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Enem 2021: Questão sobre luta de classes com texto de Engels havia sido vetada

Segundo o Estadão apurou, a pergunta foi retirada numa primeira versão da prova, mas teve de voltar para que o exame não ficasse descalibrado

22 nov 2021 - 19h22
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A questão que apareceu neste domingo, 21, no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) sobre um texto do alemão Friedrich Engels, coautor do Manifesto Comunista, foi uma dos itens que voltaram para a prova depois de ter sido retirado na "leitura crítica" feita no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). O Estadão revelou que 24 perguntas tinham sido consideradas "sensíveis", mas 13 tiveram de continuar na prova para que ela não fosse descalibrada tecnicamente - é necessário um equilíbrio entre itens fáceis, médios e difíceis.

Segundo o Estadão apurou, o texto do parceiro de Karl Marx causou embate na equipe de montagem do exame. A pergunta traz um trecho da obra "A situação da classe trabalhadora na Inglaterra", clássico de Engels escrito em 1845, em que o autor diz que a classe média tem interesses opostos da classe operária. O estudante deveria justamente entender sobre o que o texto falava e a resposta correta, segundo professores, era "conceito de luta de classes".

Questão do Enem abordou a luta de classes
Questão do Enem abordou a luta de classes
Foto: Reprodução/Inep / Estadão

Segundo texto da Editora Boitempo, que publicou o livro no Brasil em 2010, foi a primeira vez que se abordou "a revolução industrial como elemento central para a compreensão do controle da produção de mercadorias realizado pelo capital". Além disso, "o autor atribui aos trabalhadores urbano-industriais o status de classe, descrevendo a dinâmica criativa que coloca o proletariado na posição de sujeito revolucionário, capaz de promover a própria emancipação".

As questões do Enem são feitas por professores contratados há anos pelo Inep. O Estadão mostrou, porém, que o atual presidente do órgão, Danilo Dupas, havia deixado claro que a prova não poderia ter perguntas consideradas inadequadas pelo governo. Essa pressão era entendida por servidores como um assédio moral e fez parte das denúncias que levaram a 37 pedidos de exoneração neste mês.

Segundo relatos à reportagem, 24 questões teriam sido retiradas após uma "leitura crítica" dentro da sala segura do Enem. Algumas foram consideradas "sensíveis". As comissões de montagem da prova sugeriram outras perguntas para substituí-las, mas o Enem acabou descalibrado - o exame tem uma quantidade de questões consideradas fáceis, médias e difíceis. Assim, 13 das questões suprimidas foram reinseridas.

Segundo o Estadão apurou, os servidores do Inep envolvidos no processo conseguiram controlar a montagem da prova. Mesmo as questões que foram substituídas não tiveram conteúdo diferente ou manipulado. Por essa razão, professores de colégios e cursinhos têm dito que o Enem deste domingo seguiu uma linha parecida ao que vinha apresentando nos últimos anos, apesar da crise deflagrada. O professor de História João Daniel Lima de Almeida, do Descomplica, disse que ficou surpreso com a qualidade da prova, que tinha questões "muito progressistas". "Censura passou longe", afirmou.

Na semana passada, em meio à crise dos servidores que criticaram a "fragilidade técnica" da cúpula do Inep, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o Enem começava agora a "ter a cara" do governo. Acrescentou que "ninguém precisa estar preocupado com aquelas questões absurdas do passado".

A prova de Linguagens e Ciências Humanas aplicada neste domingo trouxe ainda um trecho da música Admirável Gado Novo, de Zé Ramalho, questões sobre escravidão e sobre a desigualdade de gênero. Incluiu, ainda, uma questão de interpretação de texto com a música Sinhá, de Chico Buarque.

Estadão
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