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Ensinar cultura afro-brasileira é um desafio, diz diretora

Segundo a diretora Maria Luciete Santos, falta autoestima aos jovens, além da valorização da própria história

5 ago 2015 - 12h03
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Na região onde existiu o maior e mais duradouro quilombo das Américas, o Quilombo dos Palmares, professores têm o desafio de ensinar a história afro-brasileira nas escolas. Se no final do século XVI, o local era de luta e resistência contra a escravidão, falta hoje autoestima aos jovens e a valorização da própria história, segundo a diretora da escola municipal Pedro Pereira da Silva, Maria Luciete Santos. Ela participou, nessa terça-feira (4), da Reunião Ordinária Itinerante do Conselho Nacional de Educação (CNE), que vai até essa quinta-feira (6), em Maceió.

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Comunidade recebeu simbolicamente duas normas do CNE, aprovadas e homologadas pelo Ministério da Educação (MEC)
Comunidade recebeu simbolicamente duas normas do CNE, aprovadas e homologadas pelo Ministério da Educação (MEC)
Foto: iStock

"Às vezes, o preconceito vem deles mesmos. Eles não se reconhecem, não veem o próprio potencial. Eles não tinham ideia do que era a história deles, do que foi a Serra da Barriga", diz. A escola fica na comunidade quilombola do Muquém, em União dos Palmares, Alagoas. Próximo, está o Parque Memorial Quilombo dos Palmares, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), no alto da Serra.

A comunidade recebeu simbolicamente duas normas do CNE, aprovadas e homologadas pelo Ministério da Educação (MEC). A primeira, de 2004, trata da educação nas relações étnico-raciais e do ensino de história e cultura afro-brasileira e africana. A segunda trata da educação quilombola e é de 2012.

Em 2003, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva promulgou a lei que estabelece que o ensino da história afro-brasileira seja obrigatório no currículo escolar.

Mesmo assim, ainda há dificuldades. Segundo a diretora, a comunidade tem mais de 140 famílias. Um dos destaques é a fabricação de artefatos de barro, tradição transmitida pelos ancestrais africanos. "As crianças até o 5º ano gostam de pegar no barro, mas do 7º ao 9º ano, eles têm vergonha".

A diretora assumiu em 2013 e, desde então, trabalha no resgate da autoestima. A comunidade também está envolvida, e algumas artesãs trabalham para despertar o interesse dos jovens.

A escola recebeu também, no ano passado, formação para a educação quilombola e para o ensino da história e cultura afro-brasileira pela Universidade Federal de Alagoas. Luciete aponta ainda que, quando os estudantes saem da comunidade no Ensino Médio para estudar na cidade, sofrem muito preconceito, o que evidencia a carência desse ensino também nas demais escolas do município.

"Não tem material ou livro educativo, não está na grade oficialmente", rebate o prefeito de União dos Palmares, município de Alagoas onde está localizada a Serra da Barriga, Carlos Alberto Baía (PSD). Ele ressalta que a questão é tratada nas escolas e que o município tem um grupo voltado para a discussão desse ensino, mas que a falta de material dificulta a aplicação da lei.

O secretário de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão do Ministério da Educação, Paulo Nacif, diz que a pasta intensificou, nos últimos anos, a produção de materiais que contêm a história e a cultura afro-brasileira. Além disso, ele diz que o MEC incentiva cursos de formação continuada dos professores e que apoia universidades para que ministrem esses cursos. "Temos que atuar mais perto de estados e municípios para que [a lei] tenha a capilaridade que queremos", destaca. 

"Ainda temos desafios e a implementação é desigual em estados e municípios. Mas penso que os passos foram dados e simbolizam uma mudança", disse a ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República, Nilma Lino Gomes.

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Agência Brasil Agência Brasil
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