França, Grécia, Canadá e Guiana Francesa. Depois de cumprir missão em Motevidéu, hoje ela cumpre o segundo ano de serviços em Rivera, na fronteira com a cidade de Sant'Ana do Livramento, no Rio Grande do Sul.

"No início, é muito desafiador começar a vida do zero em outro país", conta a diplomata, em entrevista ao Terra. "É obrigatório na carreira diplomática, residir no país em que você está prestando a missão". 

E essa missão que realizam profissionais como Ana Lélia é basicamente o de representação do seu país de origem no exterior. O trabalho em si, no entanto, varia. O diplomata atua:

  • Na negociação de acordos internacionais; 
  • Na promoção dos interesses nacionais;
  • Na melhora de imagem internacional do país que representa; 
  • No estabelecimento de relações culturais, econômicas e políticas com outras nações; 
  • Nas reuniões de entidades internacionais, como Organizações das Nações Unidas (ONU). 

"O diplomata tem como missão principal fortalecer os laços de amizade entre os países, prestando apoio necessário", explica Ana Lélia. 

Até mesmo por isso a necessidade de trocar de país com frequência. E é o diplomata prestador de serviços que irá indicar outros países onde pretende atuar. Uma missão diplomática pode durar de dois a cinco anos.  

"A gente não escolhe país pelo potencial turístico, a gente escolhe o país pela necessidade administração", acrescenta.

Como é o trabalho de um diplomata

Com 30 anos de atuação em diversos países do mundo, hoje Ana Lélia é cônsul do Brasil no Departamento de Rivera, no Uruguai. Assim como nas demais fronteiras que cruzou, também no Uruguai ela carrega amigos por onde passa. Na cidade de aproximadamente 78 mil habitantes, por exemplo, ela transita pelas ruas e conhece boa parte dos moradores. 

Todos os dias, por voltas das 8h, ela se dirige até o consulado do Brasil no Uruguai, onde desempenha uma rotina sem muitas surpresas: observar o que está acontecendo de certo ou deu errado; checar o que é mais urgente a ser resolvido; atender as pessoas que estão enfrentando algum problema com documentação ou com a entrega de encomendas, por exemplo. 

Para realizar suas atividades, a cônsul também conta com o apoio do cônsul-adjunto e da equipe administrativa. Juntos, realizam as atividades necessárias do dia a dia.

"A programação cultural é uma das coisas que a gente faz. Ela sempre acontece aqui dentro do consulado", explica. 

Sua missão já está no segundo ano e, mesmo com toda essa bagagem, ela assegura que é difícil se despedir da equipe ou dos amigos que fez onde está exercendo o cargo.

"É sempre muito difícil começar do zero, mas com o tempo a gente se acostuma e vai criando processos que dinamizam. Organizar uma casa nova fica mais fácil, as amizades no trabalho levam menos tempo para se concretizar. A vida e a missão do diplomata é essa, levar algo que temos e receber algo em troca", destaca. 

Quem pode ser diplomata?

A carreira de diplomata é aberta a qualquer profissional com curso superior. No caso de brasileiros que desejam seguir a área diplomática, também é exigido do profissional a aprovação em concurso público realizado pelo Instituto Rio Branco, órgão responsável pela formação dos diplomatas brasileiros e que está ligado ao Ministério das Relações Exteriores.

"Já conheci pessoas que cursaram jornalismo, geografia, e até mesmo cursos relacionados à área da saúde, prestando concursos no Instituto Rio Branco. O que acontece é que muitos que desejam seguir a carreira na diplomacia acabam procurando o curso de relações internacionais ou direito porque já existem algumas disciplinas na grade que provavelmente são abordadas no concurso", explica Leticia Britto, professora de Relações Internacionais na Universidade Federal do Pampa, em Santana do Livramento.

Há outros requisitos para seguir na carreira, como: 

  • Ser brasileiro nato;
  • Estar em dia com as obrigações eleitorais;
  • Estar em dia com as obrigações do Serviço Militar, no caso dos candidatos do sexo masculino;
  • Apresentar aptidão física e mental para o exercício das atribuições do cargo, verificada por meio de exames pré-admissionais;
  • Dominar a língua portuguesa, mas ter conhecimento em inglês, francês e espanhol.

O Concurso de Admissão à Carreira Diplomática é constituído de três fases:

  • Primeira Fase: prova objetiva em formato de teste, de caráter eliminatório, constituída de questões de língua portuguesa; língua inglesa; história do Brasil; história mundial; política internacional; geografia; economia; e direito.
  • Segunda Fase: provas escritas de língua portuguesa e de língua inglesa, ambas  de caráter eliminatório e classificatório;
  • Terceira Fase: provas escritas de história do Brasil; de política internacional; de geografia; de economia; de direito; de língua espanhola e de língua francesa; de caráter eliminatório e classificatório.
 Leticia Britto, professora de relações internacionais.
Leticia Britto, professora de relações internacionais.
Foto: Foto: Andressa Walter

Quanto ganha um diplomata brasileiro?

O salário de um diplomata pode variar. No início da carreira, com cargo de terceiro secretário, o salário pode variar entre R$ 19.199,06 e R$ 19.199,53, conforme valores vigentes em setembro de 2021 e indicados no site oficial do Itamaraty. 

O plano de cargos e salários da carreira diplomática segue da seguinte forma: 

  • Segundo secretário: R$ 21.226
  • Primeiro secretário: R$ 22.802
  • Conselheiro: R$ 24.500
  • Ministro de segunda slasse: R$ 26.319
  • Ministro de primeira classe (embaixador): R$ 27.362
Fonte: Redação Terra
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