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Plataformas personalizam ensino e focam preparação para Enem

10 ago 2014 - 08h33
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Preparar-se para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) exige muita disciplina e horas de estudo. Tendência na área educacional mundial, as plataformas de ensino adaptativo, também conhecidas como plataformas e-learning ou big datas da educação, estão chegando ao Brasil, inclusive com planos de estudos focados em auxiliar na preparação para o Enem. 

O ensino adaptativo funciona em plataformas online e oferece conteúdos sobre assuntos específicos, geralmente em vídeos, além de muitos exercícios. Conforme o aluno vai realizando os simulados, o programa relaciona seus erros e acertos com os conteúdos e indica ao aluno o que ele precisa estudar mais. Esse direcionamento nada mais é do que a personalização do ensino, assunto que é tratado por especialistas educacionais como o futuro da educação, mas feita em escala, já que milhares de alunos utilizam a plataforma ao mesmo tempo e cada um tem suas especificidades. 

Prova disso é a plataforma Geekie Lab, que firma parcerias com escolas públicas e secretarias estaduais de educação, atingindo milhares de alunos. Em 2013, mais de 2 milhões de estudantes de 17 mil escolas utilizaram o recurso. A estimativa para 2014 é atingir 3,7 milhões de estudantes, em parcerias fechadas com 20 secretarias. O aluno recebe um plano de estudos personalizado, que se ajusta conforme seu domínio dos conteúdos vai aumentando.

Para o professor de português Carlos Zambeli, do Enemquiz, outra plataforma adaptativa, essa é a principal vantagem da tecnologia, aliada ao ensino presencial. “A ideia de hipertexto, de cada um correr para onde te favorecerá mais, é a tecnologia ajudando no ensino. Como o aluno vai fazendo os exercícios no ritmo dele e a plataforma sugere pontos para estudar melhor, os resultados são mais eficientes, pela ideia de individualidade. Quase sem perceber, o aluno vai resolvendo seus problemas”.

Já para o coordenador da plataforma Enemquiz, Edgar Abreu, a principal vantagem é facilitar o estudo para quem mora no interior, em regiões onde não existam bons cursinhos e até mesmo para quem mora em grandes centros, mas sofre com a demora para se deslocar. “O aluno pode estar no interior e ter a qualidade de professores de qualquer lugar”, afirma. Além disso, com o aumento do uso de smartphones, já não é mais desculpa precisar de uma sala com computadores para estudar. “Com a internet, temos muitos recursos a um preço muito acessível. Além de suprir o drama do mundo hoje: o tempo. A plataforma roda em celulares, então o aluno pode assistir a uma aula enquanto aguarda uma consulta no médico”, sugere Zambeli.

Apesar de todas as vantagens, o diretor de consultoria educacional do Sistema Ari de Sá e psicopedagogo, Raison Pinheiro, alerta que as plataformas não vieram para salvar a educação brasileira, mas sim para auxiliar os alunos, sem substituir o ensino presencial. Ele também lembra que, no estudo por meio das plataformas, o aprendizado depende ainda mais do aluno e de seu empenho. “Não tenho dúvidas de que pode ser um aspecto muito favorável ao ensino. Mas acredito nas tecnologias aliadas a uma metodologia, que envolva tanto o aluno quanto os pais e o professor. Cada um tem um estilo de aprendizagem e, na sala de aula, o professor atinge um público por vez, quando fala, escreve no quadro ou mostra slides, por exemplo. As plataformas personalizam e individualizam o processo de aprendizagem, mas não substituem as discussões coletivas com professores e colegas”.

O co-fundador da plataforma Adaptativa, Hugo Kenji Pereira Harada, concorda. “Há valores que nenhum curso adaptativo consegue passar para o aluno, como a relação em trabalhos de grupo. Estar imerso em uma situação social é importante. Há espaço para as duas formas de ensino. É um outro recurso, os professores não irão embora, não”.

