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Em 25 anos, Brasil formou mais de 1,3 milhão de mestres e doutores; é suficiente?

Presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos aponta que Brasil tem uma caminhada longa e árdua para formar mais especialistas

12 ago 2024 - 05h00
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Brasil formou mais de 1,3 milhão de mestres e doutores em 25 anos
Brasil formou mais de 1,3 milhão de mestres e doutores em 25 anos
Foto: Layla Bird/GettyImages

A educação, seja básica ou superior, é, sem dúvidas, um dos pilares para o desenvolvimento de uma nação. Na pós-graduação, em que a mão de obra é ainda mais especializada, existe relação direta entre o número de doutores e o grau de desenvolvimento do país.

Essa análise é de Vinícius Soares, presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos. Em entrevista ao Terra, ele compara a formação de 1,3 milhão de mestres e doutores brasileiros, nos últimos 25 anos, em relação aos países que compõem a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econcõmico (OCDE).

No Brasil, a média é de dez doutores para cada 100 mil habitantes, três vezes menos que a média dos 38 países da OCDE, que é de 30. A disparidade é ainda maior em relação aos mestres: enquanto o Brasil forma uma média de 20 para cada 100 mil habitantes, nos países da organização a média é 300. 

"Existe uma relação muito grande no número de doutores que uma sociedade tem e o grau de desenvolvimento que um país tem. Quando vemos os dados do país, a gente vê que o Brasil ainda está muito aquém”, afirma. “Então, ao mesmo tempo que a média da OCDE é um [para cada mil habitantes], o Brasil ainda só titula 0,2% da sua população em doutores. Nós, inclusive, da ANPG, temos colocado que, para atingir a média da OCDE, o Brasil precisaria formar cerca de 1,5 milhão de doutores", estima.

Estudantes na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
Estudantes na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO - 11/12/2023 / Estadão

A OCDE é uma organização internacional, que possibilita a troca de informações entre os países membros, estabelecendo padrões de qualidade e realizando um alinhamento entre políticas públicas, com foco em contribuir para o crescimento econômico e o desenvolvimento de todos os membros. O Brasil está em processo para integrar esse grupo. 

Diferenciação vertical

Além de 'comunicar' para a comunidade internacional algum grau de desenvolvimento, a pós-graduação strico sensu é uma "diferenciação vertical" necessária para o mercado da atualidade. Afinal, mestres e doutores reúnem capacidades e competências para seguir dentro e fora de salas de aulas, bem como para fornecer a produção de conhecimento e de tecnologia para o setor onde trabalham. 

"Existe um ganho material, para o indivíduo, no seu salário e também no seu próprio conhecimento de mundo. Se torna apto, inclusive, para poder ser um pesquisador no Brasil, e com essa formação contribui com a agregação de valor para a economia do País, para que possa alcançar algum nível de desenvolvimento", acrescenta Soares.

Entre 1996 e 2021, o país formou 1 milhão de mestre e 319 mil doutores. Isso quer dizer que, em 25 anos, mais de 52 mil especialistas foram formados no stricto sensu. Dados do estudo 'Brasil: Mestres e Doutores 2024', divulgado em junho deste ano, pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), destacam que o número de programas de pós-graduação de todos os tipos cresceu 288,0% no mesmo período, passando de 608 para 4.691.

Vinicius Soares é presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG)
Vinicius Soares é presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG)
Foto: Divulgação/ANPG

Como número não é suficiente para atingir a média da OCDE, Vinícius Soares defende investimento do Estado para alcançar a meta do Plano Nacional de Educação, que prevê a formação de 60 mil mestres e 25 mil doutores por ano até 2024. 

"A gente teria aí um caminho muito longo ou teria que ser um caminho muito intensivo para poder chegar a essa média", afirma. 

Apesar das vantagens competitivas, Soares denuncia a falta de emprego para quem conseguiu se titular mestre ou doutor. Neste sentido, ele defende o desenvolvimento de inovações dentro da universidade, para formar doutores necessários para o setor produtivo e econômico. Sua sugestão é induzir a indústria, comércios e serviços no País a contratar esses doutores. 

"Estamos muito aquém das necessidades econômicas, inclusive dos desafios nacionais, ao mesmo tempo que vamos precisar fazer um esforço muito grande para que possamos gerar emprego para esses doutores, porque eles têm competências e habilidades e precisam ser aproveitados agora para essa produção de conhecimento, essa agregação de valor. A ciência acaba definindo os rumos das nações. Então, qualquer país que queira lograr algum nível de desenvolvimento, precisa investir em ciência e em educação", defende. 

Cortes atrapalharam formação 

Segundo Soares, o Brasil caminhava rumo ao alcance da meta nacional, até o corte orçamentário no governo Michel Temer, que se estendeu ao de Jair Bolsonaro (PL). Entre 2020 e 2022, o país teve os recursos mais baixos para investimento na educação e tecnologia desde os anos 2000. Em 2022, por exemplo, mesmo com o aumento dos valores, o orçamento do Ministério da Ciência (R$ 720 milhões) para investimento ficava 78% abaixo do registrado em 2010 (R$ 3,34 bilhões), quando houve pico de verba para pesquisa. 

"Ali, em 2018, o Brasil já estava no governo Temer, estava ali praticamente em dois anos de um processo de contingenciamento de cortes no orçamento da educação e da ciência e tecnologia. Quando vemos a análise dos dados de 2019, existe uma inflexão muito grande, porque o Brasil passa de, ao invés de titular cerca de 24 mil doutores por ano, em 2020, conseguimos titular 20 mil doutores", menciona. 

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Foto: Geraldo Magela/Agência Senado / Estadão

Segundo ele, entre 2019 e 2022, mais de 30 mil mestres e mais de 10 mil doutores não foram titulados, pois o estudante não conseguia se manter na universidade, nem acessar a política de restaurante universitário e  moradia estudantil. 

"Muitos tiveram que evadir do processo da pós-graduação e aí, além de todo esse desmonte que nós tivemos no País, tem também associado a pandemia, que acabou agravando muito essa situação. Então, temos essa inflexão no número de doutores, um fenômeno que chamamos de perda de talentos", conclui. 

Fonte: Redação Terra
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