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Entenda por que o 'palavrão' usado por Milei em livro na Argentina é menos agressivo que no Brasil

Presidente adotou termo com frequência em seu slogan; em português, significado é semelhante

11 dez 2023 - 15h55
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Javier Milei durante cerimônia de posse da presidência da Argentina no dia 10 de dezembro de 2023
Javier Milei durante cerimônia de posse da presidência da Argentina no dia 10 de dezembro de 2023
Foto: REUTERS/Agustin Marcarian

O uso da expressão "carajo" em espanhol, especialmente pelo presidente eleito Javier Milei, tem gerado certa perplexidade no Brasil. Milei assinou o Livro do Congresso com seu slogan de campanha “Viva la libertad, carajo” ("viva a liberdade, c***", em português), durante a posse no domingo, 10.

Embora as palavras tenham o mesmo significado nas suas línguas, a diferença está no peso que cada uma leva, de acordo com o contexto. Um substituto para o palavrão, mais comum no Brasil, poderia ser a expressão “caramba”, por exemplo.

Especialista em linguística, o professor da USP e doutor Adrián Pablo Franjul explica a natureza e o contexto dessa expressão que ganhou destaque na cena política argentina atual.

Segundo ele, o termo usado por Milei não é estranho ao universo do espanhol, mas sua recepção pode variar conforme o contexto sociocultural. Franjul ressalta que, no Brasil, existe uma palavra similar, mas as diferenças nas línguas e nas práticas linguísticas contribuem para a estranheza causada pela expressão em território brasileiro.

“Aqui no Brasil, existe a palavra c***, não carajo, é outra palavra, que apesar de que tenha a mesma origem, inclusive que também possam se referir ao órgão sexual masculino, como são duas línguas diferentes e funcionam de maneira diferente. Mas aqui também tem uma questão que não é da língua, que é de como uma sociedade se relaciona com as práticas linguísticas discursivas”, argumenta o especialista em linguística.

Assinatura de Milei no Livro do Congresso
Assinatura de Milei no Livro do Congresso
Foto: Reprodução

O professor aponta para as peculiaridades da sociedade brasileira, marcada por uma “obsessão normativa” em relação à linguagem, em que o debate muitas vezes se desvia para a correção linguística em detrimento dos temas centrais. Ele destaca que a sociedade argentina, assim como a maioria das hispano-americanas, possui uma flexibilidade maior na aceitação de formas linguísticas em diferentes contextos.

“Então, carajo é uma palavra que, na Argentina, pode funcionar de muitas maneiras e que, para determinado contexto, na Argentina também é muito inadequada”, considera.

Franjul explica que o 'palavrão' não é apenas uma palavra, mas pode funcionar como um marcador discursivo quando integrada a expressões como "viva la libertad, carajo", usada por Milei em seu slogan de campanha.

O professor ressalta que os marcadores discursivos são elementos que não apenas transmitem informação, mas adicionam uma nuance à atitude do falante e ao vínculo estabelecido com o interlocutor: "Chamamos de marcadores discursivos, na análise do discurso, unidades que podem ser palavras, ou conjuntos de palavras, que quando são usadas, por quem fala ou por quem escreve, não é para acrescentar ou fazer parte da informação, senão para acrescentar a atitude de quem fala, sobre o vínculo que ele estabelece com o interlocutor."

“A palavra ‘carajo’, nesse tipo de expressão, como ‘viva la libertad, carajo’, ela funciona assim, dentro dessa interjeição, porque ‘viva la libertad’ é uma interjeição, no sentido de algo que é para ser gritado. Então, colocar ‘carajo’ depois de uma interjeição é um marcador discursivo para dar ênfase, como dizer ‘viva la libertad, e eu digo isso de novo’”, completa. 

Uso da palavra na política

A expressão em contextos como "viva la libertad, carajo" possui uma longa tradição na Argentina, associada a manifestações de entusiasmo e encorajamento. Franjul destaca que, embora a flexibilidade exista, a escolha de utilizar essa expressão deve ser cuidadosa, dependendo do contexto e da relação entre os interlocutores.

Quanto à postura de Javier Milei, o professor sugere que o uso do palavrão pelo político pode ser estrategicamente pensado para criar uma identificação com seus eleitores. Milei parece se posicionar como alguém distante da política tradicional, adotando uma abordagem mais informal e desafiadora, na opinião do especialista.

Ao analisar a utilização de expressões como "vamos, carajo" em discursos políticos, Franjul destaca que, na Argentina, isso é percebido como uma forma de motivar e envolver as pessoas. Ele compara essa prática a situações como reuniões de empresas ou em clubes de futebol, onde líderes podem utilizar expressões similares para incentivar a equipe, por exemplo.

Fonte: Redação Terra
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