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Educação antirracista: projeto leva bibliotecas só com autores negros às escolas do Pará

Iniciativa do projeto 'Kiriku' do curso de letras da UFOPA já implantou quatro 'Afrotecas' e já há mais cinco a caminho

14 out 2024 - 05h00
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Afrotecas ganham espaço nas instituições de ensino público do Pará
Afrotecas ganham espaço nas instituições de ensino público do Pará
Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

A inclusão de bibliotecas apenas com obras e autores negros tem ganhado força nas instituições de ensino público do Pará, como um braço da educação antirracista. O que começou em Santarém, município a oeste do estado, agora pode chegar a mais cinco cidades. De acordo com o coordenador do projeto, o professor Luiz Fernando França, o sonho é fazer com que a ideia cresça em todo o País. 

Nos espaços, batizados de "Afrotecas", os alunos podem encontrar livros, jogos, brinquedos e instrumentos musicais feitos para enfrentar a questão racial nas escolas. Ao Terra, o professor conta que a iniciativa, que é a primeira voltada para crianças pequenas, nasceu como parte e resultado do Projeto 'Kiriku' — um grupo de pesquisa criado em 2022 sobre literatura, história e cultura africanas, vinculado ao curso de licenciatura em Letras da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). 

Os pesquisadores tinham como objetivos entender o desenvolvimento das relações raciais nos Centros Municipais de Educação Infantil (CEMEIs) e como construir alternativas pedagógicas de combate ao racismo e de promoção de igualdade racial na educação infantil. 

"A forma como pensamos esta tecnologia tem origem no problema que queremos combater e superar: o racismo na infância", explica o coordenador. 

À direita, a afroteca "Lelê"; à esquerda, a afroteca "Willivane Melo"
À direita, a afroteca "Lelê"; à esquerda, a afroteca "Willivane Melo"
Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Para chegarem a iniciativa, o grupo ouviu as equipes de trabalho dos CEMEIs e, a partir disso, descobriram um quadro de situações recorrentes de discriminação racial que movimentam estereótipos em torno das crianças negras.

"Não poderíamos pensar e construir a tecnologia sem conhecer e refletir sobre as relações raciais nos CEMEIs, pois o conhecimento e sistematização das formas mais usuais de discriminação racial movimentaram, e ainda movimentam, a escolha dos livros, jogos, brinquedos e instrumentos musicias que estruturam a tecnologia", detalha.

"Ou seja, se o cabelo da criança negra é o principal elemento de inferiorização atualizado nas práticas racistas, foi preciso trazer para a composição da Afrotecas os materiais que desconstruam essa prática e promovam maneiras afirmativas de ver e perceber o corpo e os traços identitários da criança negra", destaca França. 

Atualmente, há quatro Afrotecas no Pará. A primeira, e considerada 'central' do projeto, é a Afroteca 'Willivane Melo'. As outras são: a 'Amoras', do CEMEI Paulo Freire; a 'Sankofa', do CEMEI Antônia Corrêa e Sousa; e a 'Lelê', do CEMEI Maria Raimunda Pereira de Sousa. Todas estão em pleno funcionamento. 

As próximas unidades foram anunciadas em setembro deste ano, em parceria entre a UFOPA e o Ministério da Igualdade Racial. A iniciativa vai para os municípios de Alenquer, Belterra, Monte Alegre, Oriximiná e Santarém. De acordo com o cronograma, elas devem ser inauguradas até março de 2025. 

A importância da educação antirracista

Segundo o professor Luiz Fernando França, as Afrotecas abraçam uma inovação necessária na educação infantil brasileira e partem da importância do enfrentamento ao racismo, à discriminação e ao preconceito racial desde a primeira infância. Por outro lado, a iniciativa também pode ser utilizada como laboratório na formação de professores e incluir outros públicos, como alunos do ensino fundamental e médio. 

No entendimento do pesquisador, essa é uma possibilidade efetiva de implementação da Lei 10.639/2003 - que estabelece a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileiras e africanas na educação brasileira. 

os espaços, batizados de “Afrotecas”, os alunos podem encontrar livros, jogos, brinquedos e instrumentos musicais feitos para enfrentar a questão racial nas escolas.
os espaços, batizados de “Afrotecas”, os alunos podem encontrar livros, jogos, brinquedos e instrumentos musicais feitos para enfrentar a questão racial nas escolas.
Foto: Reprodução/Getty Images

"Não dá para dizer que não estamos apresentando um caminho efetivo, funcional e permanente. Não temos dúvida que a Afroteca tem potencial de Política Pública. E esse é nosso grande sonho: transformar a Afroteca, uma tecnologia educacional antirracista, desenvolvida por uma universidade pública do Norte do nosso País, em uma política pública antirracista que possa ser oferecida para todas as crianças do Brasil", defende.

Fonte: Redação Terra
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