Charles Fadel cita desafios para presença da IA em sala de aula e a importância do pensamento crítico
Especialista ministrou palestra sobre educação e inteligência artificial no evento de 25 anos da Fundação Telefônica Vivo
Charles Fadel, especialista em educação, presidente do Center for Curriculum Redesign (CCR) em Boston (EUA) e professor visitante de Harvard e do MIT, afirma que, atualmente, os principais desafios a serem enfrentados para a presença da inteligência artificial (IA) em sala de aula são o acesso à tecnologia e o treinamento de professores e alunos.
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"O problema número um é o acesso à tecnologia. Essa é a base. Depois, você tem o treinamento do professor. Tem também o treinamento do aluno. Tudo tem que acontecer. A base, o acesso digital, é necessário, não suficiente. Os outros dois são necessários", diz Fadel em entrevista ao Terra.
"Como qualquer tecnologia, existem riscos em usá-la da maneira errada. Da mesma forma que você pode usar um machado da maneira errada. Então, qualquer tecnologia, você tem que ser treinado", acrescenta.
O especialista também pontua a importância de desenvolver o pensamento crítico nos alunos para usar a inteligência artificial nas escolas.
"Pense na IA como um mecanismo de busca com esteroides. Temos que ajudá-los a desenvolver o pensamento crítico para que eles saibam como usar a IA. [...] E na vida deles, a IA já está em todo lugar. Não tanto quanto o TikTok [risos]. Mas está em todo lugar. Profissionalmente, está em todo lugar. Então, como você poderia viver sem saber como usá-la? Você está em desvantagem se não souber", explica.
Sobre o uso de IA em sala de aula para ajudar no aprendizado, Fadel defende que as ferramentas sejam usadas como um "amigo inteligente" e que também deve ser criticado.
"Pense nisso como um amigo inteligente que pode responder a todas as perguntas, mas você também tem que julgar as perguntas, julgar a resposta. Você tem que elaborar bem as perguntas e julgar as respostas. Então é um amigo, mas como até mesmo um amigo humano, você não confia em tudo o que eles dizem. É preciso manter isso em mente", afirma.
O especialista abordou o assunto na palestra Educação e Inteligência Artificial: transformando o ensino e a aprendizagem que ministrou durante o evento Transformação Digital na Educação: Desafios e Tendências, que ocorreu nesta terça-feira, 1º, no Auditório Eco Berrini, na zona sul de São Paulo. O encontro fez parte da celebração dos 25 anos da Fundação Telefônica Vivo no Brasil.
Durante a palestra, Fadel ainda defendeu que, além de se preocupar em como usar as ferramentas na sala de aula, é indispensável pensar no que deve ser ensinado e modernizar os currículos, além de preparar os professores.
"Como vamos usar a IA na sala de aula importa. Mas por que usar todo esse poder para ensinar coisas obsoletas? E, no entanto, foi isso que aconteceu com a educação. E então estamos neste mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo. E qual é o caminho certo de volta? Na nossa opinião, é ser mais versátil [...] Você tem uma ampla gama de ferramentas em seus bolsos. Então, isso significa que temos que ensinar mais disciplinas, disciplinas diferentes. [...] E os professores não estão preparados para fazer isso porque não os preparamos. Os currículos não são arquitetados dessa forma."
"Precisamos fornecer muito mais suporte aos professores. E isso virá na forma de aprender as ferramentas de desenvolvimento de disciplina. Desenvolvimento curricular. Desenvolvimento curricular para os professores com um grau muito alto de qualidade para que ele possa realmente funcionar. [...] Governos em todo o mundo terão que aceitar que eles têm que desenvolver um currículo muito mais detalhado, até os planos de aula. Eles têm que treinar professores", completou.
Esse é o tema inclusive abordado no novo livro de Fadel, Education for the Age of AI (2024), que teve uma versão em português lançada nesta terça-feira no evento. A edição foi financiada pela Fundação Telefônica Vivo, Fundação Santillana e Instituto Península.
No encontro, Christian Gebara, CEO da Vivo e presidente do Conselho da Fundação Telefônica Vivo, reforçou a importância da conectividade com velocidade e com disponibilidade para o País ser digitalmente desenvolvido no tema de educação.
"Somos uma empresa que leva a conexão. E a educação só vai ser realmente massiva, capilar, se a gente usar a conectividade e a digitalização [...] Foram 25 anos, temos outros 25 anos pela frente e nós estamos aqui muito focados na inauguração da conectividade. E a gente tem que continuar formando professores e estudantes em todas as competências digitais, na matemática, nas habilidades, talvez mais desenvolvidas na trilha do ensino médio, e, com certeza, nos preparar para o tempo da implementação e o uso da inteligência artificial", disse.
Lia Glaz, diretora-presidente da Fundação Telefônica Vivo, também falou sobre refletir sobre o tema nos próximos anos: "Pensar a inteligência artificial muito além de algo que vai ser uma ferramenta no nosso dia a dia, mas que vai nos provocar a humanizar muito mais a nossa educação, e também a pensar em novos saberes que a gente precisa desenvolver, tanto nos nossos estudantes. Eu gosto muito da história da modernização dos conteúdos básicos, sem perder de vista que eles são essenciais, e dos novos saberes que a gente precisa desenvolver também, nesse mundo que se transforma tão rapidamente".