Como o afeto e o amor podem transformar a educação
O afeto pode ser aprendido? O educador suíço Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827) acreditava que sim. Mais do que isso, ele defendia a ideia de que o afeto deveria ser “incorporado ao ensino e ao método pedagógico como um todo”, por meio de vivências e do conceito de “aprender fazendo”.
O afeto não seria mais uma disciplina, como Matemática, História ou Geografia, mas permearia todo o aprendizado, através de um sistema de ensino prático e flexível, que procurasse estimular o aprendizado intelectual, físico e emocional da criança.
“O educador tem que olhar o educando, enxergando suas potencialidades, sua capacidade de autoconstrução, sua liberdade, sua individualidade. O afeto proposto por Pestalozzi é uma forma de fazer educação, respeitando a natureza da criança e deixando-a ser, ao invés de moldá-la segundo um paradigma externo”, explica a doutora em Educação Dora Incontri, 51 anos.
Para o psicólogo e professor da PUC-SP Antonio Carlos Amador Pereira, 63 anos, um homem apenas intelectual é um homem incompleto. “A emoção faz parte, ela não é antagônica à cognição, mas complementar e importante. A educação afetiva é essencial”, diz. Mas como ensinar um sentimento? “O ensino afetivo é essencialmente vivencial, ou seja, é necessário que haja práticas educativas nas quais as crianças possam vivenciar situações que envolvam as relações afetivas e os aspectos emocionais.”
Para Pestalozzi, a escola deveria ser uma extensão do ambiente familiar, oferecendo segurança e afeto. A educação precisaria se basear em três pilares: a cabeça (intelectual), a mão (físico) e o coração (afeto ou moral). Seu método consistia em respeitar os estágios de desenvolvimento da criança, dando atenção às suas aptidões e necessidades. O ensino deveria caminhar do mais fácil e simples, para o mais difícil e complexo, do conhecido para o novo e do concreto para o abstrato.
“A educação moral e elementar inclui três partes distintas: o senso moral das crianças deve ser estimulado em primeiro lugar, fazendo-se que seus sentimentos se tornem ativos e puros; em seguida, as crianças devem ser exercitadas a terem autocontrole e deve-se ensinar a elas se interessarem por tudo o que é justo e bom; finalmente, deve-se fazer que elas formem, por si mesmas, através da reflexão e da comparação, uma noção correta dos direitos e deveres morais”, dizia.
Portanto, para se desenvolver, a criança deveria partir de seus interesses e vontades e não da lógica estabelecida pelos adultos. O amadurecimento ao longo do tempo traria o conhecimento. Pestalozzi acreditava, ainda, que “na educação, a essência é o amor”. Por isso, era fundamental que se respeitassem as diferenças individuais e deixasse qualquer tipo de punição fora das escolas.