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Estratégia de gestão na escola pode melhorar desempenho dos alunos

Análise de um programa de gestão implantado em 200 escolas públicas de SP aponta para a elevação do aprendizado do aluno em até 40%

13 jun 2013 - 08h52
(atualizado às 08h55)
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Estudo feito por pesquisadora da FGV aponta que as escolas que têm foco na gestão apresentam melhor desempenho
Estudo feito por pesquisadora da FGV aponta que as escolas que têm foco na gestão apresentam melhor desempenho
Foto: Getty Images

Gerenciar escolas como se fossem empresas pode parecer controverso, mas há especialistas que defendem a alternativa como forma de aumentar o desempenho dos alunos. Um trabalho desenvolvido por Priscilla Albuquerque Tavares, pesquisadora na área de economia da educação da Fundação Getulio Vargas (FGV), constatou que a inclusão de práticas gerenciais nas instituições de ensino pode ter impactos positivos no desempenho dos alunos. A pesquisadora defende que a escola não pode ser considerada diferente de outras organizações, por isso precisa estabelecer metas e estratégias - ideia que não agrada a todos os estudiosos da área.

A pesquisa analisou um programa piloto de gestão implantado em 200 escolas públicas estaduais de São Paulo, que incluiu práticas como capacitação administrativa aos gestores, elaboração de diagnósticos, monitoramento de performance e fixação de objetivos para indicadores relacionados ao aprendizado. Os resultados mostraram um aumento de seis pontos na escala de proficiência dos estudantes, o que equivale a elevar o aprendizado típico do aluno médio em quase 40%.

Entre os fatores associados à qualidade da gestão escolar está a formação acadêmica dos diretores, que, em geral, é somente pedagógica, e não administrativa. "Não quero dizer que um pedagogo não tenha condição de gerir uma instituição, porque ele conhece educação, e isso é essencial. O problema é não ter perfil gerencial", esclarece Priscilla.  A pesquisadora argumenta que, quando isso acontece, a instituição corre o risco de não se tornar objetiva, ou seja, pode estabelecer uma meta, mas não definir como cumpri-la. 

Para Priscilla, um bom gestor é aquele que conhece os indicadores da sua escola e traça estratégias para melhorá-los. "A impressão que tenho é que há diretores que não sabem avaliar os principais problemas e não conhecem a real situação de suas instituições", afirma. Ela menciona o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), por exemplo, que oferece indicadores e metas que os gestores nem sempre têm clareza de como atingir.

A pesquisadora pondera, contudo, que uma das principais queixas dos diretores consiste em que os secretários de Educação, muitas vezes, estabelecem projetos e impõem objetivos, mas não apontam caminhos para a resolução dos problemas. A mudança de governos e, consequentemente, de gestores, também pode dificultar a manutenção de projetos em longo prazo. Além disso, as metas gerais impostas pelo órgão podem não se adequar totalmente ao cenário encontrado em uma escola específica. 

Contraponto

Mas tratar diretores de escolas como administradores de empresas não é a solução indicada por todos os estudiosos. Pesquisador do Núcleo de Políticas Educacionais e coordenador do curso de pedagogia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Ângelo de Souza se opõe a essa visão e acredita que a face administrativa do gestor escolar é a de menor importância entre suas funções. "A administração de uma escola não é igual a de uma empresa, é uma ação de natureza pedagógica. A decisão do gestor não precisa, necessariamente, se basear numa eficácia de acordo com técnicas administrativas, mas sim em interesses do público ao qual atende", enfatiza.

O professor discorda, ainda, que um gestor escolar precise, necessariamente, ter conhecimento amplo em administração. "O que se espera de um bom diretor não é técnica administrativa, mas sim que seja alguém equilibrado, de bom senso, com boa formação pedagógica. Essas são características de natureza ético-política", afirma, enfatizando que a técnica básica para gestão pode ser aprendida com algum estudo e dedicação. Priscilla, por outro lado, indica que a situação poderia ser corrigida com a inclusão de conteúdos administrativos nas faculdades de pedagogia, ou com cursos específicos promovidos pelas secretarias de Educação.

Souza acrescenta que os casos de gestão mais bem-sucedidos são aqueles em que o pedagogo possui perfil de liderança, mas cria um clima organizacional acolhedor, aberto ao diálogo e à participação de alunos, professores e comunidade. "Escolas com gestão democrática têm alunos com melhores resultados", avalia.  

Investimento ou gestão?

O economista e ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega acredita que o mau desempenho brasileiro em rankings como o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês), que avalia os índices educacionais de 65 países - em 2009, última edição divulgada, o Brasil ficou em 53º lugar - não se devem a baixos investimentos no setor, mas sim à má gerência dos recursos obtidos. Para o pesquisador Souza, por outro lado, o País padece dos dois problemas: falta de investimentos e má gestão de recursos na educação. 

Nóbrega rebate com um preceito econômico: os bancos não emprestam dinheiro a quem já está endividado, ou seja, para ele, não se deve aumentar os recursos financeiros em estruturas que não estão respondendo. O economista acredita que sejam necessárias metas objetivas dentro das escolas, que levem em conta desempenho e aprovação de alunos e relacionem isso com a remuneração do professor. 

"O diretor é peça fundamental para uma escola, tanto para o funcionamento da unidade como no que diz respeito ao aproveitamento dos alunos, influenciando a condução dos trabalhos pedagógicos. Ele é um líder, não pode ser qualquer um, escolhido por ser amigo de político", defende Nóbrega.

Infográfico: Ranking Enem

Veja quais são e onde estão as 50 melhores e as 50 piores escolas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)

Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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