Ensino do holocausto amplia discussão sobre direitos humanos em Porto Alegre
Destruição sistemática da população judaica europeia, o holocausto não diz respeito apenas a um grupo da sociedade. Na rede municipal de Porto Alegre, o tema ganhou um estímulo para ser tratado em sala de aula de forma a estimular discussões sobre outras discriminações e situações cotidianas que envolvem direitos humanos. Os professores Nilton Mullet Pereira e Ilton Gitz assinam a obra Ensinando Sobre o Holocausto na Escola (Penso Editora, 2014), livro pedagógico que traz informações e propostas para professores dos ensinos fundamental e médio lidarem com o assunto nas escolas. O holocausto é tema obrigatório na rede municipal de Porto Alegre desde 2010, com o projeto de lei Nº 10.965 do vereador Valter Nagelstein. Iniciativa inédita no País até então, a lei segue em vigor na cidade e foi a motivação para a criação do livro.
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De acordo com a prefeitura de Porto Alegre, neste ano, a obra irá circular nas 47 escolas de ensino fundamental e duas de ensino médio da rede municipal, após a doação de 200 exemplares da obra pelos autores, pela Federação Israelita do Rio Grande do Sul (Firs) e pela editora Grupo A. Não apenas professores de história, como também de filosofia e geografia, além de assessorias pedagógicas, terão acesso ao conteúdo da obra, de acordo com a assessora das Relações Étnicas, Ensino do Holocausto e Direitos da Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre, Márcia Sigal. Para ela, o livro dá mais subsídios à obrigatoriedade do ensino.
Pensando a realidade do aluno
A relevância do tema vai além de seu caráter histórico. Para os autores, garantir o ensino do holocausto é um importante passo para discutir outras questões que envolvam direitos humanos, como racismo, machismo e homofobia. “É preciso tentar entender a importância do tema dentro da realidade em que vivemos, contextualizá-lo para algo mais atual. Pensando nisso, eu e o Nilton paramos para pensar em formas de ajudar o professor a ensinar essas questões e quais aspectos poderiam ser usados em sala de aula”, afirma Gitz, também professor da área de Cultura Judaica do Colégio Israelita Brasileiro e Especialista em Educação Judaica pela Universidade Hebraica de Jerusalém. “O ensino do holocausto pode armar novas gerações para entender outros aspectos e dar conta de outras questões da vida prática do tempo atual”, reforça Nilton Pereira, professor da área de Ensino de História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Além de conceituar termos como “homofobia”, “sexista” e “antissemita” em quadros destacados ao longo da obra, o livro também apresenta, ao final de cada capítulo, propostas de atividades para o professor realizar em sala de aula. Uma delas, no primeiro, sugere que os estudantes olhem para a sala de aula, para a escola e sua vizinhança (bairro, rua) e identifiquem práticas discriminatórias, relatando a pesquisa em um texto. No final da obra, também são encontradas dicas de filmes para assistir com os alunos e uma bibliografia aprofundada sobre o holocausto. “A grande questão desse tema é permitir que o aluno tenha sensações com o conteúdo estudado. Isso implica que ele se surpreenda, reconheça a imagem que viu. O fragmento de filme ou o texto que leu devem ser elementos que o levem para outro lugar, de estranhamento e surpresa, que permita a aprendizagem”.
Função pedagógica
Para a professora de história e diretora do colégio particular Leonardo Da Vinci, de Porto Alegre, Márcia Andrea Schimidt, é obrigação do historiador e do cidadão trabalhar com o holocausto em sala de aula. Ela concorda que o tema permite outras discussões acerca do preconceito. “O ensino do holocausto é uma intervenção pedagógica muito importante, porque podemos trazer conteúdos transversais a partir do conteúdo da história, trabalhando com direitos humanos e preconceito.”