Enem tem 5 milhões de inscritos; entenda como exame virou principal canal de acesso às universidades
Além do conteúdo específico das disciplinas, professores destacam a necessidade de ficar atento aos assuntos mais atuais
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) registrou neste ano 5.055.699 inscrições, superando as últimas edições. Tamanho volume de participantes faz da prova a principal forma de acesso às universidades públicas do Brasil. Neste ano, a aplicação ocorre em 3 e 10 de novembro. No primeiro dia serão as provas de Linguagens, Ciências Humanas e Redação. No segundo, os participantes fazem as questões de Ciências da Natureza e Matemática.
O candidato que realiza o Enem pode disputar uma vaga por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), uma plataforma do Ministério da Educação, criada em 2010, que distribui as vagas do ensino superior de acordo com o desempenho. Na primeira edição, o Sisu ofereceu 47 mil vagas em instituições públicas de ensino superior.
Na edição mais recente, já de 2024, foram 264.181 vagas distribuídas em 6.827 cursos de graduação de 127 instituições públicas de ensino superior de todo o Brasil.
Não à toa, o Enem se tornou prioridade para qualquer estudante brasileiro, independentemente do local onde mora, segundo Edmilson Motta, coordenador do Etapa. "Por meio dele, o aluno que é dedicado e competente tem acesso ao melhor do ensino brasileiro em universidades federais e estaduais. Até as universidades particulares de primeiríssima linha dão bolsas via Enem. Foi um avanço bem importante. Quem é um estudante sério no Brasil vai poder, não importa onde nasceu, ter acesso a um ensino de qualidade. O Enem muda a vida de muita gente", diz.
O coordenador acredita que o exame é o instrumento mais adequado para avaliar o candidato que quer ingressar no ensino superior. Isso porque leva em consideração o domínio do conteúdo, mas também competências socioemocionais, como capacidade de argumentar e senso crítico.
Uniformização
Os educadores lembram que o Enem ajudou a ampliar as possibilidades dos estudantes que, por meio do Sisu, é como se estivessem prestando vários vestibulares simultâneos, isentos de taxa ou pagando um valor mais acessível. Neste ano, mais da metade dos inscritos no exame não precisaram pagar a taxa de R$ 85, em sua maioria porque estão matriculados no 3.º ano do ensino médio em escolas da rede pública, de acordo com o Inep.
"O Enem se tornou muito importante não apenas pelo tamanho da prova e sua abrangência nacional, atendendo milhões de estudantes, como também por estabelecer um mínimo comum esperado para todos os estudantes ao fim do ensino médio", afirma Caio Mendes, coordenador de projetos e professor de História do Colégio Rio Branco.
Outro ponto salientado por Herbert Alexandre João, professor da USP de São Carlos, que coordena o Programa Vem Saber, que incentiva os alunos da rede pública a entrarem na universidade, é que o Enem é aplicado em grande parte das cidades brasileiras, geralmente em escolas próximas aos endereços dos candidatos. "Além disso, ele faz jus especialmente às vagas destinadas àqueles estudantes provenientes da rede pública ou de baixa renda, que têm direito às cotas. E uniformiza o acesso ao ensino superior, uma vez que as diversas universidades ao longo dos anos foram adotando o exame e abandonando os vestibulares próprios com regras específicas, o que facilita o preparo."
Mendes diz que a abrangência e a flexibilidade do Sisu ampliaram a visão dos estudantes sobre as possibilidades no ensino superior. "Acredito que os estudantes passam a focar não apenas na escolha da carreira em si, mas também nas oportunidades que a prova do Enem pode trazer. Uma única prova que permite o ingresso em universidades em diferentes regiões do Brasil, e até no exterior, é algo muito importante na democratização do acesso e faz com que os estudantes ampliem muito sua visão sobre a próxima etapa."
Maria Luiza Câmara, de 20 anos, pretende usufruir dessa abrangência. Ela mora em São Paulo, mas quer disputar uma vaga em Farmácia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Para isso, está refazendo as provas das edições passadas do Enem. "Tem uma chance maior de cair de novo."
Redação
Um caso à parte no Enem é a sempre temida prova de Redação - para a qual o Inep recentemente divulgou cartilha específica.
Além do domínio da língua, coesão e organização das informações, a redação do Enem testa a capacidade de o aluno argumentar e defender um ponto de vista. Os temas abordam, tradicionalmente, questões que ocupam o debate público da contemporaneidade, como diz Nayara de Barros, coordenadora de Redação do Colégio Etapa Valinhos. "São temas que costumam apresentar algum recorte específico, dentro de grandes áreas como política, economia, tecnologia, meio ambiente, educação, acessibilidade, saúde, cidadania, garantia de direitos etc", diz.
Para ela, é fundamental que os candidatos consultem a cartilha e revejam as características das redações bem avaliadas. "Principalmente em termos de estrutura, para poder escrever a redação com tranquilidade, sabendo o que a banca espera de um bom texto."
Para Herbert, o aluno que acompanha as discussões contemporâneas e as repercussões e análises na imprensa já está construindo uma bagagem de informação e conhecimento para essa prova. "O Enem tem essa característica de cobrar temas que são discussões contemporâneas. Dificilmente vai cair um tema que seja muito abstrato para o jovem que acompanha os acontecimentos do Brasil e do mundo."
Uma forma de se preparar agora, a poucos dias do Enem, é fazer as redações sobre os temas das edições passadas, analisando tempo de execução e articulação das ideias. Entre as apostas de temas dos professores estão mudanças climáticas, como a destruição dos biomas brasileiros; o apoio ao esporte profissional para além das Olimpíadas; crise no sistema carcerário brasileiro; apagão de professores e a valorização docente no Brasil; participação do Brasil em conferências mundiais; urbanização e fome; e a relação da inteligência artificial generativa com a privacidade.
Candidato da Fuvest também precisa monitorar atualidades
O diretor executivo da Fuvest adianta que os alunos devem estar preparados para questões envolvendo situações recentes e temas atuais, apesar de a prova da Universidade de São Paulo (USP) normalmente cobrar conteúdos de uma forma mais forte. "São questões ligadas a assuntos que foram discutidos recentemente, seja em termos de um desenvolvimento científico, seja em termos de um problema gerado, seja até por uma circunstância ligada a uma decisão política que tenha sido tomada quer por um governo estrangeiro quer pelo governo brasileiro", afirma Gustavo Monaco. / COLABOROU RENATA OKUMURA