Script = https://s1.trrsf.com/update-1734630909/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Com aulas presenciais restritas na pandemia, faculdades apostam em modelo misto

Este período de classes apenas a distância mostra que combinação entre físico e digital pode funcionar

27 ago 2020 - 10h10
Compartilhar
Exibir comentários

No ano passado, quando Kelvin Monheit escolheu a universidade em que cursaria Arquitetura, o formato 100% presencial foi requisito. Neste ano, depois de pouco mais de um mês de vivência na Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), veio a pandemia e a notícia de que as aulas seriam todas remotas.

"No começo foi meio difícil para mim, pois tenho muita dificuldade com o formato a distância. Ainda mais por ser um curso em que muitas matérias precisam de aulas práticas. No primeiro semestre, não estava tão preparado psicologicamente para o ensino remoto", conta.

Entretanto, a forma como o curso tem sido conduzido ajudou a diminuir sua apreensão inicial. "Gostei do comportamento de alguns professores, sempre dispostos a ajudar, afinal estávamos todos no mesmo barco. E achei bom a faculdade ter deixado pendentes as disciplinas práticas do primeiro semestre para concluirmos presencialmente", conta.

Surpresa. Os momentos em sala de aula são fundamentais para Monheit, até pela necessidade do uso da infraestrutura da escola com materiais técnicos para o desenvolvimento de maquetes, linguagens visuais e outros processos dos quais ele não dispõe em outros locais. Com a experiência desse semestre, no entanto, a relutância de Monheit com as aulas remotas diminuiu, desde que sejam mescladas a encontros presenciais. Sem se dar conta, ele se tornou um adepto do ensino híbrido.

Ele e a instituição onde estuda. Na Faap, o período de isolamento social serviu para esclarecer os benefícios aos alunos mais reticentes ao estudo remoto. "Originalmente, quem adquire um curso presencial dificilmente migra para uma opção EAD. Porém, com a pandemia, tais alunos tiveram um contato inédito com o ensino remoto e alguns ficaram plenamente satisfeitos", diz Rogério Massaro, assessor acadêmico da Faap.

As aulas seguem remotas neste segundo semestre e está nos planos adotar a modalidade híbrida de forma permanente na graduação e em seus cursos de pós. "Agora que experimentamos tanto o sistema 100% presencial como o totalmente remoto, vimos que é possível combinar o melhor dos dois mundos. E já decretamos de forma aberta: não serão todas as disciplinas que voltarão a ser presenciais", afirma Massaro.

Como ensaio tanto para o futuro método como forma de se adequar às necessidades sanitárias pós-pandemia, a Faap realizará testes com docentes de 60 anos ou mais. Eles irão coordenar aulas em laboratório a distância, contando com um técnico que será orientado nas atividades com os alunos.

"O que percebo em conversas com reitores de instituições de ensino é que no pós-pandemia vai prevalecer o ensino híbrido. Pelo menos na FGV, temos planos para que a ferramenta vigore em todos os cursos", diz Antonio Freitas, pró-reitor da Fundação Getulio Vargas.

Assim que as aulas presenciais foram interrompidas, a instituição se adaptou para que a grade curricular fosse cumprida a distância e tem ajustado sua metodologia para o futuro. A reformulação parte da experiência acumulada com os cursos lato sensu para empresas, que já eram remotos.

Professores. Entretanto, estudantes convencidos das vantagens da opção mista e estrutura física montada para a hibridez não são suficientes para adotar esse modelo no ensino superior. Instituições que atuam já há algum tempo com o formato alertam que a adesão do docente é fundamental. E isso só ocorre se ele tiver informação e formação sobre as ferramentas utilizadas na modalidade.

Na Universidade de Guarulhos (UNG), que há alguns anos oferece o formato híbrido em dezenas de cursos intitulados semipresenciais, os professores participam de programas de formação continuada. "Promovemos tais atividades não apenas em função do ensino híbrido, mas sempre com o propósito de manter o foco na qualidade de ensino e adequação às exigências do mercado. Um exemplo é a roda de mestres, com a finalidade de promover capacitação, mas também trocas de experiências e boas práticas de ensino em sala de aula, presencial ou virtualmente", afirma Eloi Lago, reitor da UNG.

