Estudantes relatam desconforto em primeiro dia de Enem
Salas com capacidade máxima e falta de aferição estão entre queixas; na Bahia, somente na rede estadual, são 67 mil inscritos
Nem mesmo o tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que abordou o "estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira", neste domingo, 17, concentrou tanto a atenção dos candidatos, em Salvador, como os cuidados para evitar uma eventual contaminação pela covid-19. Assim foi o primeiro dia de aplicação das provas do exame, que deve ter a segunda parte realizada no próximo domingo, 24.
O conteúdo da prova, segundo a bancária Marta Seixas, 45 anos, não chegou a preocupar. "Eu achei o tema da redação bem razoável e atual. Temos visto muito o discurso do capacitismo tomar a internet nos últimos tempos, gostei de falar sobre isso. Agora, fiquei muito desconcentrada em parte do tempo porque tinha uma pessoa que tossia em tempos espaçados e isso me causou desconforto", explicou Marta, que tenta alcançar média para ingressar no curso de Psicologia.
Ainda segundo ela, a sala ter sido totalmente ocupada se tornou uma preocupação a mais, mesmo com todos de máscara. "É complicado porque não se sabe se é covid-19, ou é uma outra coisa. Mas eu consegui fazer uma boa prova, creio eu, me preparei muito", avalia a bancária, que deixou o local por volta das 18h.
Álcool em gel nas mãos de 20 em 20 minutos foi a saída que a estudante Paula Brito, 19, encontrou para se sentir mais segura. Optou por não se alimentar durante as cinco horas, em que permaneceu em sala, também como estratégia de prevenção, afirma. "A prova tava fácil, difícil foi aguentar cinco horas com fome, porque preferi não comer ali dentro. Aliás, evitava até me tocar", contou, enquanto aguardava uma amiga terminar o exame. Segundo a jovem, na sala em que fez a prova não havia alternância entre as cadeiras. "Mas até que não era muito grande, então não me incomodei muito com isso. Só estava mesmo com medo de que o ambiente estivesse contaminado e nem penso em mim, mas em minha avó que mora em minha casa e é super do grupo de risco porque é diabética e hipertensa. Seria um terror".
Situação parecida aconteceu com o auxiliar de cartório Rodrigo Santos, 24. Ele relatou que fez a prova em uma sala completamente cheia, sem ventilação ou aferição de temperatura. "A experiência, para mim, foi terrível. Nem sei se venho de novo o próximo domingo. Um descaso, sobretudo nessa situação de pandemia. Antes, cancelassem até todos estarmos vacinados", comentou ele, que relatou pessoas tossindo durante a prova.
Já as amigas Sara Guedes, 19, e Franciele Silva, 16, comentaram que embora o ambiente fizesse muito calor, houve muita abstenção, o que fez com que a sala não lotasse. "Eles distribuíram o material em toda sala, mas muita gente não apareceu. Tirando a máscara, o que me incomodou foi o calor, porque até a prova estava fácil", reforçaram as amigas, que fizeram o exame pela primeira vez.