Avaliação

Para Daniela Caldeirinha, coordenadora de projetos da Fundação Lemann, instituição que traduziu os exercícios da plataforma Khan Academy para o português, não basta apenas passar o conteúdo e exercícios, é importante ter certeza de que o aluno realmente aprendeu. A Khan Academy faz uma verificação periódica dos assuntos que o usuário já acertou, para se certificar disso. “É comum avançar na escola sem aprender tudo que deveríamos, principalmente conceito básicos, deixando lacunas no aprendizado. Como um queijo suíço, há um bloco de conhecimento, mas cheio de buracos. Com a ajuda de um algoritmo, o programa pergunta os conhecimentos diversas vezes, na forma de desafios. É importante fazer essa verificação, pois se o aluno errar, é jogado para trás um pouquinho”, explica.

Preparação de alunos e professores

Não são apenas os alunos que precisam enfrentar o desafio de estudar sozinhos, auxiliados por uma plataforma online. Os professores também precisam adaptar a forma de passar o conteúdo para uma geração superconectada. Zambeli, do Enemquiz, lembra que os conteúdos até podem ser os mesmos, mas a dinâmica da sala de aula é diferente do passado. Ele conta que o segredo na hora de selecionar os professores foi dar mais atenção àqueles que possuíam mais horas em sala. “Em uma aula em vídeo, é preciso fazer com que 10 minutos sejam tão atrativos que o aluno queira assistir outro. O timing da matéria só o tempo ensina. Professores que têm longa experiência têm o domínio dos pontos em que há mais dificuldades. Eles precisam ser motivados, focados e especialistas na área online”.

Chamar a atenção dos alunos é mais um desafio. Deixar o vídeo rodar até o final não significa que o aluno esteja realmente escutando. Harada, da Adaptativa, conta que, na empresa, os professores levam em conta a regra de não deixar o vídeo sem ação por mais de sete segundos, além de não conter muito texto, ter uma boa entonação e utilizar ferramentas que destaquem elementos visuais, que funcionam melhor em história e geografia, por exemplo, e descrições para matérias como física e química.

Abreu, do Enemquiz, complementa que é preciso qualificar também o aluno para que ele consiga utilizar a plataforma de forma correta e esteja apto a interagir com o conteúdo. “O site não pode enchê-lo de informação, tem de ser de fácil navegação. É uma evolução: quanto mais as pessoas forem utilizando a internet, mais complexas poderão ser as ferramentas disponibilizadas”. Nessa missão, a escola tem um papel importante. “O professor pode passar os deveres de casa online, por exemplo, com mais tempo para corrigir. Existem ferramentas que podem retirar do professor a concentração do conhecimento e transformá-lo em um curador do conhecimento, um mediador”, acrescenta Harada.

Como manter o aluno estudando 

Os cursos presenciais já têm uma grande taxa de evasão no Brasil. Aqueles a distância têm uma chance ainda maior de que o aluno desista. Pensando nisso, as plataformas utilizam de diversas estratégias para manter o interesse dos usuários. O Enemquiz, por exemplo, utiliza mensagem de incentivo ao aluno, que quando se sai mal, recebe recados como “Não desista, dê mais uma estudada”.

A Adaptativa utiliza técnicas de gameficação, que nada mais são do que utilizar os princípios dos jogos que fazem o usuário viciar em jogar, como estipular objetivos fáceis de ser alcançados, mas não óbvios ao aluno, dar pontos quando ele acerta, indicar seu progresso em uma barra, o que incita o estudante a completá-la. 

Utilize bem a plataforma

Organização e programação são fundamentais. O professor Zambelli dá a dica de estipular metas, de um tempo de 40 minutos, por exemplo, assistindo a duas aulas em vídeo, finalizando com 20 minutos de exercícios. O aluno começa com todas as disciplinas e depois foca no que tem mais dificuldade, conforma o programa foi determinando seus pontos fracos.

Também é importante desconectar do restante do mundo virtual. Nada de redes sociais no momento de estudo. “Esse é um momento individual, o social não cabe aqui. A hiperconectividade também prejudica a disciplina”, alerta o professor.

Descubra as plataformas em língua portuguesa que podem auxiliar nos estudos para o Enem 2014, que acontecerá nos dias 8 e 9 de novembro:

Enem Quiz

O Enemquiz foi lançado em junho deste ano e já conta com cerca de 170 mil usuários cadastrados, na web e no aplicativo para smartphone. Por enquanto, a plataforma é gratuita, mas passará a ter uma mensalidade de R$ 29 mensais a partir do final do ano, quando novos materiais serão disponibilizados aos usuários, estima o coordenador do projeto, o professor de matemática Edgar Abreu.