No Centro Universitário Salesiano de São Paulo (Unisal), que desde 2018 trabalha propostas de mesclar o ensino remoto com o presencial na graduação, a formação dos docentes para os novos formatos inclui não apenas capacitá-los para usar os ambientes virtuais, mas também estabelecer um novo planejamento de como organizar o conteúdo das aulas.

"Discutimos todos os aspectos que envolvem a modalidade híbrida, com a concepção e o redesenho dos instrumentos de aprendizagem e avaliação. O importante é definir quais objetos de aprendizagem serão trabalhados presencialmente. Em nosso modelo pedagógico, com foco na resolução de problemas, vamos sempre privilegiar as atividades práticas nos momentos presenciais", explica Eliana Rodrigues, pró-reitora de Ensino, Pesquisa e Pós-Graduação da Unisal.

Em 2021, a instituição aumentará sua oferta de ensino híbrido para os cursos de Engenharia, Educação Física, Administração, Ciências Contábeis e Pedagogia. "Realizamos um investimento elevado para termos tanto um servidor elástico na nuvem, que suporte um maior número de acessos simultâneos, como para que os alunos e professores recebam treinamento", diz a pró-reitora.

Paradigma. É preciso, de fato, um investimento robusto em ferramentas e uma formação continuada de docentes para conseguir conquistar a confiança de estudantes e professores e, então, convencer o público brasileiro da eficácia do ensino realizado a distância.

Dos cerca de mil entrevistados brasileiros consultados na pesquisa Global Learner Survey, conduzida pela Pearson Education, 90% pressupõem que deverão assumir maior responsabilidade sobre o que eles aprendem. Porém, a maioria dos participantes acredita que as instituições de ensino estejam atrasadas no contexto do universo digital: 75% dos entrevistados creem que as escolas são menos eficazes no uso da tecnologia que outros segmentos, como o setor bancário.

"Devemos lembrar que o mercado educacional tem um processo mais lento de adoção de tecnologias, pois a escola é uma instituição histórica. Ela não pode fazer pilotos, como um banco que para mudar um processo de pagamento pode testar de forma isolada. As instituições têm de ter muito cuidado. Mas esse zelo, ao mesmo tempo em que implica mais tempo, dá segurança e faz da escola um dos setores com maior confiança no Brasil", afirma Juliano Costa, vice-presidente de produtos educacionais da Pearson Education para a América Latina.

Instituições já lançam cursos híbridos diferentes

Enquanto a maioria das instituições de ensino teve de se adaptar às aulas remotas e agora trate o híbrido como o modelo mais provável no retorno ao câmpus, algumas delas, que já atuavam com o formato misto, aproveitam o momento para criar produtos e amadurecer as ferramentas de execução.

A Belas Artes se prepara para lançar em 2021 cursos híbridos em uma modalidade chamada de Phygital. Estão no catálogo graduações em Controle de Obras, Construção de Edifícios, Estética e Cosmética, Análise e Desenvolvimento de Sistemas.

A FMU, que já tem há três anos cursos EAD mesclados a aulas presenciais, passa agora a contar também com opções presenciais em que parte da graduação é feita a distância. Com o nome de Curso Flex, elas são ofertadas em todas as áreas neste segundo semestre de 2020.

No formato, as atividades práticas profissionais são realizadas nas unidades e o conteúdo teórico fica disponível no ambiente virtual, espaço no qual os professores gerenciam as aulas remotas, com textos e conteúdo multimídia. Os cursos de Saúde têm ainda laboratórios virtuais, com softwares que permitem que o estudante realize diversos experimentos do modo mais realista possível.

"Um desafio referente à modalidade híbrida é garantir a qualidade na interação entre docentes e estudantes nas atividades online. Na FMU, entendemos que o isolamento social nos trouxe a oportunidade, mesmo que forçada, de experimentar mais as ferramentas de interação pessoal", diz Luciano Reolon, gerente da Escola de Ciências da Saúde.

Estadão
Compartilhar
Publicidade
Seu Terra












Publicidade