Enem: menos de 1% das redações corrigidas em cinco anos atingiram nota máxima
Prova deste ano acontece em 5 e 12 de novembro; produção de texto é cobrada logo no primeiro dia
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) acontece nos dias 5 e 12 de novembro e, logo no primeiro dia, acontece a tão temida redação. A grande expectativa tem motivo: a produção de texto pode ser o fator essencial que pode garantir uma vaga nas instituições de ensino superior do País. Apesar do esforço dos alunos, alcançar a nota perfeita não é fácil.
Nos últimos cinco anos, o Enem corrigiu mais 15 milhões de redações, mas apenas 190 conseguiram alcançar a nota máxima, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). O que significa que menos de 1% das redações corrigidas dentro desse período atingiram 1.000 pontos.
Ao todo, 55 candidatos atingiram a pontuação máxima na redação em 2018, ano com o maior número de redações nota 1.000, seguido de 2019 (53 candidatos), 2022 (32), 2020 (28) e 2021 (22).
Lucas Felpi, de 22 anos, faz parte dessa minoria e alcançou a nota 1.000 no Enem de 2019. Em entrevista na matéria produzida pelo Terra sobre "Redação nota 1000: como fazer e exemplos", ele afirma que não existe uma "fórmula para a nota". "Existem várias maneiras de chegar na mesma nota. Inclusive, as redações nota 1.000 no Enem são completamente diferente uma da outra", comentou.
Hoje, estudando fora do Brasil, ele lembra que, em sua primeira tentativa, tirou 760. De acordo com ele, entender as competências e praticar bastante o levaram ao aperfeiçoamento. "O que é esperado de você vai ficando muito mais claro e muito mais objetivo com a prática. Acho que é algo que todo mundo fala é praticar, praticar, praticar a redação", relembra. "Toda semana, escrever várias vezes para você ir aperfeiçoando, pois a cada correção você recebe um feedback; a cada conselho de um professor, você vai melhorando e alcançando mais pontos".
Como as notas são calculadas
De acordo com o Inep, a redação é avaliada por pelo menos dois professores graduados em Letras ou Linguística, que levam em conta as competências, mencionadas por Lucas. Elas são:
- Competência 1: Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa;
- Competência 2: Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa;
- Competência 3: Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista;
- Competência 4: Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação;
- Competência 5: Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos.
O avaliador pode dar uma nota entre 0 e 200 pontos para cada uma das cinco competências. A soma desses pontos comporá a nota total de cada avaliador, que pode chegar a 1.000 pontos. A nota final do participante será a média aritmética das notas totais atribuídas pelos dois avaliadores.
Para zerar, também são avaliados alguns detalhes, de acordo com Inep. Como fuga total do tema, não obedecer ao tipo dissertativo-argumentativa, extensão de até 7 linhas na prova convencional ou de até 10 linhas no sistema Braille, cópias de texto(s) da Prova de Redação e/ou do Caderno de Questões sem que haja pelo menos 8 linhas de produção própria do participante e entre outros.
Queda no número de inscritos
Na opinião do professor de Língua Portuguesa e coordenador pedagógico da Lítera Vestibular, Victor Valente, o número baixo de notas mil no Enem não está ligado à queda na qualidade dos textos, mas, sim, na quantidade de inscritos na prova.
“Em 2014, por exemplo, foram mais de oito milhões de participantes; em 2017, já houve queda para menos de sete milhões e, no ano passado, foram cerca de três milhões e meio de inscritos. Menos alunos, menos notas máximas”, pontuou. “Claro que o aprimoramento dos critérios da prova e os efeitos da pandemia podem ter algum impacto, mas não penso que sejam tão relevantes assim. Afinal, em uma análise proporcional, a relação entre número de inscritos e o número de notas mil segue próxima”.
“O número de notas mil sempre foi baixo. E faz sentido, afinal, na prática o aluno precisa receber nota mil de dois corretores, o que torna a tarefa certamente mais complicada”, analisa o professor.
Na edição deste ano, o exame recebeu 3,9 milhões de inscritos, representando um aumento, em relação aos dois últimos anos. Em 2022, com 3,3 milhões e, em 2021, com 3,1 milhões, o registro mais baixo da história.