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É preciso avançar na questão do financiamento do ensino superior, diz presidente de entidade

Para educadora, pandemia trouxe aprendizados; País precisa avançar em políticas públicas

31 mai 2022 - 05h10
(atualizado às 07h15)
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Primeira mulher em mais de 40 anos a presidir o Semesp, entidade que representa instituições de ensino superior de todo o Brasil, Lúcia Teixeira considera que o momento é de retomada, "com alegria", para superar perdas, apostando em investimentos e em duas palavras: inclusão e diversidade.

A senhora participou da 3.ª Conferência Mundial de Educação Superior da Unesco, na Espanha, que teve a pandemia entre os assuntos centrais. O que fica?

Aprendizados. Não será a última pandemia: já temos a gripe aviária, varíola dos macacos... são situações criadas pela interferência humana. E agora temos de contribuir para um futuro sustentável. Trata-se de um desafio para a educação superior. A gente falava na Agenda 2030 (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ODS) e agora deveríamos falar em ODS para 2050. Além disso, existem duas palavras que dominaram os debates: inclusão e diversidade, pois existem muitos excluídos, um aumento da vulnerabilidade social. E ninguém no mundo pode ficar para trás.

Há pontos a evoluir na inclusão feminina?

Ocorreram avanços, mas na área Steam (Exatas) há muito a avançar. Na educação, sempre atingimos a geração posterior. Precisamos aumentar a presença das mulheres em cargos de comando. E conscientizar os pais, pois estimulam determinadas carreiras.

E o efeito da covid no País?

Eu vejo que esse retorno ao presencial (após dois anos, na maioria das instituições), traz uma alegria, uma vontade de correr atrás, que foi um ganho. As instituições, os alunos, eles sabem que devem tratar diferente com essas perdas sociais, emocionais. Quanto ao ensino, partiu para outro patamar: o presencial, por exemplo, agora tem de ser muito bem utilizado, tem de ser algo de fato relevante. Quanto às instituições de ensino, vivemos um momento de alerta. Vale lembrar que a volta ao presencial traz novos investimentos, como estruturação de ambientes educativos, laboratórios... O número de alunos não estabilizou e muitos não recuperaram emprego e renda.

Falando de políticas públicas, como vê a questão do financiamento.

É preciso avançar. As instituições particulares hoje respondem por 77% da graduação, 84% da pós e 31% de mestrado e doutorado. Em vez de perdão de dívidas (medida recém-adotada pelo governo federal), sugerimos sistemas como os de Austrália, Inglaterra, Coreia e Japão. Ali, o aluno paga com seu trabalho, depois de formado, de acordo com sua renda. Senão, mantendo o atual sistema, o governo vai sempre alegar que não tem verba e não vão aumentar as oportunidades para quem precisa. Também propusemos a ampliação do ProUni. Temos estudos que mostram que esses alunos evadem menos (8% no primeiro ano, ante 14% ensino público) e se esforçam mais. Os alunos querem estudar, mas eles não têm dinheiro.

E a cobrança de alguma mensalidade em escolas públicas, como proposto em uma PEC no Congresso?

Isso precisa ser discutido com muito cuidado. O Brasil precisa muito de ensino privado e público, juntos. É possível, como em outros países, o aluno de melhor renda contribuir para garantir vagas para quem não pode, nem que isso se reverta posteriormente, depois de formado, na prestação de algum serviço público. É uma retribuição. Mas precisa ser discutido com muito cuidado e considerando as várias realidades do País. l

Estadão
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