Confira exemplo de redação com a temática do Enem 2023
Professora Nicole Stallivieri elaborou texto dissertativo-argumentativo sobre os desafios do trabalho de cuidado das mulheres no Brasil
Neste domingo, 5, cerca de 3,9 milhões de brasileiros participaram do primeiro dia de prova do Enem 2023, e foram submetidos a tão temida redação. O tema proposto foi "Os desafios para enfrentar a invisibilidade do trabalho de cuidado das mulheres no Brasil".
- Acompanhe a correção comentada e o gabarito extraoficial no Terra
Veja abaixo um exemplo de redação com a temática, realizado por Nicole Stallivieri, mestra em linguística, doutoranda em linguística pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e assessora pedagógica da Plataforma Amplia. No modelo, a especialista abordou a importância de reconhecer e valorizar o trabalho de cuidado exercido pelas mulheres, destacando a necessidade de políticas públicas e sociais que promovam a equidade de gênero.
Valendo 1.000 pontos, a redação tem um importante peso na pontuação final dos candidatos que buscam um ingresso no ensino superior. Os corretores avaliam cinco competências dentro do texto. Cada uma delas vale até 200 pontos.
Além do uso correto da norma culta da língua portuguesa --sem gírias, abreviações e erros gramaticais--, são analisadas a coesão entre frases e parágrafos. A argumentação do aluno frente ao tema proposto é outro ponto importante, assim como a proposta de intervenção sugerida na conclusão. O último ponto em questão é a adequação do texto ao estilo dissertativo-argumentativo, composto por introdução, argumentação e conclusão. Veja um exemplo com todos esses requisitos!
Confira um exemplo da redação com a temática desse ano:
A jornada dupla da mulher no Brasil como reforço à desigualdade de gênero
A filósofa feminista francesa Simone de Beauvoir questionava em seus estudos a condição feminina na sociedade e as desigualdades entre homens e mulheres. De acordo com a perspectiva histórica, a mulher é considerada como um modelo ideal apropriado ao trabalho de cuidado. No Brasil, esses aspectos mostram-se pertinentes ao refletir sobre a invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher, uma vez que essa problemática ocorre não apenas pela iniquidade de gênero no sentido das mulheres serem as principais responsáveis pelo trabalho de cuidado em comparação aos homens, mas também, pela carga de trabalho excessiva na jornada dupla entre emprego formal e as atividades não remuneradas.
Nesse sentido, é primordial destacar que o trabalho de cuidado é prioritariamente destinado às mulheres justamente pela desigualdade de gênero presente na sociedade. Historicamente, mulheres eram impedidas de direitos básicos como educação e voto, ocasionando assim o foco em atividades domésticas não remuneradas. Cabe ressaltar que, embora a igualdade de gênero seja um dos objetivos de desenvolvimento sustentável elaborados pela ONU para Agenda 2030, ainda é uma situação que carece atenção e implementação de políticas públicas para enfrentamento dessa realidade.
Outro aspecto importante nessa temática é a dupla jornada de trabalho enfrentada pelas mulheres diariamente. De acordo com dados recentes do IBGE, as mulheres são responsáveis por quase o dobro de horas trabalhadas em relação aos homens no que tange às atividades domésticas. Além do trabalho remunerado, elas ainda enfrentam os afazeres de casa invisíveis para a maioria da sociedade. Essa sobrecarga de trabalho pode ocasionar impactos negativos na saúde física e mental das mulheres, haja vista que, segundo pesquisa feita pela ONG Think Olga, grande parte das mulheres sente-se sobrecarregada com as tarefas desempenhadas.
Diante desses cenários, como forma de mitigar os desafios enfrentados, é preciso que o Ministério da Educação, em parceria com as escolas, integre em seus currículos escolares a educação de gênero e cuidado a fim de promover a conscientização sobre a importância do trabalho de cuidado e da igualdade de gênero. Além disso, é fundamental que o Governo Federal, por meio do poder legislativo, elabore projeto de lei que permita a possibilidade de horários flexíveis e de licença parental remunerada para homens e mulheres de acordo com a necessidade, reduzindo a responsabilidade exclusiva da mulher no cuidado familiar. A partir disso, será possível o devido reconhecimento do cuidado com o outro e a possibilidade de uma mudança estrutural da nossa sociedade.