Cearense supera medo e vai à Coreia pelo Sem Fronteiras
"É realmente um choque de cultura", diz estudante que ficará um ano no país
O plano era se aprimorar. E o destino foi a Coreia do Sul. O estudante cearense Caio César Bezerra Carneiro, 21 anos, decidiu enfrentar o medo e buscar um melhor conhecimento profissional em terras ainda desconhecidas. O jovem cursa Engenharia de Produção na Universidade de Fortaleza (Unifor). Desde janeiro, estuda Engenharia Industrial na Hanyang University, na Coreia do Sul, como integrante do Ciência sem Fronteiras, programa do governo federal que envia estudantes brasileiros ao exterior para obterem experiência nas áreas da futura profissão.
Carneiro conta que teve de superar os receios sobre uma cultura muito distante da brasileira para ter um melhor desenvolvimento profissional. “Tinha medo demais antes de vir, mas superei. É realmente um choque de cultura. Eu vim para a Coreia do Sul em janeiro deste ano para fazer um curso de inglês, dois meses antes do previsto no edital. Peguei inverno rigoroso e enfrentei uma grande diferença cultural. Para mim foi bom porque vivi uma nova vida, vivi um ano fora do que eu conhecia”, conta.
Além da experiência na universidade, Caio adquiriu um grande ganho na parte profissional. Isso porque ele foi aprovado em um programa de estágio da Hyundai e pode ficar um mês trabalhando junto com os engenheiros de projeto da empresa. A montadora fez um acordo com o governo federal em maio de 2012 para receber estudantes do País na fábrica coreana.
Os investimentos da empresa no programa somam US$ 1,5 milhão no Ciência sem Fronteiras desde o início do acordo. Até agora, já passaram por lá 204 brasileiros. “A Hyundai orienta, ajuda os jovens a entender a cultura coreana, faz eles trabalharem e colocarem em prática o que aprendem. Além disso, os estudantes trabalham em projetos e têm de apresentar a performance a um grupo da Hyundai”, afirmou June Park, diretor-geral de negociações políticas da Hyndai.
“Foi muito bom porque passei em diversas áreas da Hyundai, como por exemplo a área de qualidade do Veloster. No projeto final, eu tive de criar um novo carro para a marca, embasado em todas as áreas que passei pela empresa. Foi difícil, mas ao mesmo tempo, uma experiência muito boa”, disse Caio.
Diferenças no estudo
Carneiro afirma que, desde o início, já percebeu a grande diferença no aprendizado do Brasil e da Coreia do Sul. Ele diz a principal mudança foi com relação à didática, apesar de não gostar do estilo de avaliação.
“É diferente no estilo das aulas, na parte de estrutura, na didática do professor para passar os conteúdos. Eu achei bem mais fácil de aprender, de entender o que o professor está falando. Não gostei da avaliação, que me deixou um pouco chateado. Aqui na Coreia eles priorizam a memorização do conteúdo, querem que você decore mesmo o que foi passado”, disse.
Para o estudante, porém, livros, material didático no geral, são melhores que no Brasil. "Aqui eles disponibilizam materiais completos com apresentações dos professores e vídeos”, afirmou.
Além disso, Carneiro contou que as aulas práticas mostram para o estudante como se comportar no mercado de trabalho. “As aulas de logística, por exemplo, me proporcionaram diversas experiências diferentes. Em uma delas, fomos até um porto aqui na Coreia para vermos como é todo o processo de entrada de materiais. Depois vimos toda a estrutura do armazém e como é feita a distribuição”, contou.
Turismo sem Fronteiras
O estudante afirma que muitos participantes do Sem Fronteiras não sabem aproveitar os benefícios do programa e apoia os que conseguem o “meio termo”. “Acho que quando as viagens não atrapalham os estudos, acabam sendo mais uma experiência bacana. Você vivencia outra cultura, vê outros países e isso acaba sendo muito importante pela oportunidade de conhecer coisas novas. Mas só viajar, não fazer estágio, não focar, acaba sendo um problema. Tem gente que pensa apenas em passear, viajar, realmente acontece", reconhece.
O jovem acredita que os maus estudantes - cujo comportamento supostamente inadequado foi citado recentemente por uma da universidades cadastradas - podem influenciar na continuidade do programa. “Eu acho que pode influenciar (na decisão do governo em repensar o programa). (...) Já teve algumas mudanças que o governo fez, como por exemplo aumentar a nota de corte e acabar com o curso inicial de inglês. Acho que esse pessoal já está influenciando no projeto.
Um dos problemas enfrentados pelo governo federal com relação ao Ciência sem Fronteiras é justamente com relação à língua. Dados obtidos pelo Terra apontam a maioria dos estudantes preferem ir a Portugal. Segundo a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), autarquia do Ministério da Educação, o problema está na falta de domínio de outros idiomas por parte dos estudantes brasileiros.
O jornalista viajou a convite da Hyundai
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