Na plataforma, o aluno encontra vídeos de 10 minutos, com explicações dos conteúdos que caem no Enem. A cada aula assistida, um simulado é gerado com questões relacionadas. São cerca de 3 mil questões, envolvendo todas as de edições anteriores do Enem e questões próprias da plataforma, criadas por uma equipe de 15 professores, todas resolvidas em vídeo. Portanto, se o aluno errou a questão, pode assistir ao vídeo no mesmo momento e descobrir qual foi o erro.

Além disso, para questões que envolvem mais de uma disciplina, o programa disponibiliza vídeos em um canal no YouTube com as resoluções comentadas pelos professores de todos os conteúdos, relacionando uns com os outros. A plataforma não possibilita a interação direta com o professor.

Adaptativa

Será gratuita pelos próximos 3 meses e, após, terá um custo estimado de R$ 1 mensal. Também oferece vídeos com explicações de conteúdos e listas de exercícios em um plano de estudos, que são uma combinação das provas do Enem, cerca de cinco anos dos vestibulares da Fuvest, Unicamp e Unesp e 5 mil exercícios de fixação desenvolvidos pelos professores do programa. Todos eles estão resolvidos em vídeo.

As questões resolvidas pelos estudantes são classificadas por assunto, nível de dificuldade e pelas competências do Enem. Ao finalizar um exercício, o aluno recebe a  porcentagem de seus acertos de questão e das habilidades do Enem e pode comparar com a média dos outros usuários. Desde seu lançamento em 2012, a Adaptativa já conta com cerca de 150 mil usuários. 

Segundo dados da plataforma, entre os conteúdos que mais são cobrados no Enem, estão história do Brasil independente e história contemporânea; globalização da economia, comunicações e transportes em geografia; ecologia e fisiologia humana em biologia; funções orgânicas e inorgânicas em química; visualização de dados em matemática; cinemática e energia em física e interpretação de textos e literatura pós-moderna em português. Os assuntos que os alunos mais erram nos exercícios envolvem questões interdisciplinares, que combinam conteúdos de múltiplas disciplinas e questões teóricas de ciências naturais, que requeiram a aplicação prática da teoria.

Khan Academy

Focada em matemática, a plataforma surgiu em 2008, criada pelo norte-americano Salman Khan, que passou a postar vídeos no YouTube para ajudar uma prima que tinha dificuldades na disciplina. No Brasil, a fundação Lemann traduziu a plataforma e as aulas em vídeos para o português. O programa é gratuito e inclui outros conteúdos, como ciências, história da arte, economia e ciências médicas, mas não são ensinadas de forma adaptativa como a matemática.

São mais de 800 conteúdos, que vão desde os da educação básica até conteúdos avançados de engenharia, englobando mais de 300 mil exercícios. Quando o aluno utiliza a plataforma pela primeira vez, é feito um teste com oito questões para que o software conheça quem é o usuário e determine quais conhecimentos ele já sabe. A partir disso, ele já sugere uma série de conteúdos. É possível cadastrar outras pessoas para visualizar os resultados de um estudante - professores ou tutores que auxiliem o aluno nos estudos.

Geekie Lab

Para quem está pensando em se preparar para o Enem ainda este ano, a plataforma estará disponível sem custos até o dia 7 de novembro. Nela, o aluno encontra simulados nas quatro áreas do exame. Os professores também podem acompanhar os alunos e sugerir conteúdos e atividades. O aluno realiza simulados baseados na Teoria de Resposta ao Item (TRI), a mesma utilizada na correção do Enem, o que faz a nota se aproximar muito do desempenho na prova real. 

A plataforma foi desenvolvida em 2011 pela Geekie Games e faz parte do Banco de Propostas Inovadoras em Avaliação da Educação Básica do Inep. Ficou entre as sete melhores start-ups do mundo, e melhor na América Latina e no Brasil, no prêmio IBM SmartCamp 2013.

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