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Estudantes evitam opiniões polêmicas na Redação do Enem por medo de perder pontos

Candidatos preferiram fugir de questões políticas na elaboração da dissertação; tema foi democratização do acesso ao cinema no Brasil

3 nov 2019 - 22h52
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RIO - Estudantes do Rio de Janeiro que fizeram a primeira das duas provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) disseram ao Estado que tomaram cuidado para não emitir opiniões polêmicas na Redação. O tema foi a democratização do acesso ao cinema no Brasil.

"Pensei em abordar a Lei Rouanet, mas desisti. A gente não sabe a posição política de quem corrige a prova, então é melhor não entrar em aspectos polêmicos", afirmou Matheus Coelho, de 22 anos, que fez a prova na Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio), na Gávea (zona sul).

O estudante fez o Enem pelo quarto ano consecutivo e considerou que a prova deste domingo foi "mais direta". "Eram perguntas mais objetivas, que não davam margem a reflexões políticas", avaliou Coelho, cuja família é do interior de Pernambuco.

O jovem disse ter experiência pessoal sobre falta de acesso a cinema. Sua família mora em Exu-PE e para ir ao cinema precisa viajar 84 quilômetros até Juazeiro do Norte-CE.

"Então é claro que ainda falta muito para democratizar o acesso a essa arte", avalia. "Mas tomei cuidado com a linha de pensamento na Redação, porque não quero correr o risco de perder pontos". Coelho já cursa Enfermagem numa universidade particular e, com o resultado do Enem, pode ganhar bolsa de estudos.

Para Vitória Araújo, que também fez o Enem na PUC-Rio e já havia se submetido ao exame no ano passado, a prova deste ano foi mais difícil do que a deste ano. "No ano passado teve mais militância na prova, principalmente nas questões de História", avaliou.

A estudante não gostou do tema da redação, e tomou cuidado para não expressar uma posição polêmica. "No ano passado, eu tomei posição na redação e perdi pontos por isso. Eu tomei um lado, e o responsável pela correção considerou que não era um texto dissertativo-argumentativo. Hoje (domingo) tomei mais cuidado", afirmou. "Mas acho que mesmo assim minha redação foi bem fraca."

Segundo Vitória, os professores apostavam em outros temas, e a democratização do acesso ao cinema não estava em alta. "Os textos de apoio deram apenas dados básicos, que não serviram para nada", avaliou a estudante, que pretende cursar Letras.

O estudante Matheus Gonçalves, de 22 anos, fez o Enem pela terceira vez e também tomou cuidado para não expor sua opinião quanto a temas polêmicos. "Fiz um rascunho da redação, mas parei para analisar e achei que estava caindo muito para questões políticas, que são polêmicas. Então reescrevi, porque não quero correr o risco de perder pontos", afirmou.

Para Gonçalves, os textos de apoio praticamente só retratavam dados positivos sobre o acesso ao cinema.

"Eu não acho que as coisas estejam boas assim como esses textos levavam a concluir, mas também não poderia fazer uma redação só com críticas. Então tentei sugerir soluções também", afirmou o estudante. Ele pretende cursar Jornalismo ou Publicidade.

Estadão
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