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Escolas confessionais devem trabalhar religião sem doutrinar

14 jul 2013 - 07h51
(atualizado às 07h51)
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Hora da meditação: alunos do Sinodal param por alguns minutos para momentos de reflexão
Hora da meditação: alunos do Sinodal param por alguns minutos para momentos de reflexão
Foto: Igor Prudêncio / Divulgação

Estudante do 3º ano do ensino médio, Pedro Lewgoy Martini, 17 anos, é de uma família com influência judaica e católica, mas que não é adepta a nenhuma das religiões. Desde o maternal, o menino estuda no Colégio Sinodal, instituição evangélica-luterana de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul. Hoje, se diz ateu, mas nunca se incomodou com a forma como a religião é tratada na escola. "O único momento em que eles falam da religião é na meditação, quando o pastor geralmente conta uma história bíblica ou alguma coisa relacionada a Jesus. Mas o objetivo, eu acho, é fazer uma reflexão usando estas histórias como exemplo", conta. O garoto confirma que nem mesmo nas aulas de religião a doutrina é imposta. "Sempre tratam temas como bioética e coisas mais reflexivas", diz.

O quadro descrito por Pedro condiz com o que o Ministério da Educação espera de instituições confessionais, apesar da autonomia que tais escolas têm para dar mais ênfase à sua religião no projeto pedagógico. Em maio, a demissão de um professor de História do colégio particular La Salle Pão dos Pobres, em Porto Alegre (RS), trouxe à tona a discussão sobre os limites entre o ensino religião e a doutrinação. Segundo Giovanni Biazetto, ele teria sofrido perseguição religiosa na escola.

As escolas confessionais entrevistadas pelo Terra afirmaram priorizar a transmissão de valores como respeito, solidariedade e ética, independentemente de suas doutrinas. Ampliar o repertório, discutir a diversidade, debater outras crenças e culturas, além de possibilitar aos estudantes que conheçam outras religiões e façam suas próprias escolhas no âmbito da fé, fazem parte das diretrizes e atividades de seus modelos. As instituições também afirmaram que não exigem de alunos, professores ou funcionários que sejam adeptos da religião da escola.

A escola de Pedro foi fundada pelos imigrantes alemães, que trouxeram a religião evangélica-luterana para o Brasil. Coordenadora pedagógica dos anos finais e ensino médio do Sinodal, Merlinde Piening-Kohl explica que a escola acredita nestes princípios e valores cristãos, pregados por Lutero, e que procura trabalhá-los em todos os âmbitos nas atividades escolares: desde as normas de convivência até as aulas de ensino religioso, presentes no currículo do 4º ao 9º ano do ensino fundamental.

Antes do 4º e depois do 9º ano, os alunos têm meditações semanais - pequenos momentos de reflexão sobre o ser humano, conduzidos pelo pastor da escola, com duração de 15 a 20 minutos - nas quais a participação é obrigatória, faz parte do horário de aula. No ensino médio, segundo a coordenadora pedagógica, esse papel é contemplado nas aulas de filosofia e sociologia. Merlinde destaca que a intenção não é doutrinar ninguém. "A Bíblia é nossa referência, mas temos um caráter interconfessional, que é o ensino religioso do ponto de vista cristão que trabalha mais os valores do que o aspecto doutrinário", afirma. Disciplinas como filosofia, sociologia e história - que geralmente questionam, quando não discordam, das pregações religiosas - não sofrem restrições em seus conteúdos. Para ela, o aluno precisa ter conhecimento para que possa se posicionar e ser crítico perante aos fatos. "Queremos trabalhar os valores que Jesus Cristo pregou, mas não podemos evitar fornecer aos alunos os conhecimentos", diz.

De acordo com a coordenadora, o Sinodal oferece abertura para o diálogo sobre religiões e preza pelo respeito. "Não temos restrição nem a professores, nem a funcionários, muito menos a alunos que sejam de outras religiões. Todos são bem-vindos, desde que seja um ser que respeite o outro e siga as regras de convivência, aplicadas de forma igual a todos", diz.

Na rede de colégios do grupo Marista, que atua no Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Mato Grosso do Sul, na cidade de Goiânia e no Distrito Federal, o ensino religioso é um componente curricular tratado cientificamente. De acordo com o diretor educacional da rede, Flávio Sandi, trata-se de um campo do conhecimento das ciências humanas que tem objeto próprio, métodos de pesquisa, conceitos, conteúdos. A religião católica é tratada com exclusividade na catequese, oferecida extraclasse. Sandi destaca que a escola zela pela "promoção integral do ser humano na sua dimensão espiritual, pessoal, acadêmica e social".

Hebraico e calendário judaico

É aos pais que cabe a decisão de matricular os filhos numa escola. A lei proíbe apenas o proselitismo. Atividades culturais e tradições seguidas por escolas confessionais e muitas vezes, diferentes do universo familiar de alguns alunos, podem fazer parte da rotina escolar. De acordo com o diretor do colégio judaico Renascença, João Carlos Martins, a escola paulista amplia o repertório dos alunos, possibilitando a discussão e escolha da própria religião. "Trabalhamos com a questão da diversidade dentro da cultura judaica. Desde pequeno a gente vai construindo a identidade judaica, comparando com outras realidades os costumes e tradições que estão arraigados nesta cultura", afirma. Um exemplo é a língua: os alunos do Renascença aprendem hebraico.

A escola segue o calendário judaico. Todas as celebrações e festas da cultura - como a Pessach, a Páscoa judaica, e o Rosh Hashaná, Ano Novo judeu - fazem parte das atividades da escola, e não há aulas aos sábados, dia de descanso para os judeus, chamado Shabbat. Os alunos também têm aula de ensino religioso, de valores e de história judaica - três disciplinas separadas, além da aula de história comum a todas as escolas.

Apesar de frisar bastante a cultura judaica no projeto pedagógico, a escola garante que não discrimina alunos nem funcionários de outras religiões. Martins conta que a religião não é questionada na hora da matrícula dos estudantes. Segundo ele, vários alunos não são judeus, assim como a maioria dos professores. "Funcionários judeus na escola não chegam a 50% dos cargos. Os professores de hebraico e história hebraica são, sim, judeus - muitos vindos de Israel. Mas nas outras áreas, a grande maioria não é judia. Inclusive eu", conta o diretor.

Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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