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Avaliadores das redações do Enem denunciam atraso no pagamento do serviço prestado

Avaliadores relatam que a jornada de trabalho geralmente durava 10h diárias, e havia uma exigência inicial de revisar 150 textos por dia

5 mai 2023 - 21h13
(atualizado às 21h14)
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Foto: fdr

Após quase quatro meses da conclusão da avaliação das redações do Enem 2022, mais de 3.000 revisores ainda não receberam pelo serviço prestado. O sentimento é de revolta e indignação.

“Ninguém quer trabalhar de graça. Ainda mais um trabalho tão exaustivo, que tem tantas cobranças, prazos, justamente para podermos entregar o resultado mais justo possível e o mais rápido possível também”, desabafa uma avaliadora que não quis se identificar. 

O pagamento do recurso destinado ao serviço prestado pelos revisores estava previsto para março. O órgão responsável pelo pagamento é a FGV (Fundação Getúlio Vargas), contratada pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais).

Em nota, a assessoria de imprensa da FGV afirmou que o processo de correção das redações ainda não se encerrou.

"O processo de correção das redações ainda não se encerrou, uma vez que, divulgado em 9 de fevereiro de 2023, o resultado específico desta etapa, encontra-se em conclusão da fase recursal e, após, haverá a etapa de consolidação de dados, conferindo-se, com indispensável minúcia, o número de redações corrigidas por colaborador. A isto alia-se, ainda, que em relação ao ENEM 2022, a troca de Governos causou pequeno, mas incontornável, reflexo no cronograma de conclusão do processamento do Exame.”, informou a FGV em nota enviada pela assessoria por e-mail. 

O Inep, órgão responsável pelo Enem, esclareceu, por meio da assessoria de imprensa, que a seleção e o pagamento da equipe de correções são de responsabilidade da FGV.  

“A seleção e o pagamento da equipe de correção do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) fazem parte dos serviços contratados administrativamente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Desse modo, a responsabilidade pela remuneração dos corretores das redações do Enem 2022 é da Fundação Getulio Vargas (FGV), instituição que faz parte do consórcio aplicador da edição", afirmou em nota.

Ainda segundo o comunicado do Inep, "enquanto unidade gestora do contrato, o Inep entrou em contato com a FGV, no intuito de obter esclarecimentos sobre o serviço, assim como a respeito da previsão de pagamentos dos profissionais contratados. O Instituto aguarda a manifestação da aplicadora. Vale lembrar que o Inep não possui gerência sobre os valores executados pela aplicadora, de modo que a remuneração dos colaboradores para execução do serviço é definida pela instituição”. 

Sentimento de medo

O Terra entrevistou dez avaliadores e conversou com 45 profissionais de todas as regiões do País, por meio de e-mail, ligações e mensagens no WhatsApp. Muitos relataram medo de falar sobre os atrasos no pagamento devido a um termo de confidencialidade exigido no momento da contratação de trabalho. Nenhum profissional que conversou com o Terra se sentiu à vontade para se identificar. 

Além do medo da exposição, os profissionais também falaram que já procuraram os canais oficiais da FGV e não obtiveram respostas. 

“Procurei todos os canais disponíveis da FGV, o 0800, o e-mail que dispuseram para isso (que nunca foi respondido), a ouvidora da FGV, fiz reclamação no Reclame Aqui, procurei o Inep também”, conta uma professora que mora na região Centro-Oeste.  

Ela também conta que fez reclamações por meio das redes sociais oficiais da FGV e do Inep, mas não teve nenhuma resposta concreta. 

“Eu fiz cobranças nas redes sociais, como Insta e Twitter, apesar de todo o medo de me expor por conta desse termo de sigilo que assinamos”, diz. 

Seleção, jornada de trabalho e valores

Avaliadores explicaram como foi o processo de seleção para se tornar um corretor de redações do Enem. Estresse, visão cansada e dores nas costas foram alguns dos problemas relatados por eles, desde o momento de inscrição no edital.

Segundo eles, o processo é burocrático e extenso. Todo candidato precisa ter graduação na área de Letras/Língua Portuguesa ou Linguística e possuir um computador e um smartphone em boas condições para o trabalho.

Além disso, o candidato também precisa realizar um curso de capacitação, de caráter obrigatório e eliminatório.  

“Após a inscrição e análise dos documentos, eu fiz um curso on-line. Ao final do curso, corrigi aproximadamente 30 redações para conseguir atingir uma nota avaliativa e, só após a saída desta nota, fiquei apta para avaliar as redações oficiais” conta a avaliadora que mora na região Nordeste e que pediu para não ser identificada.

Após serem selecionados, os avaliadores receberam um e-mail com uma tabela de tipos de avaliações e valores brutos pelo trabalho. Veja:

1ª e 2ª avaliações – R$ 3 por correção

3ª avaliação – R$ 3,30 por correção

Redação de análise de desempenho – R$ 1,50 por correção

Em um print, enviado por uma avaliadora, é possível visualizar a data de previsão do pagamento, exigências e outras informações adicionais. 

Tabela com valores e regras da prestação de serviço
Tabela com valores e regras da prestação de serviço
Foto: Arquivo pessoal

Quanto mais trabalha, mais recebe?

Segundo os avaliadores, a jornada de trabalho, que geralmente durava 10h diárias, tinha uma exigência inicial de correção de 150 textos por dia. Mas, muitos deles relataram um número maior de correções diárias. Uma professora da região Sul colocou numa planilha informações sobre as redações do Enem que ela pegou para corrigir. 

“Trabalhei por um período sem folga de 24 dias e corrigi 1.838 redações. Às vezes, trabalhando seis, cinco horas por dia. Já cheguei a trabalhar mais de 13h seguidas”, conta. 

A professora lembra que, na época das correções das redações, tinha uma jornada de trabalho, em seu emprego principal, de 8h por dia.  

“Quando terminava minha jornada de trabalho diária ou nos intervalos, eu ia corrigindo até fechar o prazo do dia. Aos finais de semana, começava às 9h/10h e ia até meia-noite. Era bem cansativo porque não tinha descanso semanal. Tivemos uma pausa apenas nos dias 24, 25, 31 [de dezembro] e 1º [de janeiro]”, fala. 

Outra professora diz que corrigiu textos de candidatos privados de liberdade e que cumpriam medidas socioeducativas. Ela conta que chegou a corrigir 3.500 redações.

“Corrigi em torno de 3.500 redações. As correções efetivas do Enem regular e digital começaram no dia 14 de dezembro de 2022 e foram finalizadas totalmente em 16 de janeiro de 2023. Eu fui convidada para avaliar o Enem PPL também. As correções do Enem PPL foram de 30 de janeiro a 2 de fevereiro de 2023", detalha a avaliadora que mora na região Nordeste. 

As duas decidiram conciliar o emprego com o serviço de correção de redações do Enem, para conseguir arcar com seus compromissos financeiros. Passados quase quatro meses das correções, elas ainda não receberam pelo trabalho e não tiveram resposta dos órgãos responsáveis.

Fonte: Redação Terra
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