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Dia da Educação: escola e dislexia, como conciliar?

Alunos que têm dislexia enfrentam muitos desafios na vida escolar, saiba como melhorar esta situação

28 abr 2024 - 07h31
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O Dia da Educação é comemorado hoje, 28 de abril. Esta é uma data que convida para uma reflexão sobre a Educação no Brasil, será que ela é para todos?

Afinal, quantas maneiras de pensar e de ser existem?

É necessário pensar uma educação abrangente que envolva a participação dos mais variados tipos de alunos e professores. 

Foi para encontrar mais informações referentes a este debate que conversamos com 5 personagens que vivem realidades atípicas na educação brasileira, o dia a dia de pessoas com dislexia (um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta habilidades básicas de leitura e linguagem).

Falamos com uma especialista no assunto, Juliana Amorina, diretora-presidente do Instituto ABCD (organização sem fins lucrativos que visa ajudar brasileiros com dislexia) e com duas famílias. Ouvimos Rodrigo Diniz, jovem de 16 que tem dislexia, e sua mãe, Samantha; também conversamos com Luiz Antonio, de 13 anos, diagnosticado com dislexia e sua mãe, Angélica.

Samantha e Rodrigo. 
Samantha e Rodrigo.
Foto: Acervo Pessoal / Brasil Escola
Angélica e Luiz Antonio. 
Angélica e Luiz Antonio.
Foto: Acervo Pessoal / Brasil Escola

Veja como foram nossas conversas!

*Caso encontre dificuldades para ler este texto, você pode ouvi-lo no player acima, dê preferência para os navegadores Google Chrome e Microsoft Edge para um bom desempenho do programa*

Sinais da dislexia

Perguntamos a Juliana quais são os principais sinais para reconhecer a dislexia, ela nos explica que esta condição se caracteriza por uma dificuldade inesperada para realizar a leitura e a escrita.

Dessa forma, é importante que professores e familiares se atentem às crianças que apresentam um desenvolvimento padrão e começam a desenvolver dificuldades na vida escolar. Por exemplo, aprender o nome das letras, perceber que algumas palavras são semelhantes porque terminam (rimam) com o mesmo som, aprender a sequência do alfabeto, entre outras.

Ainda há sinais que podem aparecer na fase anterior do desenvolvimento, como atraso ou trocas na fala, dificuldade em aprender músicas, nome de cores e sequências. 

Diagnóstico da dislexia

Angélica, mãe de Luiz Antonio, disse que o diagnóstico veio como um alívio depois de muito esforço para entender tudo que acontecia. Mas, ela faz uma ressalva, diz que ainda precisam lidar com muita desinformação relacionada à dislexia.

Juliana nos explica que o diagnóstico de dislexia deve ser feito por uma equipe multidisciplinar, composta por médico, psicólogo, fonoaudiólogo e psicopedagogo. Ela ressalta que nem sempre todos estes profissionais trabalham no mesmo local, por isso, é importante que a família entenda como funciona o serviço de saúde em que realizará o processo de avaliação.

Geralmente, o primeiro passo é ir ao médico com um relatório escolar que detalha as dificuldades vivenciadas pela criança. O diagnóstico pelo SUS, deve começar nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), veja esta cartilha com o passo a passo para conseguir o diagnóstico pelo SUS.

Rodrigo nos conta a diferença que o diagnóstico fez em sua vida. Apesar de ter apenas 9 anos na época, ele se lembra bem das mudanças que pode observar na maneira como foi tratado nas escolas.

Antes do diagnóstico, em sua escola antiga, nos conta Rodrigo, ele se sentia perdido nas aulas e acabava sendo mandado para a diretoria e se sentia nervoso por não acompanhar as aulas. Mas, com o diagnóstico e a mudança de escola, tudo mudou. Ele foi bem recebido e teve mais esperança no futuro.

Ele conta que a adaptação às terapias e ao tratamento fonoaudiológico foi um processo demorado, mas que valeu a pena.

Inclusão de alunos com dislexia

Ao ser questionada sobre inclusão de alunos com dislexia, Juliana explica que cada criança é única e as estratégias devem se adaptar a necessidade dos estudantes. 

Mas, ela também diz:

Um caminho que pode ajudar o educador é sempre ter claro o objetivo da proposta pedagógica, assim, as acomodações podem ser realizadas considerando o objetivo de aprendizagem e as características linguísticas do aluno com dislexia.

Por exemplo, se a proposta da atividade for trabalhar a compreensão leitora, ao invés de pedir um registro escrito de respostas dissertativas, pode ser proposto uma elaboração oral com o registro de um áudio ou vídeo, um mapa conceitual. Assim, o professor pode avaliar a competência de compreensão leitora sem a interferência das dificuldades de elaboração de escrita, característica da dislexia.

Rodrigo afirma que é preciso os professores entenderem sobre dislexia, identificarem os sinais e desenvolverem formas adaptadas de ensino. Assim como as escolas, devem pensar métodos alternativos que não foquem apenas na leitura e na escrita.

Ele declarou:

Usar coisas que possam ser vistas, ouvidas ou tocadas pode ajudar os alunos com dislexia a entender melhor as lições. Na hora de fazer provas, é importante que os alunos com dislexia possam mostrar o que sabem de formas diferentes, como falando em vez de escrevendo. Também é bom usar tecnologia que ajude durante os testes.

Cada aluno com dislexia precisa de ajuda específica. Isso pode incluir mais tempo para fazer tarefas, testes e um professor que acompanhe individualmente.  E é importante também ter acesso a softwares que ajudem na leitura e escrita.

O aluno também diz que uma escola inclusiva beneficia todos os alunos, não apenas os que tem dislexia, pois quando as diferenças são valorizadas, todos se sentem parte da instituição. 

Luiz Antonio nos conta de uma vez que se sentiu discriminado, na escola em que estudava anteriormente. Ele estava em sala de aula, tentando acompanhar a matéria e sua professora o tratou como se ele estivesse "fazendo corpo mole" e o constrangeu na frente da turma, o que pode afetar bastante a autoestima de um garoto que tem dislexia. A inclusão dentro do ambiente escola é muito importante.

O que pode ser feito dentro de casa?

Angelica diz que, para ajudar seu filho, ela realiza leituras para e utiliza o YouTube como recurso de apoio. Veja uma foto deles estudando juntos:

Foto: Acervo Pessoal / Brasil Escola

Samantha também conta sobre o que é feito, dentro de casa, para ajudar na inclusão de seu filho. Ela conta que mesmo sendo da área da educação, procurou cursos, inclusive no Instituto ABCD, e fez até uma graduação. 

Esse conhecimento ajudou Samantha a entender melhor cada fase do desenvolvimento e a adaptar-se às necessidades do filho. Ela disse:

Durante a fase de aprender a ler e escrever, e ao longo de todo o ensino fundamental I e II, meu filho recebeu ajuda da fonoaudióloga para as dificuldades acadêmicas e da psicóloga para lidar com questões emocionais. Em casa, nós usávamos diferentes maneiras dele aprender em todas as matérias, usando vivencia, materiais concretos, histórias reais como exemplos para tornar o aprendizado mais fácil.

Dificuldades dos alunos com dislexia

Perguntamos ao Rodrigo quais as principais dificuldades dele em sala de aula. Ele diz que tem desafios significativos para acompanhar os estudos, como dificuldades na leitura, na compreensão de textos e na ortografia, o que impacta diretamente o seu desempenho acadêmico. 

Além disso, ele tem de lidar com falta de conhecimento sobre o assunto por parte de alguns professores que acabam por tratar os alunos com dislexia sem as considerações necessárias. Isso cria expectativas injustas e falta de apoio para quem tem dislexia, afetando, inclusive, a autoestima dessas pessoas. 

Rodrigo finaliza:

Algumas escolas resistem a adaptar suas práticas para as minhas necessidades. Isso pode resultar na falta de aceitação da dislexia como uma condição aceitável e na estigmatização dos estudantes que a enfrentam.

Luiz Antonio fala que tem dificuldades em acompanhar as aulas e entender o que é trabalhado em sala. Diz que um professor auxiliar e explicações mais bem desenvolvidas seriam de grande ajuda no seu processo de aprendizado.

Qualidades de alunos com dislexia

Por fim, perguntamos à Samantha e a Angelica quais habilidades especiais elas percebem em seus filhos. Samantha destaca a capacidade do Rodrigo em encontrar soluções únicas para os problemas que se impõem.

Ela diz:

Ele consegue enxergar caminhos que eu jamais imaginaria

Rodrigo também é autodidata para aprender quando o assunto é programas de computador e tem muita capacidade de inovação. Angélica destaca a criatividade de Luiz Antonio e diz que ele tem percepções muito únicas e inteligentes.

Ambos possuem habilidades que, se bem aproveitadas, podem mudar o mundo.

Por Tiago Vechi

Jornalista

Brasil Escola
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