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Contrato para aplicação do Enem é questionado por procuradoria jurídica

Parecer pede que presidência explique razão de mais um ano de prorrogação do serviço com a mesma empresa

1 jun 2022 - 17h09
(atualizado em 5/10/2022 às 18h29)
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Sala de aula do 3º ano do ensino médio do Colégio Vital Brasil, na Avenida Nossa Senhora de Assunção, no bairro Vila Butantã, na zona sul de São Paulo.
Sala de aula do 3º ano do ensino médio do Colégio Vital Brasil, na Avenida Nossa Senhora de Assunção, no bairro Vila Butantã, na zona sul de São Paulo.
Foto: Daniel Teixeira/Estadão Conteúdo

O contrato para aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano está sendo questionado pela Procuradoria-Geral Federal do próprio Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão do Ministério da Educação (MEC). Em documento ao qual o Estadão teve acesso, o procurador Rodolfo de Carvalho Cabral pede que a presidência do órgão justifique a razão da prorrogação do contrato por mais 12 meses, o que estenderia o prazo legal de cinco anos. 

A empresa que aplica o Enem desde 2017 é um consórcio formado pela Fundação Cesgranrio e a Fundação Getulio Vargas (Cesgranrio-FGV). O custo é de R$ 486 milhões.

Neste ano, que seria o sexto de vigência, o Inep deveria ter refeito o processo licitatório para o serviço. O parecer pede ainda que seja instaurado um "procedimento de apuração de responsabilidade" dentro do órgão sobre a decisão de prorrogar o contrato.

O Inep passa por uma crise desde o ano passado, quando dezenas de servidores deixaram seus cargos em protesto contra a atual chefia do instituto. Eles acusam o presidente Danilo Dupas de assédio e de desconsideração de critérios técnicos nas decisões.

Vários servidores foram transferidos de uma área para outra sem serem ouvidos e alegam perseguição. Outros, afastados, e novos coordenadores sem experiência foram colocados em cargos estratégicos. Desde então, há questionamentos sobre professores escolhidos em edital para montar a prova, logística e segurança do Enem.

No mês passado, o Inep avisou que vai usar questões repetidas na prova deste ano porque tinha acabado o estoque de perguntas, o que levou a mais dúvidas com relação à calibração da nota do exame, que segue uma complexa metodologia. Em 2021, houve ainda diversos atrasos em etapas do cronograma e a presidência ignorou alertas de relatórios de gestão de risco. Este ano, essa empresa não voltou a ser contratada e não há mais gestão de risco do Enem sendo realizada.

No parecer, a procuradoria pede que a "Administração justifique de forma clara e precisa a razão pela qual ocorreram os atrasos no andamento dos processos que resultariam em processo licitatório". Ela se refere a outro documento, ao qual o Estadão também teve acesso, em que a coordenadoria geral de administração do Inep diz que não haveria tempo suficiente para que a empresa atual transferisse conhecimento sobre a aplicação do exame a uma outra eventual ganhadora da licitação.

O texto exemplifica que, em 2017, houve demora de quatro meses para se assinar o contrato, o que, se ocorresse novamente, inviabilizaria o exame. E, ainda, que se o contrato não for prorrogado, haverá "impactos catastróficos no cronograma da realização do Enem 2022". Para o procurador, no entanto, "não se verifica a caracterização de qualquer excepcionalidade, de evento superveniente, grave e imprevisível" para a prorrogação.

A procuradoria do Inep é ocupada por advogados da Advocacia Geral da União (AGU). Sua função é a de fazer assessoramento jurídico ao presidente do órgão e ajudar os dirigentes "no controle interno da legalidade administrativa dos atos a serem por elas praticados ou já efetivados", segundo o site do órgão. Conforme o Estadão apurou, o Inep deve seguir com a prorrogação do contrato mesmo com os quetionamentos.

Segundo servidores ouvidos pela reportagem, a demora em se organizar uma nova licitação para este ano se deu por causa da crise institucional e desorganização na gestão no Inep.

Procurado, o Inep não se pronunciou até a publicação desta reportagem. A Cesgranrio afirmou que não poderia comentar sobre o contrato. A FGV também não respondeu. O Enem deste ano está marcado para os dias 13 e 20 de novembro. As inscrições foram encerradas no dia 21.

Estadão
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