Enem: violência, racismo e discurso de ódio são abordados
Gestão Bolsonaro prometeu que prova seria 'neutra' e não abordariam temas 'controversos'
As questões do primeiro dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) abordaram diversos temas ligados aos direitos humanos, como violência contra a mulher, racismo, refugiados, escravidão e discursos de ódio nas redes sociais. No entanto, nenhuma das 90 questões trouxe, por exemplo, a temática LGBT que foi criticada pelo presidente Jair Bolsonaro na edição passada.
Neste domingo, 3, os 5 milhões de candidatos inscritos fizeram a redação e 90 questões de Linguagens e Ciências Humanas. O tema da dissertação foi a "Democratização do acesso ao cinema no Brasil" que os professores de cursinho consideraram "neutro".
"Uma prova com bastante cara de Enem, sem nenhuma grande surpresa em termos ideológicos, como eles [líderes do atual governo gostam de falar", diz Fabio Romano, coordenador editorial de Ciencias Humanas do Sistema de Ensino COC.
Ele destaca como positivo que não houve nenhuma questão polêmica para nenhum dos expectros políticos. "Não caiu nenhuma letra de música de Chico Buarque, Caetano Veloso ou texto de [Karl] Marx. Não caiu socialismo. Não teve texto de Olavo de Carvalho".
Ausência de temas
Cláudio Hansen, gerente pedagógico do Descomplica e professor de geografia e atualidades, notou a ausência de alguns temas que foram recorrentes em anos anteriores, como o governo Vargas, Guerra Fria e a Segunda Guerra Mundial, problemas e conflitos urbanos.
"Alguns dos medos que tínhamos em relação a conteúdos deixarem de estar presentes na prova por conta da nova formulação de governo acabaram não se confirmando. Houve questões que tratavam como os direitos das minorias, problemas da concentração de renda, uso do agrotóxicos brasileiros, isso tudo apareceu na prova", disse.
Professor de Filosofia e Sociologia do ProEnem, Leandro Vieira disse que a prova abordou vários expoentes da área da Filosofia, como René Descartes, Adam Smith, Francis Bacon e Immanuel Kant, mas que temas que costumavam aparecer na prova de História ficaram de fora. "Temas recorrentes, como Segunda Guerra Mundial, Regime Militar e Era Vargas não apareceram. A prova abordou Grécia Antiga, Renascimento Comercial e teve uma questão sobre a Constituição de 1824.
"A situação dos refugiados também foi abordada. "Na prova de linguagens, tinha uma questão com uma música do Cazuza, mas não era polemizando."
Vieira também notou uma mudança no perfil dos enunciados e respostas da prova, que eram mais curtos e diretos nesta edição. "As questões era mais diretas e mais curtas. Tinha respostas com uma palavra só. A prova, em comparação com o ano passado, foi um pouco mais fácil na parte de Humanas, porque exigia um domínio conceitual menor, como guardar nomes e acontecimentos, mas demandava uma capacidade interpretativa."