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Confinamento x salário: professora relata desafios de dar aula em alto-mar

No Dia do Professor, o Terra conta os desafios de uma educadora que não trabalha em uma escola convencional, mas em uma plataforma de petróleo

15 out 2013 - 09h07
(atualizado às 09h43)
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Aline Frare Crispim, 30 anos, dá aulas de inglês e português em uma plataforma da Petrobras
Aline Frare Crispim, 30 anos, dá aulas de inglês e português em uma plataforma da Petrobras
Foto: Arquivo Pessoal / Divulgação

O salário baixo comum à carreira do magistério no Brasil nunca desmotivou a carioca Aline Frare Crispim, 30 anos, a sonhar desde pequena em dar aulas. Na adolescência, o trabalho da professora do cursinho de inglês que frequentava foi decisivo na escolha da profissão: ela percebeu que também queria ensinar outros idiomas. Em 2007, concluiu a faculdade de letras, foi para os Estados Unidos fazer cursos e quando retornou surgiu a oportunidade de fazer o que sempre queria, com uma vantagem de ser bem-remunerada para isso.

Aline foi contratada por uma empresa norueguesa que presta serviços para a Petrobras para dar aulas de português a estrangeiros e de inglês a brasileiros que trabalham em uma plataforma em alto-mar, na Bacia de Santos. Apesar dos benefícios financeiros, "o salário é bem acima da média", como ela mesma define, viver pelo menos seis meses do ano com água por todos os lados, longe da família, do noivo e dos amigos não é tarefa fácil.

"O maior desafio do trabalhador offshore é o confinamento, sem dúvida. É ficar longe da família no Natal, Ano-Novo, feriados, aniversários. É complicado, mas já me adaptei a isso", afirma a professora, que trabalha 14 dias em alto-mar e tem outros 14 dias de folga. Nos dias em que está em casa, no Rio de Janeiro, ela aproveita para descansar e fazer atividades comuns, como ir ao médico e rever os amigos. "O tempo da folga acaba sendo bem curto para coisas que são simples para a maioria das pessoas".

O salário é complementado por um adicional por insalubridade. É que viver em uma plataforma de petróleo tem seus riscos. "Temos uma equipe altamente treinada para evitar que acidentes aconteçam, mas nem por isso podemos descartar o risco de algo acontecer. Já começamos a correr riscos desde o momento que entramos no helicóptero para vir ao nosso local de trabalho", afirma.

Além da preocupação com a segurança, as atividades são intensas dentro da plataforma. Aline trabalha em média 12 horas por dias, divididas em aulas para até seis turmas, na tradução de documentos e ainda como intérprete, já que no local convivem pessoas de todo o mundo, sendo que muitas não falam o português. O maior desafio das atividades, segundo ela, é fazer todos os alunos frequentarem as aulas de português ou inglês, que não são obrigatórias.

Ela fica 14 dias em alto-mar e tem outros 14 dias de folga
Ela fica 14 dias em alto-mar e tem outros 14 dias de folga
Foto: Arquivo Pessoal / Divulgação

"Muitas vezes eles estão cansados demais para estudar, eles acabam faltando às vezes. Nesse ponto eu posso dizer que eu sou chata. Eu corro atrás, eu lembro o aluno da aula quando eu o vejo novamente, pergunto porque não foi, essas coisas", comenta.

Segundo Aline, uma das maiores vantagens de se trabalhar embarcada é não enfrentar o trânsito das grandes cidades, como o Rio. No entanto, depois de 14 dias em alto-mar, trabalhando 12 horas por dias, o cansaço começa a bater, e a saudade também. "Para ficarmos tranquilos, temos que ter o apoio de nossa família. Meus pais, irmãos, meu noivo e meus amigos me apoiam muito, e compreendem a minha ausência", afirma.

Aline diz que não pensa em seguir outra carreira. "Eu me sinto completamente realizada dentro de sala de aula. Ensinar é a coisa mais maravilhosa que existe", diz ela. Seja em alto-mar, com um salário melhor, ou em uma escola pública, ela acredita que ensinar é uma vocação.  

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Fonte: Terra